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Mundial Feminino 2023

Para lá da grandeza, para lá de tudo, estão as espanholas, campeãs do mundo que não precisam de convencer ninguém

Para lá da grandeza, para lá de tudo, estão as espanholas, campeãs do mundo que não precisam de convencer ninguém
FRANCK FIFE/Getty

Guiadas, na final e em todos os jogos, pela calma monumental de Aitana Bonmatí, a melhor jogadora do torneio, a Espanha é, pela primeira vez, campeã mundial de futebol feminino. Venceu (1-0) a Inglaterra numa final das grandes, porque o futebol jogado por mulheres tem uma grandeza com muito por ensinar aos homens que perdem tempo, teatralizam e rebolam na relva onde elas só querem, simplesmente, jogar

Para lá da grandeza, para lá de tudo, estão as espanholas, campeãs do mundo que não precisam de convencer ninguém

Diogo Pombo

Editor

Para lá da grandeza é o quê, exatamente? Como tudo, o contexto é tudo, há que atentar ao nariz onde assentam as lunetas que leem a frase e o Mundial ao qual ela se aplica. É bonito apagar as luzes de um estádio atolado de gente para, no relvado, deixar iluminadas as letras “beyond greatness” que boa-vindam as jogadoras que lá entram para a final do Mundial, grandeza com certeza isso, serem capazes de chegar ao cume da bola cujo trilho só é visível a cada quatro anos, claro que é isso e a FIFA sabe-o, é fácil encaixar-lhe o slogan cheio de pompa e também de nada, por muito que a entidade o venda como algo para “unir e inspirar as pessoas à volta do mundo”.

Não é a FIFA, encabeçada por um presidente com cifrões nos olhos, que une e inspira com uma frase bonita. São as futebolistas. Não é a preocupação de Gianni Infantino em louvar para fora a boa-nova de a entidade não ter perdido dinheiro com este Mundial, encantado com o “break-even”, nem será mais uma das suas infelizes tiradas, quando disse há dias que as mulheres têm de “escolher as batalhas certas” na questão da igualmente de pagamento, condecorando-as gentilmente com o “poder de convencerem” os homens sobre “o que têm ou não de fazer”. Alguém se esqueceu de rever o slogan do torneio para o qual tanto clamou por investimento.

Porque grandeza não é dizer isto, que faz mirrar um torneio espetacular e abate neblina sobre uma prova onde as grandes inglesas e as grandes espanholas acabam a convergir em Sydney, elas sim as portadoras de grandeza e a quererem ir um coche mais além. A Inglaterra decidida a pressionar a todo o campo, com a corda das flechas esticada atrás para lançar as setas pontiagudas das suas avançadas airadas, Alessia Russo e Laura Hemp, a segundo cedo rematou à barra depois de a seleção armar cercos às defesas espanholas, onde depositava as tentativas de roubar a bola nas adversárias mais acessíveis em soluçar com a posse.

Há grandeza em estudar os outros, identificar fraquezas, limar a estratégia e aplicá-la em conformidade, as inglesas tentaram-no, Russo e Hemp desfaziam-se em diagonais e ataques à profundidade aquando de qualquer receção das médias inglesas de frente para o campo, Hemp ainda teve outro remate mais dócil e às mãos de Cata Coll, mas a convergência de grandezas, aos poucos, assomou as leoas. Do outro lado, a relação de cada espanhola com a bola, amigas de casa e de sonhos, aplaudidas com entusiasmo quando os seus nomes se anunciaram no estádio, engrandeceu-as na final.

Com a pequena grande Aitana Bonmatí no centro do universo passador, ela a feiticeira dos truques que mostram a bola a quem esteja por perto e logo a fazem desaparecer, o carrossel de Espanha girou sem precisar de moedas, Teresa Abelleira atrás de Aitana e Jenni Hermoso à sua frente garantiam a sua andadura, esperando pela largura que davam as laterais e pelos momentos em que a atleta Salma Paralluelo pudesse ser largada na corrida. A quase olímpica, crescida a dividir-se entre os 200 e 400 metros de pistas de tartan e os cento e poucos de um relvado, não acertou num cruzamento de Olga Carmona que a viu na pequena área e acertaria depois em cheio no poste, quase ao intervalo, a passe da outra lateral, Ona Batlle.

