O Senegal - Colômbia era um jogo de treinadores, um em estado de graça, outro caindo em desgraça, ainda que Aliou Cissé não estivesse muito melhor do que José Pekerman. A diferença entre os dois era basicamente uma questão de expectativas de perceção, porque matematicamente ambos tinham condições de apurar-se para os oitavos de final - os senegaleses podiam jogar com dois resultados, um empate e uma vitória, e aos colombianos apenas interessava o triunfo.
Acabaram por ser estes últimos a seguir em frente, com um triunfo (1-0) magro, alcançado num cabeceamento poderoso de Mina na 2.ª parte.
Os africanos ficaram para trás, não porque tivessem menos pontos (4) do que os japoneses, ou porque estivessem em desvantagem no confronto direto (2-2) ou na diferença de golos (4-4) - os africanos foram eliminados por terem somado mais dois cartões amarelos do que os asiáticos, o quarto factor de desempate quando todos os outros estão empatados.
E assim saiu de cena Cissé, o treinador mais jovem (42 anos) e o único negro no Mundial, e também aquele a quem a tragédia bateu à porta ainda era jogador: perdeu 12 familiares num acidente de ferry, em 2002, o ano em que o Senegal se estreou em Mundiais, como ele a capitanear a equipa.
Mas assim ficou Pekerman, o argentino que se move por meios estranhos, que não dá uma entrevista vai para seis anos, que passa grande parte do ano em parte incerta, e que tem uma nebulosa ligação ao empresário Pascual Lezcano, acusado de colocar os seus jogadores na seleção para, enfim, fazer os seus negócios.
Como os destinos destes dois se despegaram é toda uma outra história, mais aborrecida e lenta, que se devia contar em 90 minutos arrastados.
Vou poupar-vos a isso.
James, over and out
Ora, sendo que era a Colômbia que mais precisava de ganhar, era natural que fosse dela a iniciativa do jogo - mesmo que não fosse o caso, quem tem James, Quintero, Cuadrado e Falcao só tem de tentar jogar à bola. E jogar à bola foi o que eles tentaram, mas os senegaleses, estranhamente cínicos, pouco deixaram, aproveitando a lentidão de processos dos sul-americanos para, sobretudo, defender.
Com um bloco baixo, o Senegal procurou quase sempre os seus velocistas lá na frente, e foi assim que Sadio Mané caiu na grande área cafetera: o árbitro assinalou penálti, fez aqueles gestos-tipo-comissário-de-bordo, consultou o VAR e corrigiu a decisão.
Não houve falta do corpulento Davinson Sánchez e o jogo prosseguiu mais ou menos da mesma forma, até que James Rodríguez saiu aos 30’, por lesão. Sendo este jogo uma quase-final, era como se Portugal perdesse Ronaldo a meio da primeira-parte de um encontro decisivo onde se discutia o título de melhor seleção europeia de 2016. Perceberam a subtileza da referência?
Sem James, visivelmente em baixo de forma, e com Muriel, que se estreou neste Mundial, a Colômbia acelerou um bocadinho, mas isso traduziu-se em praticamente nada. A equipa de Pekerman teria de fazer melhor para ultrapassar o Senegal e chegar aos oitavos; ao Senegal chegava-lhe controlar Falcao.
Mina de ouro
Na segunda-parte, quando se esperava aquela reação colombiana, o mais inesperado que se viu foi uma espetacular escorregadela de Mané ao bater um livre para as nuvens, a fazer lembrar Beckham contra Portugal, circa 2004. Não havia nada a fazer, a não ser assistir a uma sucessão de faltas (o jogo acabaria com 30, 15 para cada lado), cruzamentos inofensivos e remates frágeis - menos, claro, o já referido cabeceamento de Yerri Mina num canto batido por Quintero, ao minuto 74.
A partir daí, aconteceu o que geralmente acontece nos momentos de aflição: o Senegal disparou para a frente, Cissé mandou subir e subir, terá rezado por dois cartões amarelos nipónicos no Japão 0-1 Polónia, Niang e Sarr chutaram para defesas de Ospina - e o jogo acabou.
Agora, nos oitavos, não encontraremos uma equipa africana, algo que não acontece desde 1982.