Escrevo esta crónica acabado de chegar do primeiro dia do NOS Alive e ainda não estou em mim. Nada me podia preparar para isto. Estou chocado, esmagado, consternado: absolutamente nenhuma referência, visual ou sonora, em todo o festival, acerca do facto de ainda estarmos em pleno Mundial. Ou seja, acharam que tinha cabimento o festival servir apenas para o público ver concertos e não ter, por exemplo, um ecrã gigante para se ver o noticiário da Sport TV das 22h e saber se Modric dormiu bem, se Mbappé comeu o creme de legumes até ao fim ou se Kalinic já foi encontrado sem vida na banheira de sua casa.
Uma profunda falta de respeito por este mês sagrado: obviamente, todos os eventos realizados neste período têm que ser sobre o Mundial, mesmo que originalmente não fossem. Achei de muito mau tom, por exemplo, os Artic Monkeys não entoarem nem um único canto de apoio à sua Inglaterra para o embate com a Bélgica. Chegaram, tocaram as músicas dos seus álbuns que tinham previstas, limitaram-se a dar um belíssimo concerto e foram-se embora como se não houvesse um França-Croácia daqui a 2 dias.
Mais: à minha volta, aproveitei para escutar as conversas de vários grupos (revelo aqui em primeira mão, vou a festivais só para isso - ouvir conversas de pessoas que não conheço porque estão demasiado perto e é fácil), e nenhum dos que ouvi conversou sobre o Mundial. Só porque estavam num festival de música, acharam que era o local indicado para falar de música. Isto quando o mês de Mundial ainda não terminou e há uma final para disputar: que profunda falta de civismo.
Perdoem a minha aparente ignorância e total ingenuidade, mas, da minha experiência, não achei que fosse possível reunir 45.000 pessoas que não querem saber de futebol - não pensei que existisse tal número, sequer, no planeta inteiro. Tinha ideia que as únicas pessoas que não ligavam a futebol, em todo o planeta, eram cerca de três holandeses que vivem em Sagres numa tenda da Decathlon e abriram uma loja de néones. Assusta-me saber que, afinal, são muito mais.
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