Modalidades

O que viesse já era bom, por isso foi bom o 9.º lugar de Inês Penetra e Beatriz Gonçalves na final dos Mundiais de canoagem

O que viesse já era bom, por isso foi bom o 9.º lugar de Inês Penetra e Beatriz Gonçalves na final dos Mundiais de canoagem

Era a estreia da jovem dupla portuguesa nos 500 metros de C2 em finais de Mundiais seniores. Numa corrida com ritmo estonteante, Inês Penetra e Beatriz Gonçalves foram a canoa mais lenta, mas saem de Milão como a 9.ª melhor parelha mundial. Após ficarem a uma vaga dos Jogos de Paris, o próximo objetivo é Los Angeles

Ao olho destreinado, poderá ser-lhe estranho observar duas pessoas avessas a sentarem-se na canoa, ambas com um joelho no chão e o que sobra para cima, em ângulo reto, formando a pose de pagaiar que segura o remo na vertical, cada uma a remar do seu lado que muito distinto é de cada uma remar para o seu lado, não é isso que Inês Penetra e Beatriz Fernandes tramam em Milão, idas para lá vindas de Coimbra, onde vivem, estudam e treinam.

A canoagem portuguesa, devoradora de vitórias e medalhas, acostumou quem atenta às suas proezas ao hábito de ver atletas a remarem sentados, com as perninhas esticadas adentro da canoa, uma pagaia dupla nas mãos e a embarcação a deslizar na água movida por uma força singular, a duplicar ou em quarteto, como aliás se vê nestes Mundiais. 

O brutal Fernando Pimenta lá anda sozinho, à pesca de um quarto título mundial em K1, enganando-nos de que será perene, os comparsas João Ribeiro e Messias Baptista vão partilhar canoa na final de K2 e ainda se encaixaram na derradeira regata do K4, na qual viraram campeões mundiais com Gustavo Gonçalves e Pedro Casinhas, os mais novos destas lides, ainda na margem fresca dos seus vintes. Na canoagem que divide os seus por siglas e números, todos pagaiam nos mesmos moldes, regidos pelos mesmos gestos técnicos, não como Inês Penetra e Beatriz Gonçalves. 

Esta sexta-feira, devolvidas ao Idroscalo di Milano, a dupla estreante em finais do Campeonato do Mundo em C2 tinha de fazer outros 500 metros nas águas do lago artificial das redondezas de Milão. Partiam da pista 2, assim ditaram os tempos de qualificação, não era a faixa mais apetecível para vigiar adversárias e controlar ímpetos.

O arranque foi bom, não o melhor, lá foram as comparsas sub-23 com a embarcação de seis metros e meio a ondular cima e baixo a cada síncrone pagaiada que davam Inês e Beatriz, mas, aos poucos, a canoa portuguesa foi saindo do plano da televisão, afastada pelo plano centrado nas ucranianas, canadianas ou espanholas, com as suas duplas na dianteira da corrida, a imporem um estonteante ritmo, demasiado para a dupla nacional.

As alunas do Instituto Politécnico de Coimbra, tituladas e medalhadas quando sozinhas na flutuação, acabariam no 9.º e último lugar, com o tempo de 1:58.19 segundos. Foi a primeira final de um Campeonato do Mundo para Inês Penetra, pretendente de se formar no toque da Fisioterapia, mas que se dedica aos sons e distúrbios Audiologia, forçosamente também para Beatriz Gonçalves, estudiosa de Fisiologia Clínica. Ambas continuarão a insistir, a trabalhar, a darem o litro sobre os litros cúbicos do Centro Náutico de Montemor-o-Velho, abeirado do Rio Mondego e vizinha da Coimbra que as faz repartir a agenda entre a canoagem e os estudos.

A mais nova da parelha que a apenas uma vaga ficou de estar, no verão passado, a pagaiar nas águas do Sena, dissera, feliz da vida, que “o que vier” na final “já é bom” após garantirem a presença na final com um 2.º lugar nas ‘meias’ de quinta-feira, que lhe ofertaram outro motivo para celebrar - calhou o feito ser no dia do seu 21.º aniversário. “Já merecíamos. Acho que mostrou o nosso valor e que merecemos estar no topo mundial e numa final”, completou Inês, a poucos meses de soprar 24 velas.

Por muito pouco não estiveram nos Jogos de Paris, a prioridade em diante será estarem em Los Angeles. Ficaram em último na final, mas de Milão saem como a 9.ª melhor dupla do mundo nos 500 metros de C2. É bom, claro.

Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: dpombo@expresso.impresa.pt