Mundial Feminino 2023

O “melhor e o pior dia” da vida de Olga Carmona, que foi a heroína da Espanha campeã mundial sem saber da morte do pai

O “melhor e o pior dia” da vida de Olga Carmona, que foi a heroína da Espanha campeã mundial sem saber da morte do pai
NurPhoto/Getty

Aos 29 minutos da final do Mundial, a lateral marcou o golo que daria a Espanha um inédito título. Depois do apito final, ficaria a saber da morte do pai. Para o honrar, a jogadora de 23 anos diz que estará nos festejos com as companheiras, porque era ali que o pai a queria ver

O lance ficará na história como aquele pontapé de Iniesta no Soccer City em Joanesburgo em 2010. Treze anos depois, o Estádio Austrália, ou o Estádio Olímpico de Sydney para os mais nostálgicos daqueles Jogos Olímpicos de 2000, viu a recuperação de bola a meio-campo da galega Teresa Abelleira, a variação valente para Mariona Caldentey e a sobreposição de Olga Carmona, a capitã em campo, tão rápida a surgir como a encher o pé esquerdo, num remate tenso, pleno de força e de vontade. Como em Joanesburgo, um título inédito para Espanha estava todo naquele tiro.

Muito pouca gente no universo de milhões e milhões que povoam o planeta pode explicar o que é marcar um golo num Mundial. E Olga Carmona, que uma hora e pouco depois estaria a festejar a vitória espanhola, só queria dedicá-lo a uma das melhores amigas. Levantou a camisola onde se podia ler, embora com dificuldade, o nome “Merchi”, o nome da mãe recentemente falecida dessa amiga. Também Iniesta no Soccer City tinha debaixo da roja, que nesse dia até era azul escura, uma mensagem para Dani Jarque, futebolista do Espanyol que havia falecido de ataque cardíaco um ano antes, com 26 anos.

Quando a nova heroína espanhola explicou a todos na entrevista rápida após o final do jogo que mensagem era aquela e para quem se dirigia, não podia imaginar que minutos depois, enquanto vivia um dos momentos mais bonitos da sua vida, chegaria a tão trágica quanto dramática quanto injusta notícia de que ela própria havia perdido o pai.

Tanto a mãe como os irmãos de Olga estiveram no estádio a acompanhar a lateral no dia que tinha tudo para ser o mais importante da carreira da jogadora do Real Madrid, de 23 anos. Não lhe contaram até depois do jogo que o pai já não tinha visto a final, para evitar o baque psicológico antes do encontro, diz o site “Relevo”. A própria federação espanhola não tinha conhecimento da morte do pai da jogadora, vítima de doença prolongada, anunciando-o após o jogo.

Will Murray/Getty

“Sem o saber, tinha a minha estrela antes sequer do início do jogo. Sei que me deste força para conseguir algo único. Sei que me estiveste a ver e estás orgulhoso de mim. Descansa em paz, papá”, escreveu a jogadora nas suas redes sociais pouco depois.

Horas mais tarde, também nas redes sociais, agradeceria o apoio e carinho de quem lhe enviou mensagem de força. “Ontem [domingo] foi o melhor e o pior dia da minha vida”, disse, numa antítese inexplicável, brutal e avassaladora.

Na mesma mensagem, Olga Carmona revelou ainda que está nos festejos com as colegas nos próximos dias: “Sei que querias ver-me a desfrutar deste momento histórico por isso estarei com as minhas companheiras para que desde onde estás saibas que a estrela também é tua”.


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