Modalidades

Fallon Sherrock é mulher e já bateu dois homens nos Mundiais de dardos

Fallon Sherrock é mulher e já bateu dois homens nos Mundiais de dardos
Luke Walker/Getty

Tem 25 anos, é britânica, tem um filho autista e já foi cabeleireira. E está a fazer história em Londres. Fallon Sherrock já bateu dois homens, um deles o 11.º do ranking mundial, e está a provar que nos dardos é possível competir de igual para igual

O público faz barulho e há muita cerveja a rodar. O ambiente parece muito masculino, mas isso não impede Fallon Sherrock, uma miúda de 25 anos, nascida no subúrbio londrino de Milton Keynes, de estar a fazer história nos Mundiais PDC de dardos.

Tudo porque Sherrock se tornou esta semana na primeira mulher a vencer uma partida nestes Mundiais, que por estes dias se disputam no mítico Alexandra Palace, em Londres. Na 1.ª ronda, Sherrock bateu Ted Evetts por 3-2. Mais: na noite de sábado levou a melhor sobre um dos melhores jogadores do Mundo, o austríaco Mensur Suljovic, por 3-1, mostrando que a vitória na 1.ª ronda não foi apenas casualidade, sorte, ou o facto do público estar todo do seu lado: ela está ali e vai lutar com eles de igual para igual.

Há um ano, pela primeira vez a organização dos Mundiais reservou duas das 96 vagas para a competição para mulheres. Antes, as competidoras podiam tentar a sua sorte na fase de qualificação. Nesta edição, Fallon Sherrock, uma antiga cabeleireira, conseguiu um dos lugares e está a aproveitar da melhor maneira a oportunidade. Depois de Evetts e Suljovic, segue-se Chris Dobey, o 22.º cabeça de série da prova.

"Bati dois dos melhores jogadores do Mundo. Se isso não mostra que as mulheres podem jogar dardos ao mesmo nível que os homens, não sei o que mais fará", disse Sherrock ainda emocionada, depois de tirar da competição o 11.º do ranking, algo que lhe valeu, por exemplo, mensagens de apoio de Billie Jean King, campeoníssima nos courts de ténis e uma das pioneiras da igualdade na modalidade.

Sherrock é a favorita do público do Alexandra Palace
Luke Walker/Getty

Fallon Sherrock vem de uma família de apaixonados pelos dardos. O pai já jogava e a sua irmã gémea Felicia também tentou, mas não com tanto sucesso quanto Fallon. Começou a jogar aos 17 anos, aos 20 tornou-se vice-campeã mundial feminina e só esse feito lhe permitiu deixar o trabalho como cabeleireira, que conciliava então com a competição.

Foi por essa altura também que a jovem, que entra para as partidas ao som de "Last Friday Night", de Katy Perry, foi mãe de Rory, que sofre de autismo, e começou a sofrer de problemas de rins que hoje fazem com que não toque numa pinga de álcool e tenha sempre muita água ao seu lado quando joga.

"Cuidar de Rory é um trabalho permanente. Quando vai dormir, pelas sete da noite, é que consigo treinar. Ele fica sempre muito orgulhoso de mim e muito feliz com tudo o que se está a passar comigo. Felizmente, a minha família pode cuidar dele quando estou nos torneios", disse a atleta esta semana à imprensa britânica.

Numa entrevista à BBC após a vitória sobre Ted Evetts, Sherrock admitiu durante a sua carreira sempre teve de lidar com comentários sexistas nas redes sociais e que a sua caminhada nos Mundiais "só prova como essas pessoas estão erradas".

"As mulheres não têm uma desvantagem física nos dardos, apenas não temos tantas oportunidades quanto isso para jogar contra os homens e é só por isso que não vemos coisas assim mais frequentemente. Espero que esta vitória inspire mais miúdas a competir. Os dardos são competitivos e é um desporto divertido, aconselho toda a gente a pelo menos tentar", disse ainda na entrevista.

Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: lpgomes@expresso.impresa.pt