Um maralhal de gente as esperava à entrada do aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa. Berros ouviam-se, era uma grande mistura no ar. Várias bandeiras de Portugal eram cantadas numa manhã ventosa. Dezenas de telemóveis eram empunhados no ar, ansiosos por fotografarem e filmarem as futebolistas da seleção nacional à medida que iam saindo para o exterior. Cheias de sorriso apesar da cansativa viagem com asas da Nova Zelândia, as jogadoras vindas dos antípodas demoravam o seu tempo.
Chegadas do Mundial feminino, as 25 mulheres que representaram Portugal posavam para tudo, distribuíram autógrafos e interagiam com as centenas de adeptos reunidos em torno do autocarro da seleção. Jéssica Silva, Kika Nazareth, Carole Costa, Ana Capeta, Dolores Silva ou Telma Encarnação, todas e cada um queriam demorar-se nas solicitações, mas também se notava a colisão com uma certa pressa necessária.
Recebida, provavelmente, pela maior enchente que as esperava entre os regressos de grandes competições - antes do Campeonato do Mundo, houve as participações nos Europeus de 2017 e 2022 -, a comitiva da seleção sabia que tinha à sua espera alguém com agenda a transbordar devido a tudo e mais o que houve de Jornadas Mundiais da Juventude. Há encontro marcado com Marcelo Rebelo de Sousa, que de novo pontuará o retorno das internacionais portuguesas com uma receção cerimonial no Palácio de Belém. Para lá seguiram as jogadoras, com pressa forçada, acenando e enviado beijos invisíveis a quem esperou por elas no aeroporto. Antes do autocarro arrancar, três das mais experientes e ilustres da seleção falaram à comunicação social:
Dolores Silva, a capitã
“É incrível sentir este apoio de perto, não era a data em que queríamos chegar, mas acho que, acima de tudo, fica a prestação de toda a equipa e do grupo de trabalho. Representámos o povo português e todas as mulheres que sonharam um dia estar naquele patamar, e todas as jovens que sonham chegar ali. Espero que a gente as tenha inspirado e continue a inspirá-las. O futuro é risonho, estamos muito orgulhosas do que fizemos. É um momento para desfrutar e só temos a agradecer a todos os portugueses que estiveram lá presentes e a todos os que estiveram cá, que acordaram [cedo] e ouviram o que nós pedimos. Agora é andar para a frente.”
“Claro que custa. Acho que foi por um poste que não conseguimos tornar o impossível no possível. Todas fomos para aquele jogo a acreditar que era possível e isso viu-se dentro de campo, desde o primeiro até ao último minuto. Tentámos ao máximo, estou muito orgulhosa porque demonstrámos o que é jogar à Portugal e o que isto tudo representa para nós enquanto jogadoras portuguesas: o batalhar durante muitos anos, uma aposta muito grande da nossa federação e do presidente, de todos os portugueses que acreditaram em nós. Agora que continuem a apoiar muito, em setembro já temos uma nova competição [Liga das Nações] e agora esperemos que seja o abrir de um livro muito mais bonito, para continuarmos a escrever história para Portugal.”
Ana Borges, a mais internacional
“Sabíamos que íamos ter muito apoio aqui em Portugal e lá, apesar do fuso horários sabíamos que não nos iriam falhar e, muitas vezes, fomos buscar força aí. Essas lágrimas foi porque queríamos continuar na competição e porque estivemos tão perto, a um poste, de estarmos nos oitavos de final. E por sentirmos um orgulho enorme em sermos portuguesas e representar Portugal.”
Jéssica Silva, a estrela
“Muito orgulho. Foram 30 dias muito bem passados, estamos todas muito felizes pelo que fizemos, acho que nos transcendemos, deixámos uma muito boa imagem, naturalmente que não era o resultado que queríamos. Desportivamente não conquistámos aquilo que queríamos, mas, fora das quatro linhas, conquistámos muitas coisas e estamos muito orgulhosas pelo nosso percurso. Sabemos que temos de dar continuidade ao que nos fez chegar a este patamar e, em setembro, temos já o começo de um grande desafio, a Liga das Nações. Para os portugueses que só nos começaram a ver agora, continuam a apoiar, agradecemos, continuem a seguir a nossa seleção.”
“Isto é um trabalho de todos, quer dos clubes, quer das nossas famílias que nos apoiam ao longo do ano, quer da nossa federação. São essas pessoas que nos aturam, que nos ajudam a estar nas melhores condições para representar Portugal e o nosso clube da melhor forma. Trabalhámos muito bem, fizemos uma época muito longa e acho que o facto de estarmos tão bem e nos termos transcendido acho que foi a imagem do que tem sido o nosso ano. Infelizmente, não conseguimos o nosso objetivo, mas, mais uma vez, tem de ficar realçada a imagem e o que fizemos contra grandes seleções, as grandes referências a nível mundial. Sobretudo, acho que conquistámos o respeito do mundo inteiro.”
“Temos de dar continuidade a este trabalho. Naturalmente, sentimos que vamos ter cada vez mais responsabilidade, mas assumimos, desde o princípio, a vontade de estar nas grandes competições e de marcar a posição da jogadora portuguesa de forma positiva e mostrar o que realmente valemos. É o que temos feito, não só no Mundial. Têm sido, pelo menos, oito anos a evoluir de forma crescente. Temos de continuar, estamos felizes e motivadas para o que aí vem.”
“Recebemos o apoio dos nossos colegas de profissão, desportivas de outras modalidades, mensagens de pessoas não diretamente ligadas ao desporto. É algo que nos deixa bastante felizes, acho que é fruto do que estamos a fazer. Agradecemos todo esse apoio e agora é continuar.”