Pelo meio houve a grandeza das coisas simples, as mais difíceis de encetar num jogo de futebol. Com a Inglaterra já encurralada pela teia espanhola, aprisionada no espaço na frente onde as suas avançadas pediam todos os passes e enlameada no lodo a meio-campo, Lucy Bronze arriscou correr com a bola da direita para o centro, direta à bocarra da baleia que a esperava. O difícil que é jogar fácil, de repente, não pareceu assim tão complicado: cercada, a inglesa foi desarmada e a Espanha, de imediato, executou a clássica escritura dos manuais da bola, atacando o espaço vazio com Carmona a correr para lá, o passe entrar e ela rematar.

Para lá da grandeza, para lá de tudo, estão as espanholas, campeãs do mundo que não precisam de convencer ninguém
Will Murray/Getty
Para lá da grandeza, para lá de tudo, estão as espanholas, campeãs do mundo que não precisam de convencer ninguém
Will Murray/Getty
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Que grande é ver um golo simples (29’) a ser conseguido no meio do intrincado e complexo jogo de Espanha, deve ser frustrante contrariá-lo em campo e a sapiente Sarina Wiegman, selecionadora das campeãs europeias e treinadora na sua quarta final seguida entre Europeus e Mundiais, marimbou para a linha de três centrais para ter as ideias selvagens de Lauren James na segunda parte. As inglesas necessitam de engenho técnico no interlúdio das jogadas, sem isso não chegariam à área.

E demoraram, porque as mudanças no sistema tática e o afã em quererem esticar os ataques até à baliza, movidas pela pressa, foram fatiando a final pequenos pedaços de ataques rápidos a responderem a contra-ataques, um caos onde a Espanha ainda conseguiu encontrar alguma ordem. Os pés de Aitana pairavam sobre a relva e desencataram dois remates além de esconderem a bola até Mariona Caldentey estar à entrada da área, pronta a evadir-se de adversárias e a passar à baliza, onde Mary Earps se esticou na parada fotografável. A guarda-redes berrou, ainda só vira Hemp a quase chegar a um cruzamento do outro lado, lá longe, antes de presenciar um possível desastre mesmo à sua beira.

Sem querer, um dos braços de Keira Walsh, a mover-se livre e independentemente na emergência de evitar ser driblada dentro da área, tocou na bola com que Abelleira a ludibriou. A final do Mundial teve um penálti (67’) e pousou, a 11 metros da baliza, um dos maiores escrutínios que pode ser feito a qualquer futebolista. Há que ter talento, pés, aptidão, agilidade, criatividade e rasgo para encantar no campo, mas antes do físico há a grandeza mental que o sustenta e a malandra Lucy Bronze insistiu, chateou e apontou para a bola que Jenni Hermoso não pusera bem sobre a marca. Adiou-a, fê-la reparar no tempo em vez de levar o seu tempo e a espanhola, quando rematou, foi dócil e a guarda-redes Earps rugiu.

DeFodi Images

O grande momento da final escancarou a rendição das inglesas ao seu estilo, no tempo que tiveram foram diretas na procura da área, verticais no estilo de atacar e rápidas a quererem chegar com a bola às suas atacantes. A Inglaterra queria pressa, um prejuízo urgia-as; e as espanholas tentavam achar algum critério nas suas ações, procuravam a calma no meio da tempestade.

A urgência das campeãs europeias fê-las esquecer de Lauren James, a sua mais talentosa, a inglesa com cartolas nas chuteiras e coelhos para desvendar, mas o estilo de jogo direto sobrevoou a jovem do Chelsea, até depois de sozinha inventar o remate que sacou a única defesa assustadiça de Cata Coll. Os vaivéns constantes que tornaram a final num jogo de puxa-corda não devolveriam uma chance, nem sequer algo parecido, as inglesas ansiavam com o desespero e precipitaram-se a cada ação.

