O inesperado adeus de Ariarne Titmus: aos 25 anos, a estrela da natação percebeu que há coisas que a fazem mais feliz do que as piscinas
Tim Clayton
Australiana, quatro vezes campeã olímpica e recordista mundial dos 200 metros livres, fez uma pausa depois de Paris 2024, mas essa pausa vai tornar-se definitiva. Depois de lidar com um momento difícil mentalmente devido a um problema de saúde, Titmus decidiu que não quer continuar a competir, deixando as distâncias médias da natação órfãs de uma das melhores de sempre e Katie Ledecky sem uma das suas maiores adversárias
Em julho, a decisão de não ir aos Mundiais de Singapura parecia apenas estratégica: Ariarne Titmus, uma das melhores nadadoras do planeta, preferia descansar. Foi uma das poucas estrelas da modalidade a falhar a competição, mas não é algo incomum entre os desportistas que têm nos Jogos Olímpicos o início e o fim do seu propósito de vida.
A jovem australiana, bicampeã olímpica dos 400 metros livres - nas duas vezes bateu a lenda Katie Ledecky - e recordista mundial na prova dos 200 metros, disse então que queria “preparar-se o melhor possível” para Los Angeles 2028. “Para mim, é essa a prioridade, não os Mundiais nos anos anteriores. Quero tirar algum tempo para deixar que a fome de competir volte. Até lá, quero aproveitar um bocadinho a vida”, revelou então.
Mas a fome não terá voltado. Aos 25 anos, Titmus surpreendeu ao anunciar na quarta-feira o adeus às piscinas, à competição. Depois dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, onde conquistou quatro medalhas, duas delas de ouro, a atleta natural da ilha da Tasmânia, fez uma pausa, mas a pausa vai prolongar-se de forma definitiva, uma decisão inesperada numa modalidade em que os protagonistas competem cada vez até mais tarde.
“É duro, mas estou muito feliz com a decisão”, frisou numa publicação do Instagram, onde explicou que no tempo em que se afastou das piscinas percebeu que as suas prioridades haviam mudado: “Entendi que algumas partes da minha vida, que sempre foram importantes para mim, são agora um bocadinho mais importantes do que a natação”.
Quinn Rooney
O período que antecedeu os Jogos Olímpicos de Paris terá pesado para Titmus. Pouco tempo antes da cimeira parisiense, onde fez parte de uma das corridas mais extraordinárias da história da natação olímpica, uns 400 metros em que bateu Summer McIntosh e Katie Ledecky, a australiana foi operada para retirar dois tumores benignos nos ovários. Aí, deu-se o que Titmus diz ter sido um “ponto de viragem”, já que lidar com os problemas de saúde abalaram-na muito “mentalmente”.
Lutas que já não vão acontecer
Nascida numa pequena cidade do norte da Tasmânia, Ariarne Titmus mudou-se aos 14 anos com a família para Queensland, para desenvolver o seu talento nas piscinas. Treinada pelo excêntrico (mas cheio de resultados) Dean Boxall, rebentou na cena internacional nos Mundiais de 2019, onde conquistou o seu primeiro título nos 400 metros, batendo Katie Ledecky, veleidade que voltaria a cometer dois anos depois, nos Jogos Olímpicos de Tóquio de 2020, adiados para 2021 por causa da pandemia.
O adeus prematuro e inesperado da australiana, uma das caras do ressurgimento do país na modalidade, retira alguma emoção à previsível luta nas distâncias médias nos Jogos Olímpicos de Los Angeles. Aos 28 anos, Katie Ledecky parece disposta a manter-se no topo até lá, para competir em casa. E, entretanto, surgiu o fenómeno canadiano Summer McIntosh. Entre as três previam-se batalhas históricas nos 400 e 800 metros. Agora passam a ser duelos.