Grupo D

E os vikings travaram mais um gigante no dia não de Messi

E os vikings travaram mais um gigante no dia não de Messi
VI-Images

Depois de Portugal e Inglaterra no Euro 2016, a Islândia voltou a surpreender um favorito numa grande competição. Nada mais, nada menos que a Argentina de Lionel Messi, que na estreia na Rússia não conseguiu mais que um empate (1-1) frente a uma muito bem organizada equipa nórdica. Foi uma surpresa, é certo, mas será cada vez menos

Por estes dias há muitos adeptos de futebol espalhados pela Rússia. Sejam eles das equipas que jogam este Mundial como de nações como a China, Vietname ou Bangladesh.

Mas não vamos estar aqui com rodeios: não há adeptos que levem isto mais a sério quanto brasileiros e argentinos, curiosamente povos que se irritam mutuamente. Eles são uma espécie de profissionais nisto de ser adepto, enquanto os restantes, por muito que amem a sua seleção e o seu país, são meros aprendizes. Eles planeiam a sua vida e as suas férias em função das datas FIFA, fazem do mês de Mundial um período sagrado, em que todos os meios são permitidos para chegar a um fim: ver todos os minutos de futebol disponíveis.

Brasileiros vi muitos em Sochi, argentinos vejo agora em Moscovo, hordas deles, alguns desesperados para arranjar bilhetes, com cartazes no metro e nas imediações do estádio do Spartak Moscovo. Para o argentino, um Campeonato do Mundo é mais que a sua seleção, é a afirmação do seu clube, da sua pequena aldeia. Nas bancadas da Otkrytie Arena mal se vêem elementos que representem a competição: tudo foi tapado com imagens de jogadores atuais e antigos e bandeiras de clubes tão diversos quanto o Huracán, o Atletico de Rafaela, o Nueva Chicago ou o Tigre.

Não sei se há alguém mais orgulhoso no seu futebol quanto os argentinos.

É claro que o orgulho não serve para ganhar jogos. Nem sequer ter um dos melhores do planeta a jogar à bola. E é por isso que o empate da alviceleste frente à Islândia (1-1) é bem capaz de ser a primeira grande surpresa deste Mundial, ainda que nenhum de nós estivesse exatamente mal-informado: no Europeu de 2016, a Islândia também nos travou no primeiro jogo, também por 1-1 e nessa mesma prova chegaria aos quartos de final depois de eliminar Inglaterra.

Finnbogason marca o golo do empate em Moscovo
Clive Rose/Getty

A Argentina é só mais uma gigante vítima destes vikings, os homens que levam ao peito o símbolo do país menos populado de sempre a jogar uma fase final de um Campeonato do Mundo.

E não se pense que foi tudo sorte ou um dia não de Lionel Messi (que, de facto, foi): a Islândia preparou-se bem, sabe jogar de forma inteligente, interligar boas jogadas de ataque, às quais junta uma capacidade de sacrifício que será a única coisa que serve a uma equipa para travar Messi.

O anti-Ronaldo

É possível que o destino do jogo, ou pelo menos a sua competitividade, tenha tido o seu primeiro momento logo nos hinos. Não sei se é de ter ficado tão perto do relvado – nisso o estádio do Spartak é bem capaz de ser dos melhores para um jornalista sentir o jogo – ou da acústica ser do outro Mundo, mas ambos os hinos foram cantados, ou pelo menos soaram, como se não existissem outras canções no Mundo e fosse preciso cantar com toda a paixão aquilo que se tem.

Pelo meio, os adeptos islandeses - bem menos que os argentinos mas é preciso perceber a proporção populacional dos dois países – ensaiaram o primeiro aplauso viking, que iria repetir-se ao longo do jogo mais um par de vezes.

Um aplauso que terá dado a força necessária para os islandeses entrarem bem: com alguma surpresa, o primeiro remate do jogo foi de Sigurdsson. A partir daí, a Argentina, com Salvio a titular na lateral direita, tentou pé ante pé avançar em campo, como uma bem organizada equipa de râguebi, mas nunca com a rapidez necessária para enganar um adversário que, mais que sólido, é quase uma parede a defender – e isto não é uma crítica, eles fazem-no bem e de forma leal e isso pode bem explicar o eclipse de Messi neste jogo.

Até aos 20 minutos, altura em que Kun Aguero fez o primeiro golo do jogo com um belo remate à meia volta, as oportunidades dividiam-se e havia perigo dos dois lados. Talvez por isso Jorge Sampaoli andasse de um lado para o outro, como aquelas pessoas que estão muito preocupadas com algo e esperam nesse vai e vém encontrar uma solução. E mesmo com a Argentina em vantagem, as piscinas de Sampaoli não pararam.

Porque talvez ele tivesse mesmo razões para estar preocupado: aos 23 minutos, após uma jogada de insistência, Finnbogason aproveitou uma defesa incompleta de Willy Caballero para fazer a recarga e o empate, que só seria uma surpresa para quem não estava a ver o jogo.

Lionel Messi falhou uma grande penalidade, num jogo em que nunca conseguiu dar conta da marcação islandesa
MB Media/Getty

Já Lionel Messi, estava a ter (e continuaria a ter) uma tarde frustrante. Se na véspera tudo tinha saído bem a Cristiano Ronaldo, este sábado em Moscovo tudo correu ao contrário para o jogador do Barcelona. Não ajudou a marcação impiedosa e constante de Birkir Bjarnason, mas Messi nunca pareceu ter a imaginação e frescura para se desfazer do adversário – e todos sabemos que as marcações nem sempre são um problema para Messi.

Auge de toda esta tarde não foi o penálti falhado aos 64 minutos, frente a um gigante Hannes Halldorsson, o homem que ainda há poucos anos ganhava a vida como realizador de vídeos (realizou, por exemplo, o videoclipe da música com que a Islândia concorreu ao festival da Eurovisão em 2012). Halldorsson foi sempre a última barreira nas poucas vezes que Messi conseguiu sair da marcação da defesa islandesa, mas nem aí as coisas lhe correram bem. A imagem da estrela argentina de cabeça baixa no final do jogo dizia tudo.

O empate frente à Islândia é tudo menos o ideal para a Argentina, até porque os restantes jogos da fase de grupos não serão passeios na praia: na próxima jornada defrontam a Croácia de Luka Modric e no último jogo a Nigéria.

E mais que isso, o jogo não foi bom.

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