Quando, a 15 de julho de 2018, Hugo Lloris ergueu o troféu de campeão do mundo aos céus de Moscovo, o planeta era um lugar diferente. A conjuntura política global ainda permitia que o oportunismo de Gianni Infantino se sentasse ao lado do triunfal Vladimir Putin (ainda que já houvesse crise no Donbass desde 2014); Jair Bolsonaro ainda não era presidente do Brasil e Rui Rio tinha chegado há liderança do PSD há cinco meses; covid soar-nos-ia a nome de jogador de uma seleção periférica e pandemia era tema para livros de história ou filmes apocalíticos.
No que ao domínio da bola diz respeito, aquela final, vencida pela França contra a Croácia, consolidava anos de hegemonia Europeia. Os resultados do Mundial da Rússia ditaram que, pela quarta vez seguida, o campeão da prova mais importante do planeta viesse da Europa (a França sucedeu à Alemanha, Espanha e Itália). Dos derradeiros oito finalistas da competição, sete foram europeus, com a Argentina em 2014 a ser a exceção entre França, Itália, Espanha, Países Baixos, Alemanha, França e Croácia. Das últimas 16 presentes em meias-finais, 13 vinham da UEFA, sendo o Uruguai em 2010 e o Brasil e a Argentina em 2014 as intrusas.
Enquanto rappers homenageavam as glórias dos gauleses que levaram “a taça para casa” e Putin se despedia do beija-mão que lhe fora brindado durante mais de um mês, a Europa saía do Mundial plenamente assente no trono da bola. Do outro lado do Atlântico, Neymar chorava a eliminação contra a Bélgica, num Brasil que nem às meias-finais chegava pela terceira vez em quatro torneios — e quando lá chegou foi espezinhado e humilhado por 7-1 — e Messi encolhia os ombros perante o caos organizacional de uma Argentina que assistia à implosão do breve projeto Sampaoli, o oitavo treinador de Leo em 13 anos de seleção.
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