Mundial de Clubes

O jogador mais velho do Mundial de Clubes dorme pouco e não faz musculação - e já cheira o recorde de Peter Shilton

O jogador mais velho do Mundial de Clubes dorme pouco e não faz musculação - e já cheira o recorde de Peter Shilton
Ruano Carneiro

Aos 44 anos e 260 dias, Fábio será o guarda-redes do Fluminense na competição - a equipa brasileira estreia-se esta terça-feira frente ao Borussia Dortmund. Sem cuidados especiais, garante que há noites em que dorme apenas três horas. E não pensa ainda na reforma

Se olharmos para o Mundial de Clubes como uma competição nova, todos os dias estarão a ser batidos recordes. O Bayern Munique colocou a fasquia alta, marcando 10 golos ao Auckland City. Dois nulos na 1.ª jornada no mesmo grupo (no caso, o Grupo A, do FC Porto) não deve ser muito comum.

Incomum será também olhar para uma das balizas do jogo entre o Fluminense e o Borussia Dortmund, esta terça-feira às 17h, horário de Lisboa, e ver lá um jovem rapaz que vai, desde já, deixar o recorde de jogador mais velho a jogar o Mundial de Clubes lá bem em cima.

Aos 44 anos e 260 dias, Fábio é o guarda-redes titular do Fluminense, com contrato assinado para jogar pelo menos até dezembro de 2026. E olhando para o quão indispensável tem sido para a equipa do Rio de Janeiro desde que ali aterrou, em 2022, está bem a tempo de empurrar o mítico Peter Shilton para fora do topo dos jogadores com mais encontros oficiais da história. O guarda-redes britânico tem 1390 jogos. Uma contagem feita pelo Globo Esporte atribuiu a Fábio 1374 jogos oficiais.

Fábio é provavelmente uma das maiores figuras da história do Cruzeiro, onde esteve 17 anos, quase sempre a titular e por ali venceu por duas vezes o Brasileirão, em 2013 e 2014. A mudança para o Fluminense não pressupôs uma pré-reforma para o guarda-redes nascido no Mato Grosso e que passou ainda por União Bandeirante, Athletico Paranaense e Vasco da Gama. Nas Laranjeiras foi campeão da Libertadores em 2023, título que deu ao Fluminense a oportunidade de disputar este Mundial de Clubes. Foi também campeão do campeonato carioca, em 2022 e 2023. E apesar de ter também no currículo duas distinções como melhor guarda-redes do Brasileirão, a seleção nacional foi um sonho nunca cumprido, depois de ter sido campeão mundial sub-17 em 1997, ao lado de Ronaldinho Gaúcho e do ex-Benfica Geovanni.

Sem cuidados especiais

A longevidade tem muitos caminhos. Serão um dia objeto de estudo as rotinas de Cristiano Ronaldo. O programa de recuperação de Tom Brady, que ganhou um Super Bowl aos 43 anos, impressionava pelo cuidado com a alimentação e sono.

Não contem com Fábio para nada disso. Ser guarda-redes, a posição menos explosiva do futebol, seguramente ajuda a uma carreira mais longa. Já falámos de Peter Shilton. Gianluigi Buffon jogou até aos 45 anos. Dino Zoff tinha 40 anos quando foi campeão mundial por Itália em 1982. Tirando a especificidade da posição, o número 1 do Fluminense não tem cuidados especiais para se manter em forma. Tem, aliás, uma rotina que deixaria muitos médicos de mãos na cabeça.

Pedro H. Tesch

“Por vezes durmo três horas, às vezes vou até direto”, confessou ao Globo Esporte há um ano, onde assumiu também que não faz musculação ou massagens.

“Esta noite fui dormir eram 4h da manhã. Acordei às 7h, levei a minha filha à escola, levei o meu filho à escola de condução e aqui estou”, contou ao jornalista. “Não faço musculação, aqui ficam todos abismados. Não faço massagens, dá para contar nos dedos as vezes que fiz. No Fluminense nunca fiz”, continuou, explicando ainda que o seu biótipo o favorece. “Sempre recuperei muito rápido e sempre treinei muito. Não tenho nenhuma preparação especial. É fé e Deus, sempre”.

Retirada não está à vista

A poucos meses de completar 45 anos, em setembro, Fábio acredita que hoje é um guarda-redes muito mais completo do que nos primeiros anos de carreira. Analisar os seus desempenhos, algo que nunca deixou de fazer, ajuda. “Treino com muito mais intensidade do que quando era jovem. Os guarda-redes jovens também me ajudam bastante”, sublinhou à Globo Esporte numa entrevista feita já nos Estados Unidos, onde o Fluminense vai jogar na fase de grupos, além do Borussia Dortmund, com o Ulsan Hyundai e com o Mamelodi Sundowns, treinado pelo português Miguel Cardoso.

Com contrato até 2026, o veteraníssimo não parece para já pensar na reforma. A fé, acredita, é um combustível que o ajuda a não parar. “Muitos já colocaram um final na minha carreira várias vezes. A última foi em 2022, quando saí do Cruzeiro. Muitos achavam que eu era uma página virada. Tinha a certeza que a minha carreira não ia acabar. E tenho a certeza que foi a mão de Deus que me direcionou para eu estar no Fluminense. Queria ter a oportunidade de jogar e mostrar que tinha condições. Ir contra todos os que falavam que eu ia aposentar-me. Não me deram crédito, mas Deus conhece meu coração”.

Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: lpgomes@expresso.impresa.pt