Atletas trans terão de competir em categoria à parte no triatlo britânico
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O triatlo é a primeira modalidade no desporto britânico a banir a participação de atletas trans com mais de 12 anos em provas femininas, criando uma nova categoria para competirem. A entidade estipulou também que só atletas que tenham nascido mulheres poderão representar o Reino Unido a nível internacional
O reboliço polémico estalou quando a Federação Internacional de Natação (FINA) aprovou novas regras para restringir a participação de atletas trans em competições femininas, delineando a ‘fronteira’ na puberdade masculina: apenas as nadadoras que não a tiveram antes dos 12 anos ou que não passam pela fase 2 de Tanner, uma escala científica para medir a maturação sexual e desenvolvimento corporal com base no tamanho da pilosidade e dos genitais, serão autorizadas a competir em provas internacionais.
Foi a primeira entidade reguladora de uma modalidade a ditar este tipo de condicionalismo desde novembro de 2021, quando o Comité Olímpico Internacional (COI) publicou a diretiva “Justiça, Inclusão e Não-Discriminação com Base na Identidade de Género e Variações de Sexo”, algo como um manual de conduta para as federações desportivas agirem, embora sem caráter vinculativo. O COI deu liberdade para cada entidade decidir, a FINA agiu como entendeu e outras modalidades logo também se pronunciaram, espécie de efeito de dominó. A World Triathlon, por exemplo, nada disse, mas isso não impediu que a federação britânica tomasse uma posição.
Esta quarta-feira, a organização anunciou a criação de uma nova categoria competitiva destinada exclusivamente a atletas trans, ditando que os eventos competitivos femininos (os que tenham prize money, tempos oficiais e contem para rankings) são “destinados” a quem tenha “nascido com o género feminino”. A entidade justificou a decisão com a “proteção da justeza” e o “desejo de tornar o triatlo realmente inclusivo”. Para atletas com mais de 12 anos, as provas femininas ficarão reservadas para quem tenha nascido mulher.
Em junho, quando a FINA desvendou o novo pacote de medidas para regular a participação de nadadoras trans, disse que a criação de uma nova categoria reservada a estas atletas é uma “hipótese” que vai estudar até ao final deste ano.
Lia Thomas não está a competir nos Mundiais de Natação, mas em março foi a primeira atleta trans a vencer uma prova dos Campeonatos Universitários dos EUA
As alterações que a Federação Britânica de Triatlo fez aos seus regulamentos entrarão em vigor a partir de janeiro de 2023. Surgem após a consulta a mais de 3.000 membros da entidade e a taxa de aprovação ficou nos 80%. “Atletas que nasceram homens têm uma vantagem significativa sobre atletas que nasceram mulheres na natação, ciclismo e corrida. E concluímos que as vantagens fisiológicas são retidas após [os tratamentos de] supressão de testosterona”, defendeu Andy Salmon, presidente da entidade.
No comunicado em que anunciou a decisão, a entidade lembra que a sua “política” se baseia no “desporto para todos” e que “comportamento transfóbico não será tolerado” no triatlo britânico. Ainda em junho, o presidente da World Athletics, o igualmente inglês Sebastian Cole, sugeriu que a organização poderia seguir o exemplo da FINA, dando conta de uma “reunião no final do ano” para discussão dos regulamentos quanto à participação de atletas trans. Na mesma linha, a União Internacional de Ciclismo e a Federação Internacional de Hóquei também irão rever as suas regras.
Em Portugal, apenas a federação de natação confirmou que irá adotar os regulamentos aprovados pelo organismo que rege a sua modalidade a nível internacional, apesar de não ser obrigada a tal. “A inclusão não se pode sobrepor a um critério desportivo fundamental que é a justiça na competição”, disse António José Silva, presidente da entidade, à Tribuna Expresso, quando revelou que a intenção de aplicar o mesmo tipo de restrições nas competições nacionais a partir de setembro.