O local chama-se “kiss and cry”. É lá que os patinadores esperam, tantas vezes com a impaciência estampada na cara, as notas do programa que acabaram de desenhar no ringue de gelo. Acompanham-nos os treinadores, às vezes a família. O nome da sala é o mais literal possível: as câmaras filmam as emoções à flor da pele, às vezes há beijinhos, quando as coisas correm bem. Ou muitas lágrimas, se as marcas não agradam. Numa prova que junta a objetividade das acrobacias à subjetividade da beleza com que se patina, há sempre espaço para surpresas.
Desta vez, o que se mostra na zona kiss and cry pode valer outro tipo de castigos, que nada têm que ver com triplos axel, lutz ou flip. A União Internacional da Patinagem (ISU), que sanciona as competições de patinagem no gelo, está a investigar o par chinês de dança no gelo Ren Junfei e Xing Jianing por uma inusitada razão. Enquanto esperavam as suas pontuações no Grand Prix de Chongqing, na China, os atletas da casa, com as câmaras apontadas para si, seguraram o que parecia um míssil balístico de peluche.
O objeto é uma aparente cópia do míssil chinês DF-61, uma novidade da indústria de armamento do país, com capacidade nuclear e apresentada ao mundo numa parada militar a 3 de setembro, que anualmente celebra o final da II Guerra Mundial e da II Guerra Sino-Japonesa.
A demonstração belicosa do par chinês não agradou à ISU que, instada pela Associated Press a reagir, revelou que o peluche em forma de míssil “terá sido atirado das bancadas por um espectador” depois da prova da dupla, que depois o levou para a sala onde esperaram as pontuações.
“A ISU lamenta o incidente e vai investigar o caso”, garantiu ainda o organismo à AP.
Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: lpgomes@expresso.impresa.pt