Durante o intervalo para almoço, com o Pavilhão da Luz a não mais de dez minutos de distância, Jovana “Yoyo” Nogic ia afinar a pontaria. Lançava ao cesto três passos atrás da linha de triplo e com as bolas dos rapazes, maiores e, consequentemente, mais pesadas. Viveu em Lisboa até aos 17 anos, depois de, aos dois, o pai a ter trazido para Portugal com o objetivo de lhe dar o “estilo de vida” que a Guerra da Jugoslávia os impediu de ter em Belgrado.
Com nacionalidade portuguesa, a Jovana Nogic de 15 anos, na altura de integrar a primeira seleção nacional jovem, ficou “destroçada” por não ter sido chamada por Portugal. O talento que brotava neste país foi pescado pela Sérvia. Quando a seleção nacional se apercebeu do erro, era tarde demais. Atualmente, a jogadora de 26 anos representa a equipa nacional da Sérvia e prepara-se para, em Paris, estar ao serviço da nação dos Balcãs nos Jogos Olímpicos. “Se, com 15 anos, tivesse recebido convite da seleção portuguesa, agora, muito possivelmente, estaria a jogar por Portugal”, admitiu à Tribuna Expresso.
A Sérvia, que ocupa o mesmo grupo que Portugal na qualificação para o EuroBasket 2025, é atualmente uma das melhores seleções femininas. Foi quarta classificada nos Jogos Olímpicos de Tóquio, sagrou-se campeã europeia em 2021 e esteve no Mundial 2022. Por isso, os lugares entre as convocadas estão reservados às portadoras do dístico de jogadora de qualidade.
Jovana Nogic representa atualmente o Besiktas, que já tem lugar assegurado na final da EuroCup, a segunda competição mais importante do basquetebol europeu. A internacional sérvia é a segunda melhor marcadora da prova e soma médias de 17,6 pontos, 4,4 assistências e 4,4 ressaltos por jogo. Chegou à Turquia depois de quatro anos como profissional em Espanha, onde representou as catalãs do Cadi La Seu, o CDB Tenerife e o Campus Promete, mas foi ao serviço do Perfumerias Avenida que se estreou e jogou de forma consistente na EuroLiga, o escalão máximo do basquetebol europeu.
Nasceste em Belgrado, em 1997, durante a Guerra da Jugoslávia.
Quando tinha dois anos, por causa da guerra na Sérvia, os meus pais mudaram-se para Portugal para me proporcionarem melhores oportunidades e um melhor estilo de vida. O meu pai [Goran Nogic] é treinador de basquetebol. Ficámos em Cascais no primeiro ano, depois, fomos sete anos para Albufeira. Foi aí que comecei a jogar basquetebol, no Imortal. O meu pai recebeu uma oferta do Barreirense, ficou lá e, depois desse ano, recebeu uma proposta do Benfica [foi adjunto de Carlos Lisboa na equipa principal]. Nessa altura, mudámo-nos todos para Lisboa. Tinha dez anos. Comecei a jogar por influência do meu pai.
Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: fsmartins@expresso.impresa.pt