Ninguém o encantou tanto como Zinedine Zidane. A palavra “impressionante” escapa-lhe três vezes da boca em poucos segundos. “Era o íman. A bola chegava a ele e parava ali, viesse como viesse. Depois, a passar a bola era sem esforço, a bola ia a 40 ou 50 metros…”, confessa Vítor Pereira, o ex-árbitro português que apitou o francês em 2002, no malfadado Campeonato do Mundo para os franceses.
Ou seja, os árbitros também apreciam a atividade laboral dos jogadores no relvado, são picados igualmente por aquele bichinho da admiração que considera que pertence ao fantástico o que outros fazem com os pés, e isto apesar da carga de trabalhos e de responsabilidades que têm enquanto fazem cantarolar o apito. Talvez não aconteça no início da carreira, explica o árbitro português que esteve nos Mundiais de 1998 e 2002, pois o foco está em tentar ver as faltas todas e decidir bem. Mas depois, sim, tal como quando se conduz um carro já com experiência, é possível apreciar a paisagem, isto é, a qualidade do jogo e a arte dos futebolistas. Zizou nem foi feliz há 20 anos, estava limitado fisicamente, aquela França foi uma tragédia e nem um golo conseguiu marcar, mas a carreira internacional de Vítor Pereira, hoje com 65 anos, permitiu-lhe lamber com os olhos as botas daquele mago.
O lisboeta contou à Tribuna Expresso, numa conversa por videochamada, como é ser convocado para um Campeonato do Mundo. Normalmente escutamos apenas os desabafos e sonhos dos jogadores, não conhecemos as angústias, ansiedades e prazeres dos senhores do apito. Desta vez, o protagonismo está nos homens que querem tudo menos protagonismo. “Foi fantástico, o corolário de muitos anos de trabalho, sobretudo quando é o nosso primeiro Mundial”, recorda. Ainda que a surpresa fosse pouca, já que havia um grupo de elite da FIFA a afunilar as opções, com testes e provas, constatar finalmente “preto no branco” que lá estaria foi o céu. “Foi a realização de um objetivo super importante a que só tem acesso um pequeníssimo lote de árbitros de cada país. É extraordinário”, admite.
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