Os exames do 12.º ano estão quase aí, mas primeiro Gout Gout quer correr 200 metros em menos de 20 segundos nos Mundiais de atletismo. O jovem sprinter australiano que ainda partilha quarto com o irmão é uma das maiores atrações da competição que se realiza em Tóquio
Jornalista
Há métodos para medir a verdadeira magnitude de um indivíduo que, devido à dimensão qualitativa, superam os recursos à disposição das ciências exatas. Recentemente, foi pedido a Gout Gout, um adolescente envergonhado com dificuldades a falar em público, que assinasse a testa de um bebé. A experiência foi “surreal” para o jovem de 17 anos que o mundo parece conhecer mesmo antes do próprio se apresentar perante ele.
Quando, durante o ano passado, se falou de um prodígio que correu 200 metros mais rápido do que Usain Bolt com a mesma idade, o interesse brotou universalmente. O registo de 20.04 segundos conseguido nos All Schools Athletics Championships deixou queixos caídos, mas entretanto o australiano superou-se.
O surgimento de rompante, ritmo a que também está habituado a mover-se, precipitou a estreia de Gout Gout nos Mundiais de atletismo. Na primeira vez que vai participar na competição, surge como vice-campeão do mundo de sub-20 e com a 20.ª melhor marca do ano (20.02), recorde nacional.
Com o mundo inteiro a ver, o prodígio pensa em fatiar essa marca. “Estou muito entusiasmado para correr contra os melhores do mundo. Quero quebrar a barreira dos 20 segundos. Bater o meu recorde pessoal é um grande objetivo”, estabeleceu num encontro com jornalistas.
O foco não pode ser total. “Vou aos Mundiais e volto para a escola. Tenho duas semanas de férias. Depois, vou estudar, porque tenho exames em breve. São os exames finais do 12.º ano, são muito importantes.” É a melhor forma de valorizar os sacrifícios do pai que trabalha como técnico alimentar num hospital durante o dia e, à noite, conduz um Uber.
Pensa-se que Gout Gout pode chegar longe. O seu nome já muito viajou devido ao efeito positivo dos comentários de Usain Bolt sobre o seu potencial sucessor. No entanto, sempre que voltar a Ipswich terá que partilhar o quarto com o irmão mais velho, algo de que ainda não se conseguiu livrar.
Na Austrália, vão-se procurando razões para o fenómeno. Não há segredos mirabolantes. Tudo é inato em Gout Gout.
O “The Australian” consultou especialistas que apontam a dimensão dos tendões de Aquiles como fator diferenciador. A treinadora do sprinter, Di Sheppard, nota serem estes os causadores da propulsão que o move tão velozmente pela pista.
Em câmara lenta, parece voar como um saltador em comprimento. “Quando o pé toca no solo, os tendões agem como uma bola saltitona – ao mínimo contacto, ressalta rápido e com efetividade – e não como uma bola vazia”, elucida Dylan Hicks, cientista do movimento, ouvido pela publicação.
Na verdade, Gout Gout já correu 200 metros em menos de 20 segundos, nos Campeonatos Nacionais Australianos (19.84). O recorde não foi homologado, porque o vento soprava favoravelmente a 2,2 m/s. Ainda assim, serviu de material para o especialista ligado à Universidade de Flinders estudar cada passo daquele desempenho.
Dylan Hicks refere que a passada média de Gout Gout nesse dia ficou estabelecida nos 2,71 metros, consideravelmente superior à realizada por Bolt (2,45 metros) quando quebrou o recorde mundial nos 100 metros, em 2009.
Para se tornar mais dominante, em especial nos 100 metros, pode melhorar o arranque. 17 anos não é tempo suficiente para os músculos estarem plenamente desenvolvidos e o ajudarem nesse aspeto. Imagine-se quando atingirem o auge.
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