Não é preciso puxar muito pela memória para encontrar, no presente século, campeões nacionais que escalaram ao topo do futebol português nas asas de um craque em concreto. Na Luz, em Alvalade ou no Dragão, houve épocas marcadas pelo brilho maior de uma figura: Simão Sabrosa ou Jonas no Benfica, Hulk no FC Porto, Jardel no Sporting.
Ora, a conquista do 38.º título de campeão por parte do recordista de êxitos na I Liga não se regeu por essa lógica. No Benfica de Roger Schmidt, o alemão que devolveu o sorriso ao clube quatro anos depois, houve quem, à boleia da qualidade coletiva, multiplicasse o seu rendimento, realizando a melhor temporada da carreira, mas essa subida de nível não elevou um nome claramente acima dos outros.
O Benfica, que termina o campeonato a quatro pontos do recorde do FC Porto estabelecido na época passada, foi bem mais um coro afinado, uma orquestrada dirigida com acerto, do que um conjunto com um solista claramente em destaque, um craque que carregasse as ambições coletivas.
Esta ideia é reforçada, por exemplo, pela distribuição dos golos — no campeonato, houve quatro jogadores que apontaram entre sete e 18 golos — ou pela repartição dos momentos decisivos entre vários nomes, desde os triunfos dados por Rafa contra FC Porto ou SC Braga ou aos bis que Gonçalo Ramos assinou contra Gil Vicente, Famalicão ou Sporting, havendo ainda espaço para que Chiquinho, em Barcelos, e Otamendi, contra o Estoril, garantissem vitórias que deram a volta à única fase negativa que 2022/23 trouxe aos encarnados.
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