Tom Elisson era um homem à frente do seu tempo. De origem maori, foi um dos primeiros neozelandeses com sangue nativo a ser admitido à prática da advocacia. Brilhante jogador de râguebi, fez parte da primeira seleção da Nova Zelândia a fazer uma digressão pelo estrangeiro, indo jogar à Austrália e ao Reino Unido em 1888-89. Nessa longa viagem, chamou à atenção o equipamento utilizado: todo de preto, com uma folha de feto prateada do lado esquerdo, diferente do azul inicialmente usado, em 1884.
Em 1893, Elisson pediu a palavra na primeira reunião geral anual da federação de râguebi da Nova Zelândia. O advogado-jogador propôs que a seleção passasse a vestir sempre daquela forma, de preto e com o feto do lado esquerdo.
A escolha foi aceite e Elisson tornar-se-ia no capitão da primeira Nova Zelândia a equipar daquela forma após a assembleia. Desde então, nos 130 anos seguintes, aquele uniforme tornou-se símbolo nacional, não só no râguebi, mas em qualquer campo, pista, piscina ou espaço desportivo em que entre um conjunto do país.
No jogo da bola oval, all blacks tornou-se mais que alcunha de uma seleção. São duas palavras que expressam um ícone, uma força do desporto internacional, quase palavra-passe para a grandeza na atividade mais amada na Nova Zelândia
Tom Elisson, um adiantado ao seu tempo que faleceria depois de contrair tuberculose em 1904 — propôs também que os jogadores fossem pagos por atuarem na seleção, afastando assim o país do amadorismo reinante em Inglaterra —, é um dos destaques do passeio da fama do desporto da Nova Zelândia. Localizado em Dunedin, numa estação de comboios antiga cheia de recantos de arte, a 20 minutos a pé do estádio onde Portugal se estreará num Mundial feminino, é um local que cheira a história e memória.
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