Caitlin Clark, a mulher dos recordes que na universidade atrai mais audiência do que Wembanyama na NBA
Matthew Holst
Ainda não é profissional, mas, se terminasse a carreira aos 22 anos, já tinha valido a pena. Os triplos lançados em zonas de onde outros ainda nem conseguem ver o cesto fizeram de Caitlin Clark um caso de estudo nos EUA. É ela, uma mulher, a melhor marcadora de sempre dos campeonatos universitários, depois de superar um recorde que durava há 54 anos e pertencia a Pete Maravich. Se tudo correr dentro do normal, vai ser a jogadora com mais triplos numa época, ultrapassando Steph Curry. Ver os jogos da atiradora ao vivo já é quase impossível e pode custar mais de 520 euros
Caitlin Clark está encurralada entre aquilo que já é e o que ainda quer ser. Sabe, porém, que o ponto de partida do que se pode vir a tornar é um lugar exclusivamente seu.
Há sensivelmente um ano, na eliminatória do March Madness que antecedeu a primeira presença de sempre de Iowa na final do torneio de basquetebol universitário norte-americano, Clark recusou-se a defender a jogadora que tinha pela frente. Com uma sacudidela, convidou-a antes a lançar da linha de três pontos numa atitude egoísta, como se só ela tivesse o direito de encontrar o caminho para o cesto de um sítio tão distante. Mais tarde, viria a provar com números que há poucos atiradores melhores do que ela.
As Iowa Hawkeyes acabariam por perder na final, o que não podia ter sido melhor combustível para Caitlin Clark pegar fogo. A base acabaria por, em 2023/24, explodir em cima de uma temporada inédita.
Líder de audiências com desempenhos de horário nobre
Os meandros do basquetebol norte-americano estão recheados de jogadores sobrevalorizados em relação à média mundial e mesmo os nomes que se destacam noutras zonas do globo acabam por desaguar nos Estados Unidos. Foi o que aconteceu com Victor Wembanyama, um freak desenhado pela natureza humana com dimensões de ficção científica. Registado na NBA com 2,24 metros de altura, a estreia do jogador francês no principal campeonato da modalidade atraiu uma média de cerca de três milhões de pessoas para a transmissão televisiva.
Com 22 anos, menos 41 centímetros e uma visão não tão periférica do mundo, Caitlin Clark conseguiu também chegar ao topo e, num dos dias mais importantes da ainda curta carreira, pôs 3,4 milhões de pessoas em frente da TV para assistirem ao momento em que se tornou na melhor marcadora de sempre (homem ou mulher) da história do basquetebol universitário dos Estados Unidos (Divisão I).
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Da linha de lance livre, Catlin Clark ultrapassou os 3.667 pontos de Pete Maravich, um registo que durava desde 1970. Não forma como o fez não foi propriamente espetacular. Mais ao seu estilo, foi o triplo que lançou do meio da rua e com o qual ultrapassou Kelsey Plum (atualmente figura de proa das Las Vegas Aces, campeãs da WNBA) na lista de melhores marcadoras da competição universitária feminina, poucos dias antes de atingir o recorde absoluto. A Universidade de Iowa fez questão de eternizar o local desse lançamento no chão do pavilhão.
O sucesso tem um preço, mas não é para Caitlin Clark, que começa a celebrar acordos comerciais cada vez mais relevantes. A mobilização de fãs tem sido massiva. Habituada, como descreveu, a “jogar em frente a absolutamente ninguém durante a covid-19”, tornou-se na razão pela qual “agora é impossível conseguir bilhetes” para os jogos da Universidade de Iowa.
Todos os jogos em que Caitlin Clark participou este ano tiveram lotação esgotada. No último encontro de temporada regular em que participou, frente a Ohio State, os bilhetes atingiram preços nunca vistos numa partida de basquetebol feminino disputada nos Estados Unidos. O valor médio para entrar no pavilhão superou os 520€, de acordo com a plataforma “TickPick”.
Um namoro com Indiana que pode dar em casamento
A carreira de Caitlin Clark podia acabar amanhã que já tinha valido a pena. Ainda assim, muito falta contar e há histórias que começam com um fim. A carta em que se despediu da Universidade de Iowa vinha com um anúncio inevitável: a entrada no draft da WNBA, onde é apontada a ser a escolha número um.
A decisão implica abdicar da possibilidade (que existia) de permanecer mais um ano no basquetebol universitário. “Apesar da época estar longe do fim e tenhamos muitos mais objetivos para alcançar, este vai ser o meu último ano em Iowa”, comunicou.
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A primeira escolha do draft da WNBA pertence às Indiana Fever, que dificilmente não se deixarão seduzir pelas médias de 32 pontos (39% de aproveitamento de lançamentos triplos), sete ressaltos e nove assistências que Clark acumulou nos 30 jogos da fase regular da quarta época na NCAAW. Assim, Caitlin Clark pode vir a formar dupla com Aliyah Boston, outra grande promessa recrutada na temporada anterior pelo franchise.
Apesar do draft só acontecer a meio de abril, Caitlin Clark já assinou uma parceria com a empresa do ramo financeiro que patrocina as Fever e dá nome ao pavilhão onde a equipa joga. O conjunto de Indiana confirmou que tem recebido um número de questões fora do normal em relação à venda de bilhetes para a próxima época (o que também se reflete no preço).
Antes do próximo passo, Clark ainda vai perseguir novamente o título ao mesmo tempo que está perto de bater um novo recorde. O registo de mais triplos concretizados numa só temporada de basquetebol universitário (162), que Stephen Curry divide com Darius McGhee, está seriamente ameaçado.