“Onde estavas quando [inserir momento histórico importante]?” Toda a gente sabe onde se encontrava e o que fazia aquando dos grandes acontecimentos da humanidade: na chegada à lua, no 25 de Abril, na queda do Muro de Berlim, no 11 de setembro, quando Batatinha e Companhia andaram à pancada, no golo de Éder.
Incomum será ter estado presente num dia em que se começou a escrever uma das mais gloriosas narrativas do desporto e garantir que lá não se esteve. Dia 16 de novembro de 2003, Porto. Inauguração do Estádio do Dragão, estreia de Lionel Messi na equipa principal do Barcelona.
Quando a Tribuna Expresso pega no telefone e pergunta a Edgaras Jankauskas, o lituano mais português do futebol, se podemos conversar sobre aquela noite, o agora selecionador do país do Báltico dá uma resposta inesperada. “Pedro, eu já não estava no FC Porto nessa altura.” Respondemos com a ficha do jogo, no qual o então avançado entrou no segundo tempo, e estávamos prontos para enviar um vídeo da partida em que aparece o corpulento camisola n.º 9 da equipa de José Mourinho.
“Não me lembro desse jogo, ahaha”, diz o sempre simpático Jankauskas. “Ele é mais velho, por isso é que não tem memória”, graceça Bruno Moraes, titular na partida, quando lhe contamos que o homem que o substituiu no segundo tempo não se recorda do encontro.
Naquela noite, a inauguração do Estádio do Dragão era o facto histórico que os presentes sabiam que contariam a filhos e netos. Mas “ninguém imaginava que estivesse ali a estreia de um craque que ganharia oito bolas de ouro”, assume Paulo Machado, que entrou na segunda parte. Um acontecimento histórico inesperado dentro de outro mais previsível.
O FC Porto-Barcelona, amigável em período de pausa para seleções agendado para estrear o recinto, estava nos 75', com o 2-0 que seria final no marcador, quando se viu na linha lateral um menino de 16 anos pronto para entrar. Franzino e de cabelo quase a tapar os olhos, tinha o 14 de Cruijff nas costas, ainda que Johan nos culés tenha usado quase sempre a 9.
“É o tal canhoto que na Catalunha dizem que faz lembrar Maradona”, comentou Rui Cerqueira, narrador do jogo na RTP. Pelos megafones do estádio ouviu-se: “Alteração no Barcelona: saída de Fernando para a entrada de Messi”. E, assim, os mais de 50.000 presentes — ainda que alguns nem se recordem — testemunharam um momento eterno, a primeira vez do pibe de Rosario com a equipa principal dos blaugrana.
Esta quinta-feira, para o Mundial de Clubes e em Atlanta, EUA, do outro lado do charco, Lionel reencontrar-se-á com a equipa que lhe fez de anfitrião.
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