Vida marcou no prolongamento e tudo parecia decidido, mas...
KIRILL KUDRYAVTSEV
Um jogo que começou parado, paradinho, foi animando à medida que os minutos iam passando: 1-1 no final dos 90'; 2-2 no final dos 120'; e, nos penáltis, os croatas foram mais fortes. Quarta-feira, nas meias-finais do Mundial, há Croácia-Inglaterra (e, terça-feira, Bélgica-França)
Não há muito mais do que o verde do relvado de Fisht a ligar o Mundial ao All England Lawn Tennis Club, onde se está a disputar mais uma edição de Wimbledon. Mas, esta noite, em Sochi, assistimos a uma espécie de Marat Safin-Goran Ivanišević, em relva, mas bem lá no fundo do court, com nenhum deles a querer arriscar a subir à rede - nem os 11 'Safin' de um lado nem os 11 'Ivanišević' do outro.
Bola para lá, bola para cá - foi assim praticamente toda a 1ª parte do Rússia-Croácia, onde ninguém se quis comprometer muito com o jogo. Ou, melhor dizendo, com a iniciativa do jogo, traduzida no afeto demonstrado à bola, que só não foi nulo porque estavam em campo uns artistas chamados Golovin e Cheryshev, de um lado, e Modric e Rakitic, do outro.
Mas um, dois, três ou quatro talentos, por si só, não fazem uma, ou, no caso, duas equipas: é preciso intenção coletiva.
Se, do lado russo, a intenção prévia já era bem conhecida - manter essencialmente um bloco coeso em termos defensivos, em 4-4-2, para depois sair em contra ataque sempre que possível -, do lado croata houve uma pequena desilusão.
É certo que a Croácia não tinha ainda produzido uma exibição de encher o olho, mas já tinha acumulado algum crédito com vitórias importantes, como a que conseguiu frente à Argentina (3-0). Mas, tirando os dois artistas já mencionados, pouco mais houve para ver por parte dos croatas.
Fortemente pressionada pela Rússia na sua primeira fase de construção, a Croácia optou quase sempre por bater a bola na frente - desta vez houve Mandzukic e Kramaric no ataque (Brozovic começou no banco) -, com exceção para as vezes em que Rakitic se juntava aos centrais e lhes pedia a bola no pé para depois ser ele a conduzi-la por ali fora - uma ação com risco, mas que ia criando desequilíbrios lá muito de vez em quando.
De resto, pouco mais houve a registar, além de uma bola a passar muito tempo no ar.
Até que, aos 31 minutos, Cheryshev foi por ali fora, tabelou com Dzyuba e deu um pontapé no marasmo que se vivia em Fisht, enviando a bola ao ângulo da baliza de Subasic, que só a viu passar.
Pressionada pelo resultado, a Croácia rapidamente empatou, num dos poucos momentos em que a organização defensiva compacta dos russos se desfez.
Mario Fernandes saiu a uma bola lá na frente, o central Kutepov ajustou no corredor direito e saiu a Perisic, mas o croata lançou rapidamente na profundidade Mandzukic, que entrou na área russa sem pressão e ofereceu o golo a Kramaric.
1-1.
Andrej Kramaric desviou a bola do alcance de Akinfeev
ODD ANDERSEN/GETTY
O intervalo apareceu entretanto e, na 2ª parte, as ideias croatas também pareciam começar a aparecer: Kramaric tentou um belo pontapé acrobático, que foi defendido por Akinfeev, e Perisic enviou um remate certeiro ao poste da baliza russa.
A Croácia tinha mais bola e parecia estar mais perto do golo, mas o equilíbrio mantinha-se: ninguém criava verdadeiras oportunidades de golo e os 90 minutos passaram sem que houvesse mais golos - o único sobressalto esteve numa lesão de Subasic que, afinal, não pareceu ser mais do que uma cãibra; mas Smolov ainda tentou, nos descontos, surpreender o guarda-redes croata, que parecia algo limitado.
No prolongamento, mais do mesmo: bola lá e bola cá, agora muito cansaço mental e físico à mistura (Vrsaljko saiu lesionado) e ficava claro que, a haver golo, era provável que aparecesse na sequência de uma bola parada.
E, aos 100 minutos, num canto para a Croácia, Ignashevich preocupava-se com o 1,90 de Mandzukic, mas ninguém reparou no homem que aparecia por trás do colega: Vida, o central que dava mais Vida à Croácia neste Mundial (perdoe a graçola fácil, caro leitor).
Parecia tudo resolvido.
Vida marcou no prolongamento e tudo parecia decidido, mas...
KIRILL KUDRYAVTSEV
Só que a vida tem coisas inesperadas e, num livre do outro lado do campo, já aos 115 minutos, a bola foi lançada para área e aí apareceu a cabeça de um brasileiro que fugia e desaparecia e que agora é um russo que está sempre no lugar certo (como o apelidou o meu colega Diogo Pombo AQUI): Mário Fernandes.
Só que o russo que nasceu em São Caetano do Sul não conseguiu voltar a acertar com a baliza nos penáltis, tal como Smolov, que deixou Subasic defender uma 'Panenka' mal feita, e, assim, de pouco valeram os remates certeiros de Dzagoev, Ignashevich e Kuzyaev.
Kovacic foi o único croata a falhar (Akinfeev defendeu), pelo que os penáltis de Brozovic, Modric (Akinfeev ainda desviou a bola, mas ela embateu no poste e acabou por entrar), Vida e, por fim, Rakitic deram a vitória aos croatas.
Ou melhor, deram-lhes mais uns tempos de vida. Mas, a continuar a jogar assim, contra Inglaterra, nas meias-finais (onde os croatas já não chegavam desde 1998, ano em que perderam com a França), as hipóteses de sucesso vão ser muito reduzidas.