Esta semana no mercado: Vitinha na galáxia PSG, a juventude que fugazmente vemos e as reconciliações de verão frustradas
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Às sextas-feiras, um resumo das últimas movimentações confirmadas do defeso, sejam novelas cujo desfecho há muito se aguardava, romances inesperados ou meros amores de verão peculiares
O dia 1 de julho é uma data importante no mercado de transferências. Não tem o peso final do 1 de setembro, mas, como 30 de junho marca o fecho oficial da anterior temporada futebolística, o primeiro dia do sétimo mês costuma ser palco de várias movimentações por duas razões: marca o começo de um novo ano contabilístico nas SAD e coloca um ponto final em vários vínculos que não foram renovados.
Assim, clubes que precisassem de fazer encaixes no anterior exercício tentaram forçá-los até 30 de junho e aqueles que só pudessem soltar dinheiro no novo ano esperaram até esta sexta-feira. Muitos negócios têm sido anunciados a 1 de julho — como a chegada de Morita ao Sporting. Por outro lado, há uma nova série de jogadores livres no mercado.
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Paul Pogba, Ousmane Dembélé, Paulo Dybala, Ángel Di María, Luis Suárez, Cesc Fàbregas, Isco ou o até agora portista Chancel Mbemba são alguns dos futebolistas que, neste momento, não representam qualquer clube. Casos para continuar a acompanhar nas próximas semanas.
Aproveita enquanto os tens
É a sina do futebol português: formar/comprar sem ser um produto acabado, potenciar, dar a conhecer aos endinheirados emblemas, vender. Neste mercado já o tínhamos visto com Darwin (de 23 anos, do Benfica para o Liverpool), Fábio Vieira (de 22 anos, do FC Porto para o Arsenal) e, fora do rador dos grandes, Jackson Porozo (de 21 anos, do Boavista para o Troyes), Lincoln (de 23 anos, do Santa Clara para o Fenerbahçe de Jorge Jesus) ou Gui Guedes (de 20 anos, do Vitória para o Almería).
O último caso desta exportação precoce, imagem de marca do futebol português, é Vitinha. O médio que ainda há um ano certinho estava a regressar de um não muito bem sucedido empréstimo ao Wolverhampton foi vendido pelo FC Porto, por €41,5 milhões, para o universo milionário do PSG, casa de Nuno Mendes, outro jovem que muito cedo rumou ao estrangeiro. Também Danilo Pereira atua nos campeões da Ligue 1.
O nosso futebol interno é forçado a um carpe diem de desfrute rápido dos melhores talentos. Já Sérgio Conceição, que nos últimos dias perdeu Vitinha, Vieira e Mbemba, a juntar à baixa de Luis Díaz em janeiro, terá uma vez mais, de retocar a face do seu FC Porto.
Há, mas são verdes
Das profícuas camadas jovens saem sempre jogadores a quem se lhes augura grande futuro mas que, por uma razão ou outra, ainda não são considerados prontos para as exigências da elite, sendo obrigados a um tirocínio. Verde terá Rúben Amorim considerado que está Gonçalo Esteves, o voador lateral que, há um ano, trocou o azul e branco por Alvalade. Tapado pela concorrência de Pedro Porro e Ricardo Esgaio, o português de 18 anos fez 10 partidas na temporada passada na equipa principal leonina e foi agora cedido ao Estoril.
Do outro lado da Segunda Circular, o Benfica emprestou Tiago Dantas, o criativo médio de 21 anos, ao PAOK, onde terá a companhia de Vieirinha, lenda do clube de Salónica, Filipe Soares, Rafa Soares, André Ricardo e Nélson Oliveira — e o diretor-desportivo é José Boto. Quem há um ano saiu da Luz em busca de um lugar ao sol (ou à chuva, tendo em conta o clima de Glasgow) foi Jota. Após uma temporada em cheio no Celtic — campeão, autor de 13 golos e 14 assistências e ídolo dos ferverosos adeptos dos protestantes —, o atacante das mil e uma fintas foi comprado, em definitivo, pelos escoceses por €7,5 milhões, ficando o Benfica com direito a 30% de uma futura transferências.
Da Escócia para Paços, com escala em Vigo e feito à medida por Zé e Abílio
Há clubes em Portugal a tentarem fugir das redes de contratação habituais. Um exemplo dessa ideia veio da equipa treinada por César Peixoto: o Paços de Ferreira contratou Jordan Holsgrove, jovem escocês de 22 anos que estava ligado ao Celta de Vigo — alinhou, sobretudo, na equipa B dos galegos, mas chegou a fazer seis partidas pela principal formação do Celta.
