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Em 2022, o ténis e o surf terão que enfrentar as medidas restritivas australianas. E alguns dos melhores do mundo poderão não entrar no país

Em 2022, o ténis e o surf terão que enfrentar as medidas restritivas australianas. E alguns dos melhores do mundo poderão não entrar no país
Darrian Traynor/Getty

A Austrália continua a enfrentar uma vaga de covid-19 e por isso definiu diversas medidas restritivas, algumas delas para qualquer cidadão que pretenda entrar no país. Entre eles estão os atletas. Nomes como Novak Djokovic ou Kelly Slater podem ficar fora das competições de ténis e surf, respetivamente, caso as regras não mudem ou continuem a optar por não se vacinarem

Já houve uma altura em que a maioria das pessoas desejou estar na Austrália. No meio de confinamentos e números em fase crescente, era de lá que chegava alguma esperança de normalidade em tempos de pandemia. Mas os últimos meses viram a situação inverter e enquanto que por cá as restrições começavam a ser levantadas, na Oceânia os números atingiam máximos nunca antes vistos no continente.

As imagens de praias cheias ou pessoas sem máscara da altura em que o país não contabilizava qualquer caso de covid-19 foram então substituídas por uma série de restrições para os australianos e para todos os que pretendam viajar para lá. E nesse último grupo estão os atletas com competições já marcadas.

As regras para entrar na Austrália são claras: certificado de vacinação obtido pelo menos sete dias antes da viagem e um teste à covid-19 negativo, realizado nas 72 horas antes do voo.

O ténis é a primeira modalidade a ir a jogo. O Open da Austrália, o primeiro torneio do Grand Slam de 2022, está marcado para o próximo mês de janeiro, em Melbourne e neste momento ainda não há certezas sobre as condições para se estar presente, falando-se da possibilidade ou de proibir de todo a presença de atletas não vacinados ou da exigência de uma quarentena de 14 dias para quem optou por não tomar a vacina. E o ténis é uma das modalidades onde há atletas que já se posicionaram publicamente como céticos em relação à vacina da covid-19.

Novak Djokovic, o número 1 mundial, é um dos que ainda levanta dúvidas quanto à presença na competição. A convicção do jogador é conhecida desde o início da pandemia: “Não gostaria de ser forçado por alguém a tomar uma vacina como condição para poder viajar", disse então.

Depois de declarações polémicas, Tsitsipas afirmou que pretendia vacinar-se ainda em 2021
Vaughn Ridley

Outra grande dúvida é a presença de Stefanos Tsitsipas. O tenista começou por afirmar no verão que não seria vacinado por não considerar existirem razões para alguém da sua idade o fazer e porque ainda não era algo obrigatório para os atletas no circuito. Depois de uma chuva de críticas, o grego recuou e garantiu que até ao final de 2021 estaria vacinado. Ainda assim, até hoje não se sabe se avançou com essa decisão.

Daniil Medvedev, número dois mundial e vencedor do US Open, era outro nome que estava em dúvida, uma vez que o russo nunca respondeu à questão se estaria ou não vacinado. Mas esta semana fez uma publicação nas redes sociais onde escreveu “Vejo-te em janeiro, Open da Austrália”, o que poderá dar a entender que ou está vacinado ou disposto a seguir as regras impostas pelas autoridades australianas.

Do lado feminino, Elina Svitolina fez saber que pretendia esperar até que houvesse mais estudos em relação à vacina e Aryna Sabalenka afirmou não confiar na vacina. Sobre a primeira ainda não se sabe se a situação já mudou, mas Sabalenka acabou por se vacinar depois de contrair covid-19.

O surf vai à Austrália, mas não é para todos

Mas não é só o ténis que pode não contar com alguns dos seus maiores nomes nas provas australianas. Do court para o mar, no surf continuam também as incertezas.

O surfista Matt Poole, vencedor do Ironman de surf, decidiu tentar sensibilizar a comunidade de surfistas para que optem pela vacinação, principalmente aqueles que já se tinham afirmado contra. Numa publicação nas redes sociais, o surfista usou o exemplo das correntes mais perigosas no mar, chamadas de “rip current” e, a dirigir-se diretamente a Trevor Hendy, também ele vencedor do Ironman, lançou a analogia.

“Da próxima vez que me dirigir aos surfistas, vou saltar para a corrente porque 'liberdade de escolha'. Assim que eu começar a dizer aos outros que não há perigo, eles também vão saltar e dizer aos seus companheiros. E, antes que dês por isso, há uma centena de nós lá dentro. Mas Trev, é a nossa escolha. Agora alguns dos 100 metem-se em problemas e os salva-vidas vêm salvá-los, pondo também esses salva-vidas em perigo. Agora, 50 estão a afogar-se e os salva-vidas não conseguem salvá-los a todos e a eles próprios... Mas essa foi a nossa escolha. Não é liberdade de escolha se tiver impacto nos outros - trata-se de ajudar os outros", explicou Poole.

Kelly Slater já se posicionou contra a vacina da covid-19
Tony Heff

Para surpresa de muitos, uma das pessoas que nos comentários foi contra Poole foi o 11 vezes campeão do mundo Kelly Slater, que deveria marcar presença nas etapas australianas da World Surf League (WSL) em abril de 2022: “Deixa-me explicar porque é que a tua analogia não faz sentido. Se eu conheço os riscos (consentimento informado) e julgo que a escolha é aquela que me beneficia/magoa com base nas estatísticas e informações e na minha própria capacidade (saúde), posso escolher em conformidade”, escreveu Slater.

O surfista, que chegou mesmo a afirmar saber “mais sobre estar saudável do que 99% dos médicos”, revelou, assim, não ser a favor da vacina e juntou-se ao grupo de atletas que, se nada mudar até abril, estão em dúvida nas competições realizadas na Austrália.

Mas não é o único. Ainda que já não esteja em competição no circuito mundial, o australiano Taj Burrow é um dos surfistas que pode vir a ser chamado caso algum atleta se lesione, como aconteceu em 2021 no Rip Curl Rottnest Search, na Austrália, quando ficou com o lugar de Adrian Buchan. Neste caso, Burrow não terá que lidar com as restrições de entrada no país e provavelmente poderá competir, uma vez que a WSL, até ao momento, não anunciou qualquer regra em relação à vacinação. Ainda assim, é mais um atleta a integrar a campanha anti-vacinas.

Ainda em dúvida está também Gabriel Medina. Sabe-se que o atleta já ficou de fora de uma das etapas do campeonato em 2021 - Teahupoo - por não ter levado a vacina e sabe-se também que o brasileiro optou por não se vacinar para os Jogos Olímpicos em Tóquio, sendo que o Comité Olímpico do Brasil disponibilizou vacinas a todos os atletas.

No passado mês de agosto, Medina já afirmou que “foi um erro” não ter levado a vacina e que pretendia fazê-lo em breve. Até ao momento não há novas informações sobre o tema e por isso o brasileiro é mais um atleta em dúvida para o Rip Curl Pro Bells Beach e o Margaret River Pro.

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