Toda a gente adora um underdog. Principalmente se esse underdog tiver inventado o sushi e jogar um futebol organizado, posicional, geométrico e capaz de produzir golos de belo efeito. Não sei que espécie de treino Samurai tem Takashi Inui, mas se uma iguana radioactiva der à costa perto de Osaka e desatar a cuspir fogo sobre as populações, ele pode bem ser a nossa última esperança.
Porém, o underdog tem esta característica inerente aos underdogs que é, geralmente, não ter aquela pontinha de discernimento para se comportar como um favorito e ser mais matreiro. Com o resultado em 2-2 e a segundos do fim, o Japão achou que era uma excelente ideia atacar com 11 num canto.
Que se lixe, subimos todos, jogadores de campo, guarda-redes também, venham os suplentes, o ministro dos negócios estrangeiros, o CEO da Mitsubishi, Songoku, todos. Ah, 3-2 em contra-ataque. Mas este ataque massivo descabido numa bola parada onde a equipa só tem tudo a perder não é de estranhar, já que até existe uma palavra japonesa especificamente para isto: kamikaze.
Do outro lado, a Super-Bélgica chamou-lhe um figo. Ainda não me habituei a este novo mundo em que vivemos, onde a Bélgica exporta brilhantemente outros bens que não batatas fritas, cerveja e livros do Tintim.
E assim a Humanidade assistiu a um dos melhores jogos deste Mundial. A Humanidade excepto eu e alguns vizinhos. Assisti a 97%, uma vez que a dada altura faltou a luz na minha rua inteira. Perdi tão somente o último golo, que consumou a reviravolta.
O mundo assistiu em 4K enquanto eu, à luz duma vela, tentava encontrar um par de boxers lavadas. Fica aqui o anúncio público de que tenciono processar a EDP por danos emocionais. O que me retiraram jamais poderei recuperar.
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