Tribuna 12:45

Só há um caminho para a UEFA: suspender Israel das competições europeias. E a seguir, o que fará a Trumpinfantinizada FIFA?

Só há um caminho para a UEFA: suspender Israel das competições europeias. E a seguir, o que fará a Trumpinfantinizada FIFA?

Pedro Barata

Jornalista

A pressão para suspender Israel das competições de futebol tem crescido
NurPhoto

24 de fevereiro de 2022: a Rússia lança uma invasão em larga escala à Ucrânia. Horas depois, a Polónia, que deveria disputar contra a seleção russa o play-off de qualificação para o Mundial 2022, recusa-se a participar nesse jogo. A Suécia e a Chéquia defrontariam os russos caso estes batessem os polacos, mas também garantiram que não entrariam em campo.

O tempo pode afetar-nos a memória, mas convém refrescá-la. Foi, em primeira instância, por causa da recusa de outras seleções em jogar contra a Rússia que as equipas do país de Putin foram suspensas do futebol internacional. Não esteve, inicialmente, em causa qualquer ataque de consciência ou de ética e moral por parte da FIFA e da UEFA — já que falamos em recordar, vamos recordar que a Crimeia já sucedera em 2014 e, depois disso, a Gazprom continuava omnipresente nos estádios da Liga dos Campeões, a Rússia organizou o Mundial 2018 e a final da Champions 2022 foi atribuída a São Petersburgo.

É bem possível que FIFA e UEFA acabassem por tomar a inevitável decisão, mas ela deve a sua origem a uma questão de ordem prática, não de justiça. Elas foram forçadas à suspensão, não a incentivaram ou lideraram.

Final de setembro de 2025: a seleção de Israel prepara-se para disputar encontros na Noruega e em Itália. Esperam-se grandes protestos em ambos os desafios, com fortes medidas de segurança. Os nórdicos vão doar as receitas do jogo aos Médicos Sem Fronteiras, com o objetivo de as direcionar para a Palestina, os transalpinos, na sequência dos gigantescos protestos de há poucos dias, vão mobilizar uma grande quantidade de forças de segurança para Udine, isto enquanto manifestam, de forma mais ou menos aberta, embaraço e desconforto (logístico, institucional, reputacional) por ter de realizar este jogo.

A Vuelta trouxe, definitivamente, a crítica a Israel para o tabuleiro desportivo. No futebol, Bellerín, Salah ou Pogba vão usando a notoriedade que possuem para defender que não, não pode continuar tudo na mesma na modalidade.

E não pode mesmo.

Não pode pelos regulamentos da FIFA, que estipulam que “discriminação de qualquer tipo contra um país, uma pessoa ou um grupo de pessoas pela sua etnia, cor da pele, nacionalidade, género, língua, religião, opinião política [...] é estritamente proibida e punível com a suspensão ou expulsão” e, ainda, que “as federações-membro e os seus clubes não podem jogar em território de outra federação sem o consentimento desta”. Ora, estão mais do que documentados os jogos de futebol organizados pela Federação de Israel em território palestiniano ilegalmente ocupado, prática que se alarga a vários clubes; são conhecidos relatórios das Nações Unidas que mencionam o “racismo reiterado” de clubes israelitas para com jogadores palestinianos.

Não pode pelos ataques de Israel ao desporto palestiniano. O estádio Al Yarmouk, em Gaza, transformou-se num centro de detenção temporária; Suleiman Obeid, o “Pelé da Palestina”, foi recentemente morto por um ataque israelita, chegando já aos 800 os atletas que perderam a vida em ofensivas do género nos últimos dois anos.

Não pode pela decência. Talvez pedir decência a quem mexe tabuleiros e contorna regras para agradar à Arábia Saudita seja demasiado, mas não dá para ignorar. O futebol, uma das mais relevantes expressões culturais da história da humanidade, não pode fingir que não há centenas de milhares de mortos em Gaza, que não há crianças mortas diariamente, que não há ajuda humanitária bloqueada, que não há fome, jornalistas mortos, ataques a hospitais.

Numa palavra: o futebol não pode continuar a fingir que não há genocídio, como definiu a investigação encomendada pelas Nações Unidas. É, também, por isso que a ONU — consciente da importância simbólica e efetiva de uma atividade cultural que concentra atenções como poucas ou nenhuma —apelou à suspensão de Israel do futebol internacional.

