Luís Franco-Bastos

“Estado Puro” #16. Seleção japonesa: é um 11 titular ou um menu de degustação?

“Estado Puro” #16. Seleção japonesa: é um 11 titular ou um menu de degustação?
BENJAMIN CREMEL

Luís Franco-Bastos nasceu em Lisboa, nomeadamente num hospital privado. Licenciou-se em Ciências da Comunicação na Universidade Nova de Lisboa e a média com que concluiu o curso é, no seu entender, um assunto do foro privado. É humorista e proprietário de imóveis, mas sobretudo humorista. Foi contratado só para esta crónica e, se alguém do Expresso tiver dois dedos de testa, não se seguirá mais nenhuma colaboração

Hoje é um dia calmo para os portugueses, e assim será até sábado quando defrontarmos o Uruguai. Já eu, que tendo a ser um indivíduo peculiar, estou uma pilha de nervos. Isto porque hoje é dia de grandes decisões para a minha segunda equipa: falo do Japão.

Sou um ávido consumidor, não só da cultura, mas também da gastronomia nipónica e acho que é por isso que gosto tanto de apoiar a Seleção japonesa – sempre que olho para o 11 titular, não consigo deixar de sentir que estou a ler um menu de degustação. Na baliza, Temaki. Defesa com Uramaki, Hosomaki, Tempura e Gyoza. Meio-campo formado por Wagyu, Nigiri, Wasabi e Sashimi. Na frente, Soja e Gengibre.

Outro dos motivos para apoiar futebolisticamente o Japão é a fortíssima presença que ocupa no meu imaginário a lendária série de desenhos animados “Captain Tsubasa”, também conhecida em Portugal como “Super Campeones” por causa da versão espanhola que passava no Canal Panda. Tsubasa, nesta versão, dava pelo nome de Oliver Atton e era um jovem prodígio do futebol japonês, acompanhado pelos seus colegas de equipa, Benji Price, Tom Baker, Mark Lenders, entre outros.

É interessante ver a facilidade com que papámos o que nos foi oferecido na altura, e analisá-lo agora à distância: um bando de miúdos japoneses com nomes ingleses a falar espanhol, disputando jogos de futebol que duravam aproximadamente uma semana e meia, em relvados com 14 km de comprimento, com gémeos voadores que davam mortais 5 metros acima do solo e uma bola que se transformava em fogo quando rematada. Digamos que é preciso perceber absolutamente, vá, NADA de futebol para levar a sério esta série. Não obstante ser profundamente incongruente, é absolutamente brilhante e não mudava nada nela, se pudesse.

Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: tribuna@expresso.impresa.pt