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Mundial Feminino 2023

“Sempre deu valor à terra, nunca esquece por onde passou”: Telma Encarnação encantou-se pela bola num bairro com nome de guerra

“Sempre deu valor à terra, nunca esquece por onde passou”: Telma Encarnação encantou-se pela bola num bairro com nome de guerra
D.R.
A avançada da seleção portuguesa marcou o primeiro golo da história do nosso futebol feminino em Campeonatos do Mundo. Antes de chegar ao Marítimo, Telma Encarnação calcou as ruas e os campos da Câmara de Lobos e arredores com a camisola d'Os Xavelhas. A Tribuna Expresso falou com dois antigos companheiros desses tempos, que recordam alguém “incrível” e “fora de série”. Resumindo, alguém “sem medo” e humilde

O bairro tem nome de terra em guerra, mas a única coisa que aquela terra rumorejava, no início do século, era liberdade. Bairro das Malvinas. A droga e os pecadores eram alguns dos inquilinos, mas estavam longe de serem os mais importantes. Sobram valores onde há pouca coisa. Florescem as crianças e os seus sonhos. Foi ali, no Malvinas que está longe da Argentina, um bairro social inaugurado por Alberto João Jardim em 1982, que Telma Encarnação descobriu o que uma bola de futebol pode despertar em qualquer inocente corpo. Pertencer a algo e a um lugar, onde as fronteiras estão fechadas para os caçadores dos delírios da imaginação e onde ainda se fazem amigos num campo. São sentimentos avassaladores.

“Tivemos sempre liberdade para jogar no bairro”, conta à Tribuna Expresso Gonçalo Rocha, hoje futebolista dos sub-23 do Portimonense, com passagens por Benfica e Vitória Sport Clube. Ele e Telma Encarnação, a jogadora que fez esta quinta-feira o primeiro golo de Portugal em Campeonatos do Mundo contra o Vietname, fabricaram muitas jogadas, construíram simples e monstruosas ideias e tiveram conversas que a memória jamais tratará de recuperar, como se fosse uma transmissão de rádio em direto de tempos idos. Apesar dos inquilinos indesejáveis que suscitavam hesitações agudas em alguns pais, “foi uma infância muito boa”, resume. Foi naquelas ruas, numa realidade paralela onde tudo e nada acontece ao mesmo tempo, que Gonçalo Rocha aprendeu “muita coisa”, onde se fez alguém. E viu algo especial em Telma.

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