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Santa Casa garante que os cortes nos apoios às federações desportivas não ameaçam o projeto olímpico

Ana Jorge é a provedora da Santa Casa da Misericórdia desde maio de 2023.
Ana Jorge é a provedora da Santa Casa da Misericórdia desde maio de 2023.

A menos de um ano dos Jogos Olímpicos de Paris, a Santa Casa da Misericórdia anunciou cortes nos apoios a, pelo menos, 17 federações desportivas. José Manuel Constantino, presidente do Comité Olímpico de Portugal, teme que este ajuste da seja apenas nas verbas destinadas ao desporto: “Se há um problema transversal a toda a despesa, não é um montante irrisório que põe em casa o seu equilíbrio financeiro.”

A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) assegurou, esta quarta-feira, que a revisão, em curso, do seu plano de patrocínios a diversas instituições e entidades, nomeadamente federações desportivas e Comité Olímpico, “não coloca em causa o projeto olímpico para 2024”.

Em resposta a questões da Lusa, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) destacou que a revisão da sua política de apoio financeiro se estende a “diferentes instituições e entidades”, incluindo os apoios dos Jogos Santa Casa às federações desportivas nacionais, ao Comité Olímpico de Portugal (COP) e ao Comité Paralímpico de Portugal (CPP).

“Numa altura de grandes desafios económico-sociais, pretende-se criar um modelo de parceria mais equilibrado e criterioso no apoio financeiro dado pelos Jogos Santa Casa ao desporto nacional, nomeadamente, através das federações nacionais, do COP e do CPP, parceiros inestimáveis no desenvolvimento da missão da SMCL”, destacou.

A Santa Casa lembrou que está a atravessar um período de “constrangimentos financeiros”, agravados pela diminuição das receitas dos Jogos Sociais e pelo aumento dos pedidos de apoios sociais.

Por isso, “está a proceder a uma reavaliação profunda de toda a sua política de parcerias financeiras e patrocínios a entidades externas, por modo a criar mecanismos mais eficientes e sustentáveis”.

Várias fontes oficiais confirmaram na terça-feira à Lusa que a SCML avisou várias federações desportivas da necessidade de rever o plano de patrocínios, a menos de um ano dos Jogos Olímpicos de 2024, em Paris, através de cartas assinadas pela provedora, Ana Jorge, que assumiu funções em 2 de maio último.

Entre as entidades apoiadas pelos Jogos Santa Casa, de acordo com a lista publicada no seu site, além do COP e do CPP, estão a Confederação do Desporto de Portugal (CDP), as federações de equestre, motociclismo, andebol, atletismo, canoagem, ciclismo, futebol, ginástica, judo, natação, patinagem, remo, râguebi, surf, ténis de mesa, triatlo, voleibol e de desporto para pessoas com deficiência.

Comité Olímpico teme que desporto seja o único alvo dos cortes

Reagindo aos cortes anunciados, o presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP) disse recear que a Santa Casa da Misericórdia se limite a cortar nas verbas atribuídas a várias federações desportivas, a menos de um ano de Paris2024.

“Não tenho exata noção da dimensão do corte que estamos a falar, mas, salvo melhor opinião, estamos a falar, tão só e apenas, dos patrocínios que o departamento de jogos da Santa Casa tem tido junto de algumas federações desportivas, numa parte significativa federações com participação olímpica”, começou por dizer José Manuel Constantino, em declarações à agência Lusa.

As federações desportivas e o próprio COP foram avisadas através de cartas assinadas pela provedora Ana Jorge, que assumiu funções na SCML em 02 de maio último.

Em causa, de acordo com várias das missivas a que a Lusa teve acesso, está a revisão do “plano de patrocínios delineado para 2023”, advertindo, ainda, que o patrocínio, em nome dos Jogos Santa Casa, na sua maioria, além dos contratos em vigor não está assegurado.

“Por um lado, compreendo que a nova direção da SCML queira proceder a uma reavaliação dos critérios de apoio às diferentes entidades atendendo à situação de profunda crise que foi detetada nas auditorias já realizadas e pela intervenção do Ministério Público relativamente a investimentos feitos no Brasil. Acho perfeitamente natural e compreensível que a nova administração pretenda olhar para a realidade com que está confrontada e queira reavaliá-la”, afirmou Constantino.

No entanto, o presidente do organismo federativo advertiu que não terá uma atitude tão compreensiva se os cortes forem feitos apenas no setor desportivo, num valor, que segundo José Manuel Constantino, não é relevante para os cofres da SCML.

“Já não terei uma opinião tão positiva, se esse olhar for circunscrito a meia dúzia de organizações desportivas, junto das quais o departamento de comunicação e marketing da Santa Casa estabelecem protocolos de cooperação. Porque, se há um problema transversal a toda a despesa, não é um montante irrisório face ao que proporciona aos Jogos Santa Casa que põe em casa o seu equilíbrio financeiro”, vincou.

Apesar desta ameaça, Constantino assumiu disponibilidade para uma eventual reunião com a nova provedora da SCML.

“Vamos aguardar com alguma serenidade o desenvolvimento deste processo, na expectativa, naturalmente, de termos uma opinião mais sustentada, mais fundamentada do que aquilo que estamos neste momento confrontados e cujas consequências se ignoram”, rematou o presidente do COP.

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