Os melhores 50 metros de Diogo Ribeiro ficaram a 10 centésimos das medalhas nos Mundiais
Quinn Rooney
Era o mais novo da final dos 50 metros mariposa dos Mundiais e, quando tocou na parede, era também quem tinha o menor corpanzil entre os quatro primeiros. Mesmo ao nadar um tempo que deu para novo recorde nacional, Diogo Ribeiro ficou a muito pouco do bronze na distância em que defendia o título mundial
Ele surgiu de bochechas cheias, um peixe-balão nas faces a soprar ar, sabe-se lá de alívio ou de nervos, de ansiedades ou ganas de começar. Diogo Ribeiro despiu a camisola de capuz, baixou a viseira dos óculos, apoderou-se da pista 2, de repente estava a mergulhar de cabeça e braços à frente para a piscina, a natação desenrola-se em ápices e uma prova apressa-se para dar lugar a outra, tinha o português acabado de ser desvendado na arena de Singapura, o seu suspiro esvaziado, e já estava a furar a superfície da piscina.
A entrada na água não foi famosa, o atrito desfavoreceu Diogo, um palmo ou outro atrás ficou logo das rápidas orcas dos frenéticos 50 metros mariposa, mas Diogo estava bem, Diogo cedo se mostrou forte, se não como as baleias assassinais da distância, pelo menos como uma em vias de o ser, a cada braçada a encurtar as ínfimas desvantagens que vistas de tão longe, do plano aberto da televisão, se resumem a pequenas polegadas. Com a parede à vista, uma medalha era possível, Diogo perto estava, e Diogo a uma nesga ficou.
Os 22,77 segundos que demorou a nadar a meia centena de metros foram brutais, equivalentes a um novo recorde nacional, a ele bater a sua própria marca e a melhorar-se: aquando da prata mundial de Fukuoka, no Japão, em 2023, conseguira 22,80 segundos, no ano seguinte fizera 22,97 em Doha, de onde saiu campeão do mundo, e superou também os 22,83 segundos com os quais alcançou esta final em Singapura, com direito a partilhar água com as mais excelsas barbatanas humanas da mariposa. Temia-se que o melhor Diogo poderia ficar aquém, realizou-se esse receio.
O português acabou no 4.º lugar destes Mundiais, ao sopro de uma libelinha que são 10 centésimos de segundo da medalha de bronze de Thomas Ceccon, a 14 da prata de Noè Ponti e a 29 do ouro de Maxime Grousset. Ao contrário do vitorioso francês, igualmente do italiano e do suíço, Diogo Ribeiro nadou tal alarvidade sem possuir a longitude de membros ou a envergadura dos adversários. Esse trio iguala ou ultrapassa os 190 centímetros em altura quando Diogo está nos 184. Mesmo sem tal a corpulência, o mais jovem desta final dos Mundiais quase, mas quase os apanhou.
À vista desarmada contra o casulo seu, perante a carapaça que um atleta aprende a endurecer, Diogo distinguiu-se, contudo, do Diogo de há quase um ano. Do adolescente que se penitenciou na capital francesa por conceder demasiada atenção aos outros, a vergastar-se perante os jornalistas, nas zonas mistas, por se atrever a olhar para o lado, para as pistas vizinhas, enquanto dava as suas braçadas e se arreliava mais com as dos outros.
Não pareceu o Diogo que enturmou as suas lágrimas com as gotas da água com cloro da piscina olímpica, choroso por os treinos, as provas, as sensações, uma pitada de tudo não lhe cair bem nos Jogos da novidade, a cada metro cúbico da água da novidade onde com maturidade para lá da idade repetiu, apesar de tudo, que estava a aprender à brava na provação de Paris.
Este Diogo Ribeiro que soprou ar fora ainda com o corpo seco e tapado não esteve para tremeliques, é verdade que a entrada na piscina roubou-lhe centímetros, talvez milímetros - as diferenças resumiram-se a essa escala -, mas, aos 20 anos, tão-só ainda um gaiato, encheu com mais água o extraordinário nadador que já é, porque Diogo é já o melhor que a natação portuguesa viu. Para se atentar à fasquia que ele próprio elevou: o seu melhor tempo nos 50 metros mariposa em Mundiais não chegou para medalhas na sua terceira participação na prova.
De vice-campeão a campeão e agora a quarto classificado, Diogo é peixe graúdo nos 50 metros mariposa, distância que daqui por um ano vai a Los Angeles para se estrear nos Jogos Olímpicos. Que Diogo chegará lá é impossível saber. Mas é seguro esperar que este Diogo Ribeiro nada, e vai nadar, para competir por vitórias e medalhas. Nos EUA e ainda em Singapura, porque o português ainda se vai molhar nos 100 metros mariposa (na sexta-feira), a sua especialidade, depois de nadar nos 50 e 100 livres (na quarta-feira).