Os Cavaliers estão a dominar a NBA. Já pode sorrir Darius Garland, que alimentou a sua reviravolta por uma palhinha
Nick Cammett
Ainda com 20 jogos da fase regular por disputar, os Cleveland Cavaliers foram a primeira equipa a qualificar-se para os play-offs, ameaçando o título dos Boston Celtics. Uma das estrelas é Darius Garland, que na época passada partiu o maxilar e ficou impedido de comer alimentos sólidos. Recuperado o peso perdido, está a realizar uma das melhores épocas da carreira
No corrupio aeronáutico em que as equipas da NBA andam durante a época, há uma relação pouco próxima com o conceito de casa. Em ocasiões especiais, a liga norte-americana de basquetebol alarga ainda mais o périplo e exige uma travessia até outros continentes. Estávamos em janeiro de 2024 quando os Cleveland Cavaliers viajaram até Paris, onde se mostraram ao público europeu. Darius Garland, mesmo fora das opções, seguiu com a comitiva.
Na mala, o base levou uma trituradora. Embalado o utensílio, não tinha motivo para não seguir a dieta líquida com a qual se comprometeu. De qualquer modo, mesmo que quisesse pisar o risco e trincar algo mais rijo, era incapaz de o fazer. Sentado à mesa num restaurante gourmet da capital francesa, interrogou o chef sobre o que este lhe podia servir. À mesa chegou-lhe uma sopa de nuggets de frango servida em loiça catita para manter algum requinte. Garland sorveu a refeição com uma palhinha.
Quando se tem um 1,85m numa liga de gigantes, é o mesmo que dizer que se dá pelos cotovelos da maioria dos jogadores. As feições nuas estão constantemente preocupadas com possíveis ameaças. O rosto de Darius Garland incomoda-se, numa frequência quase diária, com impactos involuntários. Na época passada, no TD Garden, foi diferente. Esbarrar contra Kristaps Porzingis, a viga de 2,18m dos Boston Celtics, provocou-lhe uma fratura no maxilar. A dureza do impacto deixou-o estendido e a queixar-se da zona da boca. Toda uma época ficou condicionada.
A vulnerabilidade da cavidade oral foi retificada com uma operação na qual lhe removeram a mandíbula que sustenta o maxilar. Ultrapassado o procedimento, a recuperação foi um osso que nem conseguia roer. Darius Garland não podia lavar os dentes, falar ou comer alimentos sólidos. Mesmo que tenha regressado à competição a tempo de estar nos play-offs, perdeu quase sete quilos, regressando aos 77kg, peso que tinha quando entrou no ensino secundário.
“Não é divertido tentar pôr um sorriso falso na cara quando não consigo verdadeiramente sorrir ou falar, quando não estou feliz. Foi duro jogar assim. Voltei ao campo demasiado cedo, sem dar tempo de ficar mais pesado. Estava ansioso”, contou ao “cleveland.com” o jogador de 25 anos que na mesma época teve que lidar com a morte da avó. Com a corpulência decrépita de uma folha de papel, enfrentar megálitos de oponentes afetou-o e os Cleveland Cavaliers foram eliminados na segunda ronda dos play-offs pelos Bostons Celtics de Neemias Queta.
Maddie Meyer
Em 2022, Darius Garland foi escolhido pela primeira vez para o jogo das estrelas e os Cleveland Cavaliers emergiam como potenciais candidatos ao título. Donovan Mitchell juntou-se à causa na temporada seguinte para liderar a franchise do Ohio. Em 2023, pela primeira vez desde a saída de Lebron James, os Cavs apuraram-se para os play-offs e enfrentaram uma traumática eliminação diante dos New York Knicks.
Condicionados por problemas físicos como o de Darius Garland, os campeões de 2016 não tiveram quem acompanhasse Donovan Mitchell no passo em frente que precisava ser dado. Para 2024/25, o front office tomou a decisão de despedir o treinador, JB Bickerstaff (está agora a reerguer os Detroit Pistons) e contratou Kenny Atkinson.
Ainda com 20 jogos por disputar, os Cavs já estão apurados para os play-offs. Trata-se da melhor equipa da NBA em termos de rácio vitórias/derrotas (52-10) que se encaminha para aquilo que pode ser um dos melhores recordes de sempre: só já não podem superar os 73-9 dos Warriors em 2015/16.
“A minha alegria voltou”, foi dizendo Darius Garland nas frequentes interações com os jornalistas. A lançar com 41,9% de eficácia da linha de três pontos e com 53,2% de dois pontos – ambos máximos de carreira –, regressou ao All-Star. O momento de forma do jogador escolhido na quinta posição do Draft de 2019 é mais uma razão para os Cavs pensarem no título.
No “primeiro ano a ir ao ginásio consistentemente”, está a “jogar de uma forma mais física”. Assim o referiu no podcast “The Draymond Green Show”, onde também assumiu que o peso readquirido “ajudou muito” para que voltasse a ser um dos melhores jogadores da posição. “O Kenny Atkinson disse-me que queria que eu fosse o base All-Star que era, que conduzisse a equipa. Tive isso na minha cabeça durante o verão inteiro.”