A confiança sem presunção, o amigo Hierro, um Fernando Santos entre o divertido e exasperado na véspera da estreia de Portugal
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Selecionador nacional riu-se a bom rir quando lhe perguntaram pelos titulares do jogo de sexta-feira frente a Espanha e enfadou-se ligeiramente quando se repetiram as perguntas sobre Lopetegui. O que interessa mesmo é que daqui a 24 horas vai-se jogar aquele que é, provavelmente, o melhor jogo da fase de grupos
Lídia Paralta Gomes, enviada especial ao Mundial2018, na Rússia
Ser jornalista num Campeonato do Mundo tem destas coisas: enquanto milhões de seres humanos deste planeta assistem à cerimónia de abertura da prova, ao discurso de Vladimir Putin e ao pirete de Robbie Williams em direto, há muito mais a acontecer na Rússia.
A conferência de João Moutinho e Fernando Santos, por exemplo, a última antes do jogo de estreia de Portugal neste Mundial, na sexta-feira frente à seleção espanhola, no Estádio Fisht, em Sochi.
Para muito boa gente, o duelo ibérico será o melhor jogo da fase de grupos e talvez por isso a sala de imprensa se tenha tornado uma espécie de Nações Unidas: é certo que portugueses e espanhóis estão em clara maioria, mas também se ouve italiano, chinês, japonês, alemão, russo. Há jornalistas da Venezuela, Inglaterra, Suíça, Estados Unidos, Holanda, México e muitos, muitos brasileiros – a canarinha está a estagiar na cidade e nada como juntar útil ao agradável.
Talvez seja mais fácil para um jornalista de fora ter consciência dessa evidência: por estes dias, um Portugal-Espanha é um clássico. É um jornalista de Goiânia, do Brasil, que questiona Fernando Santos se, de facto, sexta-feira se vai jogar o melhor encontro fase de grupos. “Tem tudo para ser um grande jogo, num estádio bom, com público bom”, diz diplomaticamente o selecionador nacional.
Fernando Santos diz-se “confiante sem presunção” para o jogo com Espanha, mesmo que a história diga que há 10 anos que Portugal não vence o jogo de estreia numa grande competição. Santos sublinha que anda há quatro anos a ouvir esses números e que o passado não interessa. Mas que talvez esteja na hora virar o presente. “Sim, acho que tempo de matar essa tradição. Matar entre aspas que eu não gosto dessa expressão”.
O engenheiro está calmo, incrivelmente calmo para quem daqui a 24 horas terá o jogo de uma vida. E até tem um ataque de riso, um valente ataque de riso quando alguém questiona João Moutinho se, por estar ali em frente aos jornalistas, será titular frente a Espanha.
“Já aconteceu estar aqui uma vez e no dia seguinte estava fora!”, diz o médio. Será por causa disso que Fernando Santos ri a bandeiras despregadas? Talvez seja porque em décadas de vida de treinador essa pergunta já lhe tenha sido feita centenas de vezes. Mas alguém tenta de novo.
“Queres saber tu e o treinador espanhol. Mas ninguém vai entregar o jogo um ao outro. Sou amigo do Hierro, mas não lhe vou entregar o jogo”, frisa. Já antes, Fernando Santos se tinha referido ao recém, aliás, muito recém selecionador espanhol, o homem que terá a responsabilidade de liderar a equipa espanhola no meio do tumulto que foi o despedimento de Lopetegui. Naturalmente que os jornalistas espanhóis estão interessados em saber o que pensa Fernando Santos sobre a confusão – perguntam-lhe até se faria o mesmo que Lopetegui se o Real Madrid lhe batesse à porta antes de um Mundial - mas o treinador campeão da Europa não está para polémicas. “Vai ser a estreia de Portugal e Espanha, do outro lado vai estar o Hierro de quem sou amigo - mas desta vez não lhe desejo sorte. Isso é que é importante, tudo o resto é acessório”.
Uma acrobacia de Ronaldo no treino
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Depois das perguntas normais sobre Ronaldo (“Extraordinário capitão, extraordinário jogador”) e condição física (“Não estamos a 100% porque a época foi longa, mas estamos preparados”), nova investida espanhola sobre a questão Lopetegui. E é aí que o engenheiro dá os primeiros sinais de exasperação. “A Espanha joga há 10 anos da mesma maneira, não estou à espera de qualquer surpresa”.
E mesmo se estivesse à espera, não iria contar, certo?
Após a conferência de imprensa, os habituais 15 minutos de treino aberto não disseram nada mais do que aquilo que uns habituais 15 minutos de treino aberto costumam dar. Mas pelo menos viram-se os jogadores portugueses bem-dispostos e, mais relevante, o relvado do impressionante Estádio Fisht, onde de um lado se vêem as montanhas e do outro o mar, a ressentir-se dos “meeinhos” dos nossos jogadores.
É pena, um jogo destes merecia condições excelentes.