A chinesa, nascida em 2012, ficou às portas do pódio nos 200 metros estilos e ainda vai participar nos 200m mariposa e 400m estilos, onde pode muito bem fazer história. É a mais jovem dos Mundiais e os seus tempos são 12 a 15 segundos mais rápidos que os de Summer McIntosh, a grande dominadora de provas de estilos, quando tinha a sua idade
Jornalista
“Era um verão muito quente e o meu pai levava-me a um parque aquático. Gostava da frescura da água e passava muito tempo nas diferentes piscinas para crianças. Um dia, um treinador aproximou-se e perguntou-me se eu queria nadar mais rápido.”
Esta é uma daquelas histórias que será transversal a muitos nadadores de competição. Tudo começou assim: uma ida a uma qualquer piscina, um treinador que repara em qualquer coisa. Nada tem de especial ou particularmente inspirador.
A menos que estas declarações relatem algo que aconteceu há apenas seis anos. E que quem conte a história seja uma menina de 12 anos acabadinha de fazer mínimos para estar em três provas dos Mundiais. Não de infantis ou de iniciados, de seniores mesmo.
Yu Zidi é o novo fenómeno da natação a atingir fenómenos de precocidade há muito não vistos, mesmo numa modalidade onde os atletas tendem a atingir cedo o seu pico. Nascida a 16 de outubro de 2012, em Baoding, a 150 quilómetros de Pequim, Yu é a atleta mais jovem presente nos Mundiais de Singapura, tendo vindo ao mundo dois meses depois de Katie Ledecky conquistar o seu primeiro ouro olímpico, nos Jogos de Londres - Ledecky, note-se, também está nos Mundiais e até já ganhou uma medalha.
Logo na sua primeira prova, os 200m estilos, Yu chegou à final. Ficou em 4.º, a 11 centésimas de um pódio liderado por Summer McIntosh, outro fenómeno, a canadiana que há um ano, nos Jogos Olímpicos de Paris, foi três vezes medalhada de ouro com apenas 17 anos.
Ainda em Singapura, Zidi, que até começou tarde na natação, aos seis anos, terá novas oportunidades para se tornar na nadadora mais jovem em quase 90 anos a conseguir uma medalha numa prova internacional - a dinamarquesa Inge Sorensen fê-lo acabada de completar 12 anos, nos Jogos Olímpicos de Berlim 1936 - já que está ainda inscrita para os 200 metros mariposa e 400 metros estilos. Estas últimas provas, diz, são as suas especialidades.
Foi em maio passado que o mundo aquático deu de caras com Yu Zidi e os seus fenomenais tempos. Nos campeonatos nacionais chineses, envergando uma touca com um cãozinho desenhado, a menina de Baoding fez o relógio parar aos 2:10.63 nos 200m estilos, registo que, de acordo com a World Aquatics, era o tempo mais rápido da história de um atleta de 12 anos, masculino ou feminino.
"Era", assim no passado, porque essa marca foi batida por duas vezes nestes Mundiais por Yu, nas meias-finais e final da distância. Os tempos com que chegou a Singapura nos 200m mariposa e 400m estilos seriam suficientes para ficar às portas do pódio nos últimos Jogos Olímpicos e por isso não será de todo estranho ver Yu subir ao pódio nestes Mundiais. Impossível será, daqui a três anos, ser a mais petiz de sempre a ganhar uma medalha de ouro olímpica: em Los Angeles já terá 15 anos, mais um que Kyoko Iwasaki quando a japonesa foi a mais rápida nos 200m bruços, nos Jogos de Barcelona, em 1992.
As comparações com Summer McIntosh, que aos 14 anos foi 4.ª nos Jogos de Tóquio, em 2021, e que é neste momento a grande dominadora nas provas de estilos, são inevitáveis, mas um número poderá deitar por terra, em breve, todas essas analogias: é que Yu Zidi é 15 segundos mais rápida nos 400m estilos e 12 segundos mais veloz nos 200m do que McIntosh era aos 12 anos.
Nada disto garante sucesso e a natação é tão pródiga em talentos precoces como em atletas que rapidamente desaparecem. Um dos casos é Ye Shiwen, com quem é muitas vezes comparada. A sua compatriota foi bicampeã olímpica em Londres dos 200m e 400m estilos com apenas 16 anos, mas nunca mais conseguiu repetir feitos da mesma magnitude.
Há por isso preocupações com a carga de treinos de uma atleta que, em condições normais, nem deveria sequer estar nuns Mundiais seniores. As provas da World Aquatics têm um limite mínimo de idade de 14 anos, mas há exceções para quem consegue mínimos A, algo que a chinesa atingiu amplamente.
Numa entrevista à agência estatal chinesa Xinhua, logo após os campeonatos nacionais do país, Yu assumiu já ter sentido alguns efeitos de sobrecarga. “Quase desisti da natação antes dos nacionais do ano passado porque estava exausta entre os treinos e a escola”, reconheceu, antes de sublinhar que teve a ajuda de “treinadores, colegas de equipa, amigos e pais” para ultrapassar as dúvidas. “Percebi que a natação é parte integral da minha vida e que não podia desistir”, apontou.
Os próximos dias atestarão se Yu irá ou não arrombar a porta da história.
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