Modalidades

Beau Greaves, a jovem que aos 10 anos jogava dardos com o pai no pub, bateu Luke Littler, o campeão mundial

Beau Greaves, a jovem que aos 10 anos jogava dardos com o pai no pub, bateu Luke Littler, o campeão mundial
Lewis Storey

A britânica de 21 anos pode tornar-se na primeira mulher campeã mundial jovem de dardos. Para lá chegar, bateu o atual campeão mundial absoluto, ela que até há bem pouco tempo não acreditava que uma mulher pudesse competir em pé de igualdade com os melhores da modalidade. Estava enganada e ela própria o provou

O irmão Taylor tinha um alvo no quarto e foi lá que Beau Greaves lançou os primeiros dardos. A destreza e a precisão admiraram Taylor, que contou aos pais que a mana, ainda na primeira década de vida, tinha jeito, muito jeito para a atividade de acertar nas casas mais poderosas daquele círculo vermelho, branco, verde e preto. Beau começou então a acompanhar o pai ao pub. Por lá, foi fazendo a sua formação - não no sentido académico da coisa, claro está - frente a gente muito mais graúda. E quase todos homens. 

Beau Greaves falou deste início pouco ortodoxo de carreira nos dardos numa entrevista à BBC quando tinha 12 anos, onde confessou que sempre jogou mais com homens do que com mulheres. Viam nela já, então, uma futura campeã do mundo, num desporto tido como masculino, mas onde os géneros podem conviver nas mesmas competições. E também nas bancadas, loucas e barulhentas, onde dominam as fantasias e a cerveja, numa espécie de Comic-Con do desporto.

Esta semana, a jovem de 21 anos, nascida em Doncaster, no norte de Inglaterra, bateu o campeão mundial absoluto em título, outro miúdo, a sensação Luke Littler, de apenas 18 anos, no Campeonato Mundial jovem, tornando-se na primeira mulher a chegar à final da competição. Agora, todos esperam vê-la no Campeonato do Mundo em dezembro, ela que já é três vezes campeã mundial na competição exclusivamente feminina. 

A vitória frente a Littler foi épica, um 6-5 conseguido na derradeira rodada, frente a um atleta que já nem devia andar nestas andanças. O garoto britânico, um prodígio na modalidade, venceu o título jovem com 16 anos, antes de ser finalista no Mundial sénior há dois anos, e a sua participação na competição jovem foi até vista como injusta para os restantes inscritos. Greaves provou que tal não era verdade e o talento não está só nos dedos dos homens.

Curiosamente, Beau, que domina as provas femininas e construiu uma série de vitórias que já vai em 58 partidas consecutivas e nove competições no circuito destinado às mulheres, sublinhou em tempos não acreditar que fosse possível competir em pé de igualdade com os homens, defendendo que as competições fossem separadas.

BSR Agency

“Não acredito que alguma mulher algum dia vença no Ally Pally”, disse em julho, citada pela BBC, referindo-se ao Alexandra Palace de Londres, onde anualmente decorre o Mundial de dardos. “Não acho mesmo que algum dia seremos boas o suficiente para jogar contra o Luke Humphries, Michael van Gerwen ou Littler”. Paradoxalmente, Greaves mordeu a sua própria língua: acabou de bater Luke Littler e este ano, no UK Tour, esteve perto de eliminar Humphries, o líder do ranking mundial. Pode seguir-se o ouro mundial de jovens, o primeiro de uma mulher: a final disputa-se em novembro, frente a Gian van Veen, que defende o título. 

De acordo com a Sky Sports, Beau ‘n’ Arrow”, como é conhecida, uma brincadeira com “Bow and Arrow”, arco e flecha em português, deverá tornar-se na segunda mulher a conseguir o PDC Tour Card com base no mérito. Esta distinção permite-lhe jogar o circuito profissional nos próximos dois anos, dando-lhe acesso aos mais importantes torneios.  

Se decidir jogar o Mundial absoluto em dezembro, Greaves deverá ter a companhia de Fallon Sherrock, jogadora britânica que em 2019 entrou na história ao bater dois homens na competição, um deles o 11.º do ranking. Foi a primeira mulher a fazê-lo no Mundial, tornando-se na favorita do público. Na altura, Sherrock relembrou que as mulheres não têm “desvantagem física nos dardos” e que se não estavam tão presentes nas competições era apenas por falta de “oportunidades”, deixando o desejo de que as mais novas se sentissem inspiradas pelo seu feito. Greaves terá sido uma das miúdas.  

Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: lpgomes@expresso.impresa.pt