Os descontos de 13 minutos, quase meio prolongamento, só viram Ona Batlle a cheirar a golo com um sprint fenomenal área dentro, sintoma de uma Espanha a deixar-se levar pelas energias. É tramado remar contra a maré, há circunstâncias que superam humanos e nem com a intermitente Alexia Putellas em campo, dona da coroa de melhor do mundo mas com o corpo ainda cheio do pó de uma lesão, ao lado de Bonmatí, a Espanha se acalmou nas vezes em que teve a bola. Carecia de pausa, calma e pedras de gelo nos pés, só que é fácil escrever a partir daqui, a milhares de quilómetros e mundos de distância de imaginar o que é ter de jogar naquela grandeza de ocasião.

As campeãs são as espanholas, as grandes espanholas, entraram no Mundial em posse de bola e de lá vão sair com a mesma propriedade, elas em lágrimas, aos pulos, a abraçarem-se quando, há um ano, três delas eram parte das 15 que abdicaram de ser convocadas pela grandeza de uma causa maior do que elas. Queriam um selecionador e equipa técnica melhores, que subissem o nível, que não houvesse mais regras como a que as proibia trancar as portas dos seus quartos de hotel antes que Jorge Vilda lá fosse verificar se estava tudo bem e daí os assobios, os apupos e os búús ouvidos quando o nome do selecionador foi anunciado no estádio, antes da final.

DAVID GRAY/Getty

Sabe-se lá com que ambiente, com que tensão no ar, o treinador também é campeão do mundo vindo de uma convulsão interna que aguentou e resolveu, ou que se recusou a reconhecer com brio, isto já não sabemos, tão pouco é percetível o que representará a Espanha reinar no futebol feminino - será a força de mulheres que se revoltaram por melhores condições, ou o estaticismo de homens (Luis Rubiales, presidente da federação do país, é um fervoroso apoiante do seu selecionador) que se mostraram inamovíveis quando as jogadoras os tentaram convencer de que mereciam mais?

Nos primeiros foguetes de festa após o último apito, as jogadoras rejubilaram para o lado do campo e a equipa técnica ficou longe, perto dos bancos, a celebrar fechada em si. As imagens sugerem interpretações.

E as próximas semanas trarão lições. Mas, rebobinando, as jogadoras espanholas são as maiores das grandes futebolistas que estiveram neste Mundial, na montra mais espanpanante de que o melhor dos convencimentos a ser feito das mulheres para os homens é no campo. Lá, na relva onde elas não rebolam em agonia, não teatralizam o que é inexistente, não barafustam por minudências nem arrastam jogos para a lama de simulações, o tempo útil de jogo é maior e o frenesim do seu ritmo não pára de aumentar com a equivalência que as jogadores, finalmente, vão tendo em condições nos seus clubes e seleções para limaram o físico que permite acelerar uma partida de futebol.

Alegres e sorridentes, as espanholas são agora as melhores e as maiores, unidas em torno do troféu quando a organização da FIFA já iluminara o “beyond greatness” à frente do palco onde as vencedoras ergueram o caneco. Como Andrés Iniesta em 2010, pouco antes Olga Carmona, uma das capitãs, explicou a razão para ter levantado a camisola após o golo: “Quero dizer que esta vitória, o que conseguimos, vai para a mãe de uma das minhas melhores amigas que faleceu recentemente, celebrei o golo com a sua camisola e isto vai para a sua família, com todo o amor.” No auge da sua vida desportiva, foi a primeira coisa que lhe saiu da boca perante um microfone.

Portanto, sim, a grandeza estas espanholas é imensurável. Elas e as mulheres que jogaram futebol neste Mundial não têm de se prestar a convencimentos - há é muitos homens a terem de sair das cavernas e prestarem-se a vê-las jogar.

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