Infantino, Trump e o troféu do Mundial na Sala Oval
The Washington Post

A UEFA, confederação que acolhe Israel, está sem margem de manobra. Se ignorar a questão regulamentar, tem o tema humano. Se não for sensível ao fator humano, tem o impacto reputacional, os apelos da ONU, há ainda o precedente russo. Se tudo isto não importar, tem o impacto logístico, a dificuldade — e até o perigo — cada vez maior que será organizar jogos que envolvam equipas israelitas. E a crescente hipótese de haver um clube ou seleção que se recuse a entrar em campo. Se mais nada fizer abalar consciências em Nyon, então evitar esse problema parece razão suficiente.

É por tudo isto que, como revelado inicialmente pelo britânico Times e depois noticiado também pela Associated Press, Sky News ou The Athletic, a entidade máxima do futebol europeu se aproxima da decisão de suspender as seleções e clubes israelitas das provas internacionais. Espera-se uma reunião do Comité Executivo da UEFA nos próximos dias e, segundo todos os órgãos de comunicação social de referência, naquele organismo há uma maioria a favor da saída temporária de Israel do futebol europeu.

É inevitável. O único caminho para a UEFA é seguir o exemplo russo. Sim, o desporto é só desporto, mas os boicotes desportivos foram parte da pressão internacional que isolou a África do Sul do Apartheid, por exemplo.

Suspensão efetivada, seria de aguardar pela confirmação da medida por parte da FIFA. O principal impacto seria na qualificação para o Mundial 2026, um torneio da FIFA mas cuja fase de apuramento continental é organizada pela UEFA. Mas… vai a FIFA acompanhar a decisão?

A pergunta justifica-se devido ao acelerado processo de Trumpinfantinização do organismo máximo. Esta é a FIFA de Gianni, o homem cujo queixo cai perante todo o tipo de autocratas, chamem-se Vladimir (Putin deu-lhe a “Ordem da Amizade”), Mohammad (Bin Salman conta com a FIFA para os seus planos grandiloquentes), Paul (Kagame foi classificado como“um parceiro extraordinário”) ou Donald.

Infantino visita frequentemente Trump, o que o faz chegar atrasado ao Congresso da FIFA. Prioridades. Deixa-lhe troféus na Sala Oval como se fossem brinquedos, afaga-lhe o ego, ri-se quando o presidente fala de tensões com países vizinhos como se fossem picardias entre treinadores. Dá-lhe o palco da cerimónia de atribuição do título do Mundial de Clubes, o big, beautiful troféu, entregue por Trump, que não saiu do palco, pois claro, porque Gianni o transformou numa espécie de grande padrinho do futebol. Padrinho? É mais rei, ou imperador.

O imperador já fez saber a sua posição quanto à saída de cena de Israel. “Vamos trabalhar, sem dúvida, para travar totalmente qualquer tentativa de tentar banir Israel do Mundial”, indicou o Departamento de Estado dos EUA em repetidas declarações à imprensa internacional nos últimos dias. Se Trump trata a União Europeia como um ser humano lida com uma formiga, então o conceito de “UEFA” deve ser assim como uma passageira partícula de pó na escala de importância.

Claro que, quando — a questão é quando, não se — a UEFA suspender Israel, Infantino pode simplesmente assinar por baixo e prosseguir, alinhando com Nyon, como no caso da Rússia. Mas é“absolutamente crucial ter uma relação estreita com o presidente”, o que tem equivalido a fazer-lhe as vontades, a dizer “aqui tem este seu futebol, senhor Donald, agarre nesta taça que é sua, a bola é sua, eu sou seu”. Como será agora?

O que se passou

O Benfica começou a semana com novo empate, desta vez contra o Rio Ave, mas conseguiu triunfar na receção ao Gil Vicente. Foi difícil, muito, como escreveu o Diogo Pombo. O FC Porto também suou em Salzburgo, conta-lhe o Francisco Martins, mas ganhou, tal como o Sporting no Estoril.

Pogačar, campeão do mundo de ciclismo. Qual a novidade, mesmo?

Marc Marquéz chegou aos sete títulos no Moto GP, igualando o lendário Valentino Rossi.

Vai tenso o Benfica a menos de um mês das eleições: a Assembleia-Geral foi interrompida após alguns sócios não deixarem Luís Filipe Vieira falar, as contas foram chumbadas, Rui Costa fala em sondagens manipuladas.

Ousmane Dembélé, novo Bola de Ouro.

