Quinta-feira, 10 de abril de 2003.
Primeira mão das meias-finais da Taça UEFA.
FC Porto contra a Lazio.
No Estádio das Antas. Aliás, num dos últimos suspiros do nosso querido Estádio das Antas.
Tinha 16 anos, andava numa escola secundária ali perto e tinha todo o tempo do mundo para aquela equipa.
Vítor Baía, Paulo Ferreira, Jorge Costa, Ricardo Carvalho, Nuno Valente, Costinha, Maniche, Deco, Alenitchev, Derlei e Hélder Postiga.
José Mourinho.
Corria a época de 2002/2003 e eu ia a todo o lado por eles. Tive sorte, muita sorte. Pude ver um dos melhores Portos de sempre e talvez o melhor Mourinho de sempre.
Chegados ali, àquele dia 10 de abril, já sabíamos o que valíamos.
Chovia muito. Aliás, sempre que penso neste jogo, a primeira sensação que tenho é a de estar encharcada, com frio. E imensamente feliz.
O lençol na bancada dizia: “Não acordar. Deixem-nos sonhar”. Para a minha geração, aquela meia-final, com esta equipa, era a oportunidade de uma vida para sonharmos com o FC Porto europeu que começou quando nem tínhamos memória. (Não sabíamos na altura que, felizmente, iríamos ter outras.)
E chovia. Choveu sempre, choveu água, choveu granizo, choveu tudo o que havia para chover.
A Lazio marcou primeiro, Claudio López, aos 6 minutos, e as Antas engoliram em seco.
Mas aquela equipa sabia tudo. Quatro minutos depois, já Maniche chutava de longe e empatava. E o que se seguiu foi um dos maiores banhos de bola que eu já vi.
Uma intensidade incrível, a pressão sempre no máximo, a bola de pé para pé como se soubesse sempre para onde ir e um rol de oportunidades de golo contra uma Lazio que parecia cada vez mais conformada com o estatuto de humilhada.
Ricardo Carvalho já mostrava o centralão que ia ser, Derlei marcava tudo, Alenitchev alternava entre o talento e o suor. E Deco. Oh meu deus, e Deco. Deco, Deco, Deco. Enfim, Deco.
Parou aos 4-1, mas nós sentimos como se fossem 10. A equipa mostrou que valia mais, os adeptos ficaram até ao fim, à chuva, sem uma queixa sequer. E o relvado das Antas, como aguentou aquela tempestade?
A segunda mão foi uma mera formalidade, nós já víamos Sevilha lá ao fundo.
Se não foi o melhor jogo europeu do FC Porto de todos os tempos, andou lá perto.
Eu estive lá. Como estou sempre que me lembro deste jogo. Foi mítico, caramba. E a chuva até tornou tudo melhor, agora que penso (e que já não tenho a roupa molhada, já agora).
Foi lindo. Obrigada FC Porto, obrigada José Mourinho, obrigada Vítor Baía, Paulo Ferreira, Jorge Costa, Ricardo Carvalho, Nuno Valente, Costinha, Maniche, Deco, Alenitchev, Derlei, Hélder Postiga, Marco Ferreira, Tiago e Jankauskas. Obrigada Estádio das Antas. Obrigