A humidade nas paredes este ano não foi limpa: ficaram por esfregar e pintar mais uma vez de branco. Já não vale a pena. Durante o dia as janelas ficam abertas para ajudar a secar a água que escorre. Nos quartos, as malas cheias ocupam o caminho, as roupas foram tiradas para fora dos armários. Preparam a sua saída. Para onde? Não sabem. Rafael Neto e os pais, Maria do Céu e Fernando, têm menos de um mês para deixar a casa onde vivem há quase 14 anos.
É no hall de entrada do prédio que, sentados nas escadas, encontramos Rafael e a mãe. Encaminham-nos para um parque nas traseiras para conversar. Mais tarde percebemos por que não nos convidam a subir ao 4.º andar onde moram. “Aquilo não está em condições, se me vão mandar embora já não pinto as paredes e deixo a humidade ficar como está”, explica Maria do Céu num tom que anda entre a mágoa e a zanga. “Nós todos os anos tínhamos de pintar a casa por causa da humidade.”
Rafael nasceu com espinha bífida, um problema congénito do sistema nervoso que se desenvolve ainda durante a gravidez e, no seu caso, tem como consequência a paralisia da zona inferior do corpo. Desloca-se em cadeira de rodas desde sempre. “Não posso ir para a rua com o meu filho. Tenho como pagar uma casa com o meu rendimento, mais do que isso não consigo. Não posso ir para a rua com um cadeirante que tem os seus problemas. Estou a pedir ajuda a tudo e todos porque não posso ir para a rua com ele”, diz Maria do Céu.
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