Mundial 2018

Qualidade lá atrás para chegar com perigo lá à frente: Inglaterra e Croácia disputam lugar na final do Mundial 2018

O central Maguire tem sido um dos destaques da seleção inglesa - tanto atrás como à frente, onde marcou um golo nos quartos-de-final contra a Suécia
O central Maguire tem sido um dos destaques da seleção inglesa - tanto atrás como à frente, onde marcou um golo nos quartos-de-final contra a Suécia
Foto Getty

A experiente Inglaterra continua a sonhar com a repetição do feito de 1966 e a novata Croácia quer chegar onde nunca chegou: o analista Tiago Teixeira explica-nos o que devemos esperar da segunda meia-final do Mundial, marcada para esta quarta-feira (19h, RTP1)

Texto Tiago Teixeira, analista de futebol

A nova e melhorada Inglaterra

Depois de eliminarem a Suécia nos quartos-de-final, ao vencerem por 2-0 (têm agora 11 golos marcados), e atingirem as meias-finais, os ingleses depositam todas as esperanças na ideia de jogo que aos trouxe até uma fase tão adiantada da competição.

E que ideia é essa? Em traços gerais, assenta num futebol de posse desde zonas mais recuadas - a partir dos três centrais, habitualmente Stones, Maguire e Walker -, sempre com o objetivo de progredir em direção à baliza adversária de forma apoiada.

Contra a Croácia, a seleção inglesa, estruturada no sistema de jogo 3-5-2, procurará construir com os tais três jogadores numa primeira fase, como tem feito habitualmente, para depois tentar ligar com os jogadores dentro do bloco adversário (Lingard, Alli e Sterling), no corredor central, ou com os alas (Young e Trippier) que se posicionam fora do bloco, a dar largura nos corredores laterais.

A qualidade na construção desde zonas mais recuadas, que a seleção inglesa tem demonstrado ao longo do Mundial, tem no central Stones, do Manchester City, o principal responsável. A capacidade para ligar a construção com os médios através do passe, bem como a inteligência com que o faz, tem sido determinante para que a Inglaterra consiga progredir de forma apoiada desde uma fase mais recuada até ao meio-campo defensivo do adversário.

A Croácia... de Modric

Depois de vencer os três jogos da fase de grupos, onde apenas sofreu um golo e marcou sete, a Croácia tem confiado nos penáltis para seguir em frente, sendo que foi assim que eliminou a Dinamarca nos oitavos-de-final e a Rússia nos quartos-de-final.

Contra a Inglaterra, a seleção croata enfrentará um desafio parecido ao do jogo contra a Argentina, na 2ª jornada da fase de grupos, que venceu por 3-0.

A estratégia para enfrentar uma construção a três passou, nesse jogo, por deixar apenas Mandzukic numa primeira linha de pressão e atrás dele apresentar uma linha média composta por cinco jogadores, onde os extremos tiveram muitas preocupações individuais com os alas argentinos, e os restantes médios deram cobertura defensiva a quem saía ao portador da bola, de modo a manter o bloco defensivo compacto.

Na imagem seguinte fica demonstrado o possível posicionamento dos croatas frente aos ingleses, com base no que fizeram no jogo frente à Argentina, seleção que também construía com três defesas atrás.

Apesar da Croácia ser uma seleção que gosta de ter a posse de bola e de construir de forma apoiada, e de ter médios com muita qualidade para o fazer, não tem sido, nesta fase do “mata mata” uma equipa entusiasmante em termos ofensivos, revelando algumas dificuldades na ligação entre a fase de construção e de criação, o que acaba por resultar em dificuldades na criação de oportunidades de golo.

O único croata que não tem revelado qualquer dificuldade em nada é Modric, que desde do início do Mundial tem demonstrando toda a sua qualidade técnica, inteligência e criatividade no momento ofensivo, tendo já marcado dois golos e feito uma assistência nos cinco jogos já disputados.

No momento defensivo, além de toda a qualidade que Modric revela no posicionamento, destacam-se os mais de 50 km percorridos nos cinco jogos realizados.

Clive Brunskill

Com qualidade atrás, para chegar com perigo à frente

Sendo estas duas seleções que gostam de ter a posse de bola e de tentar construir de forma apoiada quando possível, prevê-se um jogo equilibrado, sem que nenhuma seleção demonstre um domínio claro sobre a outra.

Contudo, a Inglaterra, pela qualidade com que começa a construir desde trás (tem defesas com mais qualidade na construção, quando comparada com a Croácia) poderá chegar a zonas de criação em melhores condições, seja pelo corredor central, seja pelos corredores laterais.

Além disso, o facto da seleção inglesa ter Kane e Sterling na frente de ataque permite-lhe uma variabilidade de movimentos (tanto recuam para pedir a bola no pé como fazem movimentos de rutura para receber a bola nas costas dos defesas adversários) que Mandzukic não oferece ao ataque croata, uma vez que é um avançado com menos capacidade nos movimentos de rutura, sendo que isso pode ser um fator de desequilíbrio em termos ofensivos.

Jan Kruger

Numa meia-final que pode ser decidida em detalhes, outro fator de desequilíbrio pode ser a concretização de bolas paradas, como aconteceu nos jogos dos quartos-de-final, onde tanto a Inglaterra (Maguire) como a Croácia (Vida) marcaram através desses lances.

Neste momento do jogo, tanto uma como a outra seleção tem jogadores que podem resolver o jogo: Kane, Maguire e Stones do lado inglês e Vida, Lovren e Mandzukic do lado croata. Mas há mais este dado a ter em conta, sobre o aproveitamento inglês neste tipo de lances: a equipa de Gareth Southgate marcou oito dos seus 11 golos em cantos e livres, o que faz dela a mais concretizadora do Mundial nesses momentos. Cuidado com eles.

Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: tribuna@expresso.impresa.pt