Regresso ao futuro senegalês

Tal como em 2002, quando se estreou no Mundial, o Senegal venceu o primeiro jogo na prova, agora em 2018, perante a Polónia (2-1), numa partida que só teve uma parte (mais ou menos) emocionante
Tal como em 2002, quando se estreou no Mundial, o Senegal venceu o primeiro jogo na prova, agora em 2018, perante a Polónia (2-1), numa partida que só teve uma parte (mais ou menos) emocionante
Jornalista
A 31 de maio de 2002, em Seul, a França iniciava a defesa do título mundial perante uma pequena seleção africana que se estreava em Campeonatos do Mundo, sem pressão e expetativas. Aquela seleção de nomes mais ou menos desconhecidos, capitaneada por um tal de Aliou Cissé, conseguiria então um feito em que poucos acreditariam: não só derrotou os campeões mundiais, por 1-0, como foi andando, pé ante pé, na sua primeira prova mundial, até aos quartos-de-final, nos quais só perdeu nos penáltis, perante a Turquia. Até hoje, essa mantém-se a melhor marca de uma seleção africana na maior prova de futebol do mundo.
16 anos depois, o Senegal regressou a um Mundial, outra vez sem pressão e expetativas, mas com vontade de surpreender. Agora com Aliou Cissé como selecionador, os senegaleses de 2018 fizeram lembrar os senegaleses de 2002. "Naturalmente são feitas muitas comparações, mas aquela equipa já faz parte da nossa história. Agora, nós também temos bons jogadores e podemos criar a nossa história", disse Cissé, antes da estreia perante a Polónia.
Tem razão.
Mais do que ser a seleção de Sadio Mané - um dos velocistas do trio de ataque do Liverpool -, o Senegal mostrou ser a seleção de Mané, Koulibaly, Sabaly, Gueye, Niang, Sarr - que é como quem diz um coletivo organizado, bem longe daquilo que costumava ser o típico caos das seleções africanas, com intenções claras: fechar bem todos os espaços possíveis e imagináveis por onde os polacos poderiam (contra) atacar e, assim que recuperavam a bola, procurar lançar ataques rápidos à profundidade.
Foi assim que, na 1ª parte, houve zero - z-e-r-o - oportunidades de golo. E, ainda assim, um golo. Porque a Polónia teve sempre mais bola, mas nunca percebeu como entrar no bloco senegalês, que impediu constantemente os médios mais criativos dos polacos, Krychowiak e Zielinski, de receberem a bola, e foi deixando os senegaleses, aqui e ali, arrancarem em velocidade para perto da baliza de Szczesny.
Aos 37 minutos, num ataque rápido pela esquerda, Niang ultrapassou Piszczek e entregou a Mané que, por sua vez, encontrou Gueye em frente à área, no corredor central. O médio do Everton rematou e contou com a ajuda do polaco Thiago Cionek (no lugar do habitual titular Kamil Glik, lesionado), que desviou a bola para dentro da baliza, enganando Szczesny.
Foi o único momento de algum cariz mais ofensivo numa 1ª parte muito intensa, ao nível dos duelos físicos, mas muito parada, ao nível do jogo jogado - ambas as equipas queriam desequilíbrios para acelerar, mas o equilíbrio, de mão dada com a estratégia predominantemente defensiva, foi dominante.
Felizmente, na 2ª parte, o último jogo da 1ª jornada do Mundial 2018 animou, já que a Polónia se viu obrigada a ir atrás do empate - o selecionador Adam Nawalka tirou Blasczykowski e pôs em campo Bednarek, para poder utilizar um 3-4-3.
Logo nos primeiros minutos, Lewandowski, o goleador polaco, tentou imitar Cristiano Ronaldo, mas o guarda-redes Khadim N´Diaye fez uma grande defesa ao livre direto marcado pelo avançado do Bayern de Munique.
A Polónia tinha mais bola e, finalmente, conseguia chegar mais perto da área senegalesa, mas, aos 60 minutos, no melhor momento polaco... o Senegal marcou. Krychowiak passou a bola para trás de forma desastrada, criando confusão entre o defesa Jan Bednarek e o guarda-redes Szczesny, fora da área, e Niang apareceu do nada - ou melhor, da linha lateral, já que tinha acabado de entrar em campo depois de ter sido assistido - para roubar a bola e fazer o 2-0.
Corria tudo bem ao Senegal e tudo mal à Polónia, que só conseguiu reduzir aos 86 minutos, através de um cabeceamento de Krychowiak, após um livre batido para área por Grosicki.
Mas nem assim houve mais Polónia nos últimos minutos: os senegaleses pareceram sempre confortáveis e, depois do apito final, ajoelharam-se, beijaram a relva e dançaram, junto aos adeptos.
Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: mmcabral@expresso.impresa.pt