“Fiquei impressionado”. “Adorei vê-lo na NBA”. Dos EUA chegam elogios a Neemias, mas também o aviso: “Isto é uma maratona, não um sprint”

As expectativas de James Ham em relação a Neemias Queta podem ser traduzidas para português da seguinte forma: primeiro estranha-se, depois entranha-se.
“Inicialmente, as minhas expectativas em relação ao Neemias não eram muito elevadas. Como escolha de segunda ronda no draft da NBA, é preciso ter expectativas um pouco moderadas”, afirma o jornalista à Tribuna Expresso.
Mas não demorou muito tempo até que o insider no ESPN 1320 e fundador da newsletter e podcast ‘The Kings Beat’ mudasse de ideias. Foram apenas necessários os jogos dos torneios California Classic e da Summer League: “Fiquei impressionado”, admite Ham.
“Gosto do que ele traz para a quadra. Ele tem trabalhado para se fortalecer desde a sua chegada a Sacramento, o que realmente conta quando ele tenta recuperar a bola e jogar à defesa contra os espantosos atletas tanto a nível da NBA como da G League. É necessário um tipo diferente de força para ter sucesso nestas áreas, o que não é fácil de conseguir quando se é um atleta universitário a equilibrar a vida, escola e basquetebol”, diz.
Segundo o jornalista, a maior evolução no jogo de Queta até ao momento “tem a ver com a sua forma física”, algo que o jogador tem trabalhado todos os dias e, por isso, “já se podem ver melhorias”.
No caso de Morgan Ragan, apresentadora na NBC Sports e no podcast The Deuce & Mo, a expectativa passava por ver Neemias a jogar muito bem na G League, mas sem qualquer oportunidade na NBA, uma vez que a concorrência na equipa principal dos Kings seria grande e o jogador assinou um contrato two-way, que lhe permite dividir o seu tempo entre os Sacramento Kings e os Stockton Kings.
Mas um surto de covid-19 na NBA acabou por mudar o rumo das coisas e fazer com que a estreia do jogador na NBA fosse ainda em 2021.
“Quando metade do plantel acabou em protocolos de saúde e segurança, fiquei tão entusiasmada por ele ter uma oportunidade e adorei vê-lo ter aqueles minutos na NBA para os quais ele trabalhou”, disse Ragan à Tribuna Expresso. “O Neemy continua a crescer mesmo à frente dos nossos olhos. Ele é um grande [fisicamente] que compreende o jogo. Também joga com alegria e é tão querido fora da quadra, o que faz com que torcer por ele seja ainda mais divertido”.
Antes de também ele ser inserido nos protocolos de segurança contra a covid-19, Queta jogou 7 minutos e 44 segundos na derrota frente aos Memphis Grizzlies (105-124), e 1 minuto e 45 segundos na derrota contra os Golden State Warriors (113-98).
“Houve muito para gostar. Uma das suas primeiras oportunidades veio em transição quando voltou à defesa e bloqueou dois lançamentos seguidos. Só lhe foi dado crédito por um, mas pode ver-se que ele é realmente longo, atlético e tem um ótimo timing. No jogo em que jogou a maioria dos minutos, terminou com cinco ressaltos, incluindo três no lado ofensivo. Queta também terminou com uma assistência em ambos os jogos e mostrou a sua capacidade de passe”, afirma Ham.
O poste português saiu apenas esta sexta-feira dos protocolos de segurança e a dúvida de muitos passa agora por saber se Queta poderá, a partir daqui, jogar mais minutos na NBA. Para Ham será "difícil", uma vez que os Kings têm outros jogadores à sua frente no plantel, como Richaun Holmes, Alex Len, Tristan Thompson e Damian Jones. Ainda assim, pode haver situações em que este cenário possa mudar, como no caso de os Kings fazerem uma grande troca de jogadores que abra alguns minutos, ou caso fiquem de fora dos play-offs.
Ragan está mais esperançosa: “Espero que sim. Ele está a jogar numa equipa perdedora neste momento, no meio de uma pandemia, logo é a melhor oportunidade para ele. Além disso, jogar para o Bobby Jackson na G League só vai ajudar ao seu desenvolvimento”, diz.
Jackson, treinador dos Stockton Kings, e a G League podem mesmo ser a grande sorte do início da carreira de Queta, mesmo que muitos estejam ansiosos por vê-lo a tempo inteiro na NBA.
“A G League é um lugar perfeito para o Queta afinar o seu jogo”, considera Ham. “Existe uma forte comunicação entre os Sacramento Kings e os Stockton Kings. A equipa da NBA tem muito a dizer sobre a forma como ele se desenvolve, quantos minutos tem e o tipo de habilidades que tentam tirar dele. Quando há dias ou semanas em que a equipa da G League não está a jogar muito, os Kings levam-no para treinar com a equipa da NBA para um tipo de experiência diferente. Se Queta abraçar a experiência, isso poderá ajudá-lo a tornar-se um jogador muito bom”.
Convencidos em relação ao talento do português parecem já estar os adeptos de Sacramento e de Stockton, ambas cidades da Califórnia.
“Queta é um dos favoritos dos fãs em Stockton, com a equipa da G League”, afirma Ham.
“Não há nada como os adeptos dos Sacramento Kings. Esta base de fãs já viu de tudo e ficou sempre ao lado da equipa. Se vier para esta cidade, vestir a camisola dos Kings e trabalhar bastante, as pessoas vão adorá-lo. Pode dizer-se que o Neemy compreende isso e os fãs dos Kings já estão a responder com muito amor”, garante Ragan.
Algo a que os adeptos de Sacramento não são estranhos é a acolher jogadores estrangeiros. Além do entusiasmo com o jogador, sente-se também o entusiasmo por Portugal, que se estreia também na NBA: “Os fãs em Sacramento são muito apaixonados e estão habituados a ter jogadores nascidos no estrangeiro. Estão entusiasmados por Portugal e a torcer por Queta, para se sair bem quando tiver a sua oportunidade”, diz Ham.
Se é verdade que é impossível prever o futuro e saber exatamente que oportunidades Queta terá, não o menos é que, neste momento, está praticamente tudo nas mãos do próprio jogador: “Não vou garantir que ele se torne um jogador regular da NBA nos próximos dois anos, mas se ele se dedicar e continuar a fazer o seu trabalho, tem uma oportunidade para se tornar um jogador da NBA e talvez muito mais. É preciso ter paciência. Isto é uma maratona, não um sprint”, considera Ham.
“Ele é um jovem muito inteligente e tem um tamanho tremendo. Também tem habilidades únicas que uma equipa como os Kings pode usar, especialmente quando tiver mais experiência. Os dois jogos que jogou deram-lhe um pouco de compreensão do que ele enfrenta. Devem funcionar como um instrumento de motivação para o levar a melhorar”, conclui.
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