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Março, marçagão, basquetebol todo o dia, loucura até mais não

A equipa dos UCLA Bruins é a recordista de títulos nacionais universitários. São onze títulos, mas o último foi já em 1995. Este ano voltam a ser uma das formações a ter debaixo de olho no March Madness, muito graças ao talento de Lonzo Ball, na foto a atacar o cesto
A equipa dos UCLA Bruins é a recordista de títulos nacionais universitários. São onze títulos, mas o último foi já em 1995. Este ano voltam a ser uma das formações a ter debaixo de olho no March Madness, muito graças ao talento de Lonzo Ball, na foto a atacar o cesto
Sean M. Haffey/Getty

Arranca esta madrugada o March Madness, carinhosa alcunha do torneio final do basquetebol universitário norte-americano: são 68 equipas que vão caíndo uma a uma até se encontrar o campeão nacional, num total de duas semanas e meia em que a bola não pára, Ao contrário dos norte-americanos: a quebra de produtividade que todos os anos se regista durante o March Madness custa 4 mil milhões de dólares às empresas do país e até a produção de cerveja tem de aumentar

Março, o mais temido pelos empregadores norte-americanos. E não, não é por causa dos pólens que chegam com o início da primavera e que deixam meio mundo com um pingo no nariz.

A culpa é do March Madness.

Do quê? Bem, o March Madness (a ‘Loucura de março’, numa tradução para o português) é o nome pelo qual é conhecido o torneio final do basquetebol universitário norte-americano: duas semanas e meia non stop de duelos de eliminação direta envolvendo 68 equipas de universidades de todo o país, divididas por quatro regiões. Uma a uma, as equipas vão caindo, até se apurar o campeão nacional. A edição deste ano arranca já esta madrugada, com os dois primeiros dias a serem dedicados ao torneio preliminar, que apurará quatro equipas para a primeira ronda - na quinta e sexta-feira começa a loucura a valer, 16 jogos por dia, do meio-dia até à meia-noite.

Pelo caminho, milhões e milhões de norte-americanos não tirarão os olhos das televisões, sites e casas de apostas. De acordo com o site de análise financeira WalletHub, a quebra de produtividade que todos os anos se regista durante o March Madness custa qualquer coisa como 4 mil milhões de dólares (cerca de 3,7 mil milhões de euros) às empresas norte-americanas. Cerca de 86% dos norte-americanos admitem fazer algum tipo de atividade relacionado com o March Madness durante o horário de expediente e durante a primeira ronda, ou seja, na primeira quinta e sexta-feira do March Madness, cerca de 6% dos funcionários usam dias de folga ou colocam baixa para faltar ao trabalho.

A paixão pelo basquetebol universitário é levada a sério, num país onde em qualquer esquina ou vilório pode estar a próxima estrela da NBA. Principalmente no torneio final, muito dado a surpresas e tomba-gigantes (as Cinderella stories, como os norte-americanos lhes gostam de chamar). O sistema a eliminar isso potencia e do outro lado do Atlântico toda a gente adora uma boa história de superação e heroísmo. E por isso, só no último ano foram preenchidos 70 milhões de brackets - a chave que tem todos os jogos do torneio e que funciona um pouco como o quadro de um torneio de ténis. Para se ter noção da enormidade dos números, nas últimas eleições presidenciais o total de votos foi de 129 milhões.

Aí está o bracket do March Madness de 2017. Cerca de 70 milhões de norte-americanos já preencheram o seu

E porque os jogos de basquetebol universitário também se assistem com família ou amigos, durante o mês de março, são produzidos mais 3,5 milhões de packs de cerveja - o aumento da procura assim o exige - e o número de pedidos de pizzas aumenta 19%.

A história

É preciso recuar até 1939 para assistir ao primeiro torneio final do basquetebol universitário, que na altura ainda não tinha a alcunha de March Madness - só apareceu durante a década de 80, depois das vitórias improváveis de Universidades como North Carolina State ou Villanova, os atuais campeões em título.

Nessa altura, o torneio tinha apenas oito equipas (e assim se manteve nos primeiros 12 anos) e a primeira campeã foi a Universidade de Oregon. O formato atual, com 68 equipas, é uma realidade desde 2011. OS UCLA Bruins são a equipa com mais títulos nacionais universitários, num total de 11, 10 dos quais ganhos entre 1964 e 1975. E três deles (1967, 1968 e 1969) tiveram como jogador mais valioso um rapaz alto chamado Lew Alcindor, que uns anos mais tarde mudou o nome para Kareem Abdul-Jabbar. O último campeonato dos Bruins, que na lista dos vencedores são seguidos dos Kentucky Wildcats, com sete títulos, data já de 1995, mas este ano surgem de novo entre os favoritos: são os cabeças-de-série n.º 3 do Sul e têm provavelmente o jogador mais excitante do torneio, o base Lonzo Ball.

Os Villanova Wildcats são os atuais campeões universitários em título
Ronald Martinez/Getty

O bracket

Esta é uma das instituições do March Madness: todos os anos, milhões e milhões de norte-americanos preenchem o seu bracket, onde dão o seu parecer quanto aos resultados de todos os jogos desde a primeira ronda até ao vencedor final. Por prazer, mas também por dinheiro. A ESPN, por exemplo, oferece este ano 10 mil dólares a quem tiver o bracket mais perfeito e fizer mais pontos. Mais pontos porque acertar é praticamente impossível: Jeff Bergen, matemático da Universidade de DePaul, fez as contas e a probabilidade de acertar nos 63 resultados é de… 1 para 9.223.372.036.854.775.808 (a de acertar o Euromilhões é de 1 para 116.531.800).

Diz o site WalletHub que em 2016 os norte-americanos gastaram qualquer coisa como 9,2 mil milhões de dólares (8,6 mil milhões de euros) em apostas, 8,9 dos quais em apostas ilegais.

Barack Obama era um dos milhões de norte-americanos que fazia o seu bracket e as suas escolhas foram, durante oito anos, anunciadas ao vivo na ESPN (e que motivaram o aparecimento do termo “Barack-etology”). Donald Trump foi convidado este ano para continuar a tradição, mas declinou o convite do canal.

Durante os oito anos de mandato, Barack Obama apresentou as suas apostas para o March Madness em direto na TV
D.R.

O dinheiro

Apesar dos jogadores universitários serem obrigados a manter o estatuto de amadores, há muito e bom dinheiro a correr no basquetebol académico. Em 2011, a CBS/Turner pagou qualquer coisa como 19,6 mil milhões de dólares (18,4 mil milhões de euros) para garantir a transmissão de todos os jogos do March Madness até 2032. Mike Krzyzewski, treinador da Universidade de Duke, recebe 7,3 milhões de dólares de salário anual, mais do que boa parte dos treinadores da NBA.

A cidade de Phoenix, que este ano recebe a final four da competição, entre os dias 1 e 3 de abril, prevê um impacto económico na ordem dos 150 milhões de dólares.

E os jogadores? De acordo com as regras da NCAA, que regula o desporto univeristário nos Estados Unidos, até chegarem à NBA (e menos de 2% dos jogadores universitários chegam lá) ganham todos o mesmo com o March Madness: zero.

Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: lpgomes@expresso.impresa.pt