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Mundial 2022

“De noite, o perigo era que algum felino nos atacasse”: Leandro Pighi e três amigos pedalaram por África e Médio Oriente até Messi

“De noite, o perigo era que algum felino nos atacasse”: Leandro Pighi e três amigos pedalaram por África e Médio Oriente até Messi
D.R.
Tudo começou no dia 1 de maio de 2022: três amigos de Córdoba, na Argentina, voaram para a Cidade do Cabo e inauguraram a pedalada. África do Sul, Namíbia, Botswana, Zâmbia, Malawi, Tanzânia, Quénia, Egito – a partir daqui com um quarto elemento –, Israel, Cisjordânia, Arábia Saudita e, 13 dias antes do Mundial arrancar, chegaram ao Catar. Pighi, Gatti, Ledezma e Villarruel estiveram nos sete jogos da Argentina no torneio que devolveu ao país a glória futeboleira. Leandro Pighi, numa conversa com a Tribuna Expresso, recorda o que os quatro amigos viveram há cerca de um ano, partilha fotografias e revela que se segue um documentário e um livro sobre a viagem que se estendeu para lá dos seis meses

Parece uma daquelas histórias dos livros de Roberto Bolaño. Um arquiteto de uma façanha extraordinária inspira outros e lá arrancam atrás da poesia, dos poetas, dos artistas, do pó, do improvável, dos encontros com as feras e a noite, do assombroso que se mira nos olhos e do que sempre se aprende na estrada. Lucas Ledezma já o havia feito nos Campeonatos do Mundo de 2014 e 2018: pedalou desde a Argentina até aos relvados onde os argentinos, homens e mulheres doentes de amor pelo passado maradoniano, sonhavam imitar 1986. Para Leandro Blanco Pighi, que partilha tudo na sua conta de Instagram (viajero_intermitente), não era nada de novo, andara há não muito tempo por cima da bicicleta pela Europa fora. Depois, com Ledezma e sobre duas finas rodas, promoveu o Camino de los Siete Lagos, na Patagónia. “Aí começámos a delirar um pouco com esta ideia de irmos até ao Catar de bicicleta”, confessa Pighi à Tribuna Expresso. As charlas como mães de ideias intrépidas.

Durante os longos e tenros dias de janeiro, fevereiro e março de 2022, Silvio Gatti, mais um rapaz de Córdoba, como os outros dois, juntou-se a Pighi e Ledezma para planear a viagem. Decidiram ir até Doha, a capital do Catar, pedalando por África, e não pela Europa. O desafio era mais agudo. A pandemia e algumas fronteiras que se cerraram como as boas defesas de um torneio de futebol obrigaram a alteração do plano, recortando ligeiramente a ambição. A travessia rumo ao incerto iniciou-se a 1 de maio, com um voo de Buenos Aires para a Cidade do Cabo, na África do Sul. Tudo começou aí, onde também se jogou o Mundial de 2010.

Foi necessário fazer ajustes à medida que os quilómetros engordavam os aparelhos que os contam. A Etiópia foi riscada do plano original, os conflitos que assolam o território assim o ditaram. O trio deixou cair também o Sudão e o Sudão do Sul. Contas feitas à pegada destes argentinos de Córdoba, atravessaram a pedalar países como África do Sul, Namíbia, Botswana, Zâmbia, Malawi, Tanzânia e Quénia, de onde, para evitar situações perigosas em certos territórios vizinhos, voaram para o Cairo, no Egito. Foi aí que se juntou Matías Villarruel, mais um cordobés. Claro, já faltava na história um viajante que se junta a meio da rota, insuflando as conversas e a energia da caravana.

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