De Montevidéu a Doha, episódio 1: o que fazer para remediar um pouco um Mundial imoral e manchado de sangue?

Jornalista
6.500 mortes.
A 20 de novembro de 2022, o Catar-Equador dará início à 22.ª edição do Mundial de futebol, a mais importante competição da modalidade desportiva mais popular do planeta, organizada pela FIFA, entidade com 211 membros, mais do que a Organização das Nações Unidas. A FIFA, que entre 2015 e 2018 faturou €5,9 mil milhões e tem €2,5 mil milhões em reservas, calcula que lucrará cerca de €5,7 mil milhões com o Mundial 2022, fazendo do torneio o mais rentável de sempre para a organização.
Mas há uma mancha de sangue por debaixo de cada estádio onde a bola rolar, de cada principesco hotel onde comitivas se alojarem, de cada estrada sobre a qual andarão carros de alta cilindrada transportando dirigentes e variados altos cargos.
Uma investigação do “The Guardian”, publicada em fevereiro de 2021, revelou que 6.500 trabalhadores da Índia, Paquistão, Nepal, Bangladesh e Sri Lanka morreram na construção de infraestruturas associadas ao Mundial desde que, em 2010, o torneio foi atribuído ao Catar, a um ritmo de 12 falecimentos por semana de um cidadão destes cinco países. Contactadas pela Tribuna Expresso, organizações como a Amnistia Internacional, a Equidem e a Human Rights Watch indicam que a maioria destas mortes são oficialmente atribuídas a “causas naturais”, não se ativando seguros e deixando famílias que dependiam do dinheiro destes trabalhadores sem nada.
Muitas destas pessoas que foram para o Catar trabalhar em obras relacionadas com o Mundial tiveram de pagar “taxas de recrutamento” ilegais na casa dos €1.200. Maya Kumari Sharma, embaixadora nepalesa em Doha, disse que o Catar se tornou “numa prisão a céu aberto” para os trabalhadores do seu país.
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