O que faz um treinador com jogadoras que já ganharam dois Mundiais seguidos para tentarem vencer um terceiro? Fácil: nada

Editor
Fosse homem ou mulher, o humano a quem perguntariam se estaria a fim de treinar a seleção das melhores futebolistas norte-americanas seria sempre alvo de um convite fechado em envelope de papel recortado com forma de língua de serpente. Decerto um privilégio gigante, com certeza também uma tarefa matreira, a proposta cheiraria a armadilha pelas expetativas que lhe viria atreladas: conquistadoras do último par de Mundiais e ostentadoras de quatro no total, a questão que antecede cada jogo dos EUA é uma variação de “elas vão ganhar por quanto?”. Treinar esta equipa é acordar todos os dias com a exigência que se banalizou aplicar-lhes.
A obrigatória pergunta auto-imposta, num exercício pessoal, por qualquer treinador(a) seria, então, para quê aceitar assumir esta seleção e arriscar tentar fazer melhor do que já foi feito se esse é provavelmente o maior desafio que existe no futebol jogado por mulheres? Entre estas questões esteve Vlatko Andonovski quando a consagrada Jill Ellis, selecionadora que orquestrou os dois títulos mundiais em 2015 e 2019, saiu do cargo em grande e fez os responsáveis da federação norte-americana voltarem a querer ter um homem a cargo da seleção, cinco anos depois do último. Mal disse que sim à proposta, o atual treinador ficou com uma névoa a rodeá-lo eternamente enquanto permanecer na função e até ao desfecho deste Campeonato do Mundo.
Ou, no caso de os EUA não alcançarem a final, até ao dia em que a seleção do soccer perder e os queixos tombarem com estrondo no chão.
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