Com transições matas, com transições morres (tudo o que precisa de saber sobre a primeira meia-final do Mundial 2018)
Eden Hazard, capitão belga
MANAN VATSYAYANA/GETTY
Há algo muito fácil que se pode escrever sobre este jogo: é uma final antecipada. Mas nós gostamos de coisas difíceis e por isso queremos perceber por que motivo é que isto é essa final antecipada. O analista Tiago Teixeira explica então as virtudes do França-Bélgica, que é o espetáculo mais aguardado desta semana: começa às 19h desta terça-feira e decide qual dos vizinhos é que continua na luta pelo troféu mais importante do futebol mundial
Tiago Teixeira, analista de futebol
Depois de eliminarem as últimas duas seleções sul-americanas presentes no Mundial (Brasil e Uruguai), França e Bélgica defrontam-se agora em luta por um lugar na final, naquela que é provavelmente a meia-final mais aguardada da prova (quarta-feira há Inglaterra-Croácia).
Entre surpresas táticas, transições - ofensivas e defensivas - e bolas paradas, há muito para ver e perceber neste França-Bélgica (19h, RTP1).
Que Bélgica podemos esperar contra França?
Nojogo dos quartos-de-final contra o Brasil, que a Bélgica venceu por 2-1, o selecionador belga, Roberto Martínez, surpreendeu ao mudar o sistema de jogo, do habitual 3-4-2-1 para uma espécie de 4-3-3, com um “falso 9” - Kevin De Bruyne jogou na posição de avançado centro, mas recuou sempre muito.
Deste modo, em vez da linha defensiva composta por cinco jogadores, com que a Bélgica costumava defender, Roberto Martínez apresentou uma linha defensiva apenas com quatro jogadores, optando por ter sempre três médios no corredor central, que basculavam para os corredores laterais quando era necessário ajudar o respetivo lateral, uma vez que Lukaku e Hazard, que jogaram mais sobre os corredores laterais, raramente baixavam para ajudar nas tarefas defensivas, preocupando-se apenas com o momento ofensivo.
Apesar do posicionamento tático ter sido diferente (principalmente em organização defensiva) quando comparado com os jogos da fase de grupos e com o jogo dos oitavos-de-final frente ao Japão (3-2), a ideia de jogo não se alterou.
Por isso, a Bélgica voltou a demonstrar por que motivo é a seleção mais concretizadora do Mundial (14 golos marcados), através de vários ataques rápidos muito bem conduzidos e de combinações eficazes entre Hazard e De Bruyne, que mesmo em situações de inferioridade numérica conseguem progredir de forma apoiada.
A previsível França
Com o previsível regresso de Matuidi ao onze inicial (não esteve presente, devido a castigo, na vitória por 2-0 frente ao Uruguai, no jogo dos quartos-de-final), a seleção francesa deverá voltar ao sistema de jogo 4-2-3-1 assimétrico que tem utilizado durante o Mundial.
Assimétrico porque o médio Matuidi, que em organização defensiva ocupará o corredor lateral esquerdo, quando a França tiver a posse de bola, terá um posicionamento mais interior, deixando o corredor lateral para o defesa esquerdo Lucas.
O médio ofensivo Griezmann e o ponta de lança Giroud serão as principais opções de passe dentro do bloco defensivo belga, uma vez que são dois jogadores com muita qualidade a servir de apoio frontal e a criar espaços.
De referir também a importância das trocas posicionais entre Griezmann e Mbappé, que muitas vezes invertem os seus papéis em organização defensiva (Griezmann fecha na direita e Mbappé fica no corredor central), com o objetivo de, após a recuperação da bola, ter Mbappé no corredor central pronto a explorar o espaço nas costas da linha defensiva adversária.
E isso leva-nos a um ponto essencial deste jogo: as transições.
Num jogo onde não se prevê um domínio claro ao nível da posse de bola por parte de nenhuma seleção, as transições ofensivas poderão voltar determinantes no resultado final.
Neste momento do jogo destacam-se jogadores como os mágicos Hazard e De Bruyne, mas também Lukaku, que apesar de revelar algumas limitações técnicas, consegue através da sua capacidade física ser bastante útil quando a seleção belga procura sair rápido para o ataque.
Do lado francês, além da capacidade de Griezmann na definição das transições ofensivas (sabe quando e para onde soltar a bola), e da velocidade e explosão de Mbappé, há ainda Giroud, que através dos seus apoios frontais consegue criar muito espaço, pois ao recuar “arrasta” consigo os centrais adversários, e isso pode ser aproveitado por outros jogadores.
A importância das bolas paradas
As bolas paradas têm sido determinantes durante todo o Mundial e, numa meia-final tensa, onde todos os detalhes são importantes, poderão voltar a ser decisivas.
Isso mesmo aconteceu no Brasil-Bélgica e no França-Uruguai, onde belgas e franceses passaram para a frente do marcador através de lances de bola parada: Varane marcou para os franceses na sequência de um livre batido por Griezmann e um autogolo de Fernandinho na sequência de um canto deu vantagem aos belgas.
Varane a marcar frente ao Uruguai
Anadolu Agency
Neste momento do jogo, tanto uma como a outra seleção tem jogadores bastante fortes pelo ar, como por exemplo Lukaku, Fellaini e Kompany do lado belga, e Varane, Umtiti e Pogba do lado francês, e excelentes marcadores de bolas paradas, como De Bruyne e Griezmann, respetivamente.
Em jeito de curiosidade, referir que a Bélgica, nos cinco jogos já disputados, conquistou o dobro dos cantos que a França conseguiu (30-15). Esta noite, todos os pormenores podem fazer a diferença.