Num vídeo criativo, ao estilo do Paços, vemos os tradicionais especialistas em móveis da capital de dito ofício a fazerem, por encomenda do presidente, uma obra de arte para decorar o cacifo do novo reforço. Veremos é se o Zé e o Abílio ajudam a melhorar o português com acento galego-britânico de Jordan.
Vocês não foram feitos um para o outro
Há muitos tipos de amores e relações de verão. No mundo do futebol, o período estival pode levar a otimistas esperanças em segundas oportunidades para antigos namoros que não deram certo, como se o calor forçasse a tentativas de reanimar o que se tornou frio, sem chama.
Em 2012, Paul Pogba, jovem de 19 anos, saiu do Manchester United rumo à Juventus, como jogador livre, perante acusações de Alex Ferguson a Mino Raiola, então empresário do francês — o escocês chamou "saco de m****" ao agente que recentemente faleceu. Quatro voltas ao sol depois, José Mourinho achou-se capaz de devolver o amor entre Pogba e os red devils, pagando €105 milhões para o trazer de volta a Old Trafford.
Após seis temporadas com mais sombras que luzes, mais polémicas que golos, mais rendimento na seleção onde foi campeão do mundo do que no clube onde só ergueu uma Liga Europa e uma Taça da Liga, Pogba volta a abandonar o Manchester United pela porta dos fundos, sem glória, como jogador livre.
Outro recomeço frustrado foi o de Romelu Lukaku no Chelsea. Em 2011, o belga, depois de brilhar ainda adolescente no Anderlecht, foi recrutado pelos blues, mas na primeira passagem, entre empréstimos ao WBA e Everton, não fez qualquer golo em 15 partidas.
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O avançado seria depois vendido ao Everton, onde brilhou para depois rumar ao Manchester United e, daí, ir para Itália ser o rei da Série A ao serviço do Inter. Em 2021, o Chelsea voltou a abrir-lhe a porta, pagando uns astronómicos €113 milhões aos nerazzurri.
Só que, qual relação que esbarra sempre no mesmo ciclo labiríntico de problemas, Lukaku e o Chelsea não fizeram clique. O belga foi sempre corpo estranho na engrenagem de Tuchel, para quem chegou a ter palavras pouco simpáticas. Quarenta e quatro jogos e 15 golos depois, Lukaku regressa ao Inter por empréstimo.
Aquelas noites de verão, Silvestre
Silvestre Varela nunca foi um fenómeno. Ainda assim, pode orgulhar-se de ter sido muito importante em equipas do FC Porto com Jesualdo Ferreira, André Villas-Boas ou Vítor Pereira, enquanto escudeiro de ataques em que brilharam Hulk, Falcao, James Rodríguez ou Jackson Martínez. Em tempos conhecido como "Drogba da Caparica", Varela fez 236 jogos e marcou 50 golos pelo FC Porto, tendo vencido uma Liga Europa, três Ligas, duas Taças de Portugal e cinco Supertaças.
Ao serviço da seleção, fez 27 jogos e foi, com Paulo Bento — que em tempos o descartou do Sporting — uma espécie de arma secreta, de recurso de banco para agitar as alas de um ataque dominado por Cristiano Ronaldo e Nani. E, em quentes noites de verão, Varela foi decisivo: contra a Dinamarca, no Euro 2012, com um golo aos 87 minutos fundamental para que Portugal seguisse em frente na competição, e contra os Estados Unidos, no Mundial 2014, marcando aos 95' para manter a seleção viva no torneio do Brasil, antes da eliminação na última jornada do grupo.
Sem a chama dos seus melhores anos, o atacante andou por Inglaterra, Itália ou Turquia, antes de voltar a Portugal pela porta da Belenenses SAD. Na época passada, o FC Porto reabriu-lhe as portas, para ser o líder da equipa B dos dragões, ao serviço da qual fez 30 jogos e marcou quatro golos. Em 2022/23, Varela continuará o seu papel de guia dos jovens da formação secundária, tendo renovado contrato com o clube pelo qual, em tempos, brilhou ao serviço de craques que ganhariam dimensão mundial. Os verões de Silvestre são agora diferentes das epopeias de 2012 ou 2014.