Nuno Espírito Santo está de volta à Premier League, assinando pelo West Ham. Para Ruben Amorim, a vida continua difícil.

Zona mista

“Foi algo incrível jogar perante 82.000 pessoas. Isto é chegar a outro nível e uma oportunidade para redefinir o râguebi feminino.”

As palavras de orgulho de Zoe Aldcroft, capitã da seleção de Inglaterra, após o triunfo na final do Mundial contra o Canadá. Foram semanas de afirmação mediática para o râguebi, ainda que numa competição de contrastes, em que o último jogo opôs uma equipa profissional, que desde 2019 ganhou 73 de 75 jogos, contando com o brilho de Ellie Kildunne, a uma que teve de angariar fundos para preparar o torneio.

O que vem aí

Segunda-feira, 29 de setembro

O fecho da jornada 7 da I Liga, com o Arouca-FC Porto (20h00, Sport TV1)
Liga de futsal: Ferreira do Zêzere-Benfica (20h00, Canal 11)
Se quiser espreitar o Mundial sub-20, está todo no FIFA+. Segunda é dia de França-África do Sul (21h00) e Noruega-Nigéria (21h00)
Na Premier League, o West Ham agora de Nuno Espírito Santo visita o Everton (20h00, DAZN 1). Na La Liga, Valencia-Oviedo (20h00, DAZN 2)
🎾 Os torneios que se disputam a Oriente vão chegando à conclusão. ATP 500 de Pequim (6h00, Sport TV1) e Tóquio (8h00, Sport TV2)
🏄 EDP Ericeira Pro, a partir das 8h00 (Sport TV7)

Terça-feira, 30

Na Liga dos Campeões, o Benfica visita o Chelsea (20h00, Sport TV5). Há ainda a ida do Real Madrid a Almaty defrontar o Kairat (17h45, DAZN1), o Galatasaray-Liverpool (20h00, DAZN 1) ou o Atlético de Madrid-Eintracht Frankfurt (20h00, DAZN 2)
🎾 ATP 500 de Pequim com as meias-finais (7h00, Sport TV1) e Tóquio com a final (10h00, Sport TV2). Em Portugal, começa o Braga Open, do circuito challenger (13h00, Sport TV3)
🚴🏻‍♀️ Depois dos Mundiais, há Tour de Langkawi, na Malásia (7h50, Eurosport1) ou Cro Race, na Croácia (13h00, Eurosport 1)
🏄 EDP Ericeira Pro (8h00, Sport TV7)

Quarta-feira, 1 de outubro

O Sporting visita o palco onde Diego Armando Maradona tantas vezes foi celestial. Nápoles-Sporting (20h00, Sport TV5). Ainda Barcelona-PSG (20h00, DAZN1) ou Mónaco-City (20h00, DAZN 2)
🎾 A final de Tóquio (7h00, Sport TV1). Começa, ainda, o ATP 1.000 de Xangai (5h30, Sport TV2)
No Brasileirão, o Palmeiras de Abel Ferreira contra o Vasco da Gama de Nuno Moreira (23h00, Canal 11)
🚴🏻‍♀️ Quarta etapa do Tour de Langkawi (6h15, Eurosport 1) e etapa dois da Cro Race, na Croácia, prova que conta com Rui Oliveira (13h00, Eurosport 1)
🤾 No campeonato de andebol, Benfica-Artística de Avanca (20h30, BTV)

Quinta-feira, 2

Na Liga Europa, as equipas portuguesas defrontam campeões europeuas: FC Porto-Estrela Vermelha (20h00, Sport TV5) e Celtic-SC Braga (17h45, DAZN1)
🎾 ATP 1.000 de Xangai (5h30, Sport TV2) e Braga Open (13h00, Sport TV3)
🚴🏻‍♀️ Quinta etapa do Tour de Langkawi (6h15, Eurosport 1) e etapa três da Cro Race, na Croácia (13h00, Eurosport 1)
🏀 Euroliga: Real Madrid-Olympiacos (19h45, Sport TV3)

Sexta-feira, 3

Começa a oitava jornada da I Liga: Casa Pia-Estoril (20h15, Sport TV1)
Lá fora, Hellas Verona-Sassuolo (19h45, Sport TV2) e Paris FC-Lorient (19h45, Sport TV3)
🎾 ATP 1.000 de Xangai (5h30, Sport TV2) e Braga Open (13h00, Sport TV3)
🚴🏻‍♀️ Etapa quatro da Cro Race, na Croácia (13h00, Eurosport 1)

Sábado, 4

Dia de quatro encontros na I Liga: Gil Vicente-Estrela (15h30, Sport TV1), Nacional-Moreirense (15h30, Sport TV2), AFS-Alverca (18h00, Sport TV1) e Vitória SC-Santa Clara (20h30, Sport TV1)
No futebol internacional, destaque para o necessitado United de Amorim contra o Sunderland (15h00, DAZN 1), para o duelo Chelsea-Liverpool (17h30, DAZN 1), o Bayern em Frankfurt (17h30, DAZN 2), o escaldante Galatasaray-Besiktas (18h00, Sport TV4) ou o Real Madrid-Villarreal (20h00, DAZN 1)
🏄 Ainda o EDP Ericeira Pro (8h00, Sport TV7)
🎾 ATP 1.000 de Xangai (5h30, Sport TV6)
🚴🏻‍♀️ Sétima etapa do Tour de Langkawi (7h00, Eurosport 1) e etapa cinco da Cro Race, na Croácia (12h00, Eurosport 1). É dia de Europeus, com a prova de fundo feminina, em que alinha Raquel Queirós (14h00, Eurosport 1)

Domingo, 5

Dia de máxima importância na I Liga, com Sporting-SC Braga (19h15, Sport TV2) e FC Porto-Benfica (21h15, Sport TV1). Ainda Rio Ave-Tondela (17h30, Sport TV4) e Arouca-Famalicão (15h30, Sport TV1)
Na Premier League, Brentford-City (16h30, DAZN 1). Na Ligue 1, Lille-PSG (19h45, Sport TV3). Na Serie A, um grande Juventus-AC Milan (19h45, Sport TV4)
🚴‍♂️ Conclusão do Tour de Langkawi (8h15, Eurosport 1) e da Cro Race (12h00, Eurosport 1). Terminam os Europeus de estrada com a prova em linha masculina (14h00, Eurosport 1). Portugal é liderado por João Almeida e conta ainda com Afonso Eulálio, Rui Costa e António Morgado.
🏍️ Moto GP, GP Indonésia (8h00, Sport TV4)
🎾 ATP 1.000 de Xangai (5h30, Sport TV6)

Hoje deu-nos para isto

Afonso Eulálio não sabia o que era aquilo. Correr 267 quilómetros, pedalar quase seis horas e meia? Desconhecido.

A única vez que o ciclista da Figueira da Foz fizera mais de 230 quilómetros em competição fora há um mês, numa clássica em França. A competição decidiu-se ao sprint. Nada a ver com aquilo.

267 quilómetros para quem, tão recentemente como no ano de 2024, realizou uma época inteira sem completar uma prova de mais de 205 quilómetros. Pedalar em África, no Ruanda, para quem, também na temporada 2024, o máximo que concluiu foram quatro dias de corrida em Espanha.

Afonso Eulálio em ação no Ruanda
David Ramos

Estar com os melhores. Superar vários dos melhores.

A prova em linha dos elites masculinos foi novo show de Tadej. Houve um espetáculo a solo à frente e uma disputa renhida atrás. Evenepoel foi Evenepoel ao quadrado, muito birrento, como um adolescente sem saldo no telemóvel, no entanto extremamente talentoso, capaz de ir buscar uma prata épica. Ben Healy, o ciclista que poderia estar num bar em Auckland a cantar canções sobre quando fez uma road trip nos Estados Unidos e se apaixonou por uma escocesa, ficou com o bronze.

Pois bem, é legítimo afirmar que, fora das medalhas, o vencedor do dia foi Afonso Eulálio. Nono classificado. O quinto, Toms Skujiņš, a meros 25 segundos de distância.

Quem ficou atrás do português? Somente Thomas Pidcock, pódio da última Vuelta, Primož Roglič, dono de cinco grandes voltas, Paul Seixas, grande fenómeno gaulês, ou Jai Hindley, antigo vencedor do Giro.

Eulálio tem 23 anos. Há um ano corria na ABTF Betão-Feirense, equipa que, em teoria, pertence à terceira divisão da modalidade, mas que na prática tem recursos e dimensão de uma série D ou E do ciclismo.

Em 12 meses, Portuga exportou um homem do pelotão nacional para o World Tour, viu-o provar que tem nível para competir na primeira divisão (excelente Giro) e culmina nesta exibição. Para um ciclismo interno carregado de dúvidas existenciais, não haveria melhor injeção de confiança e crença. É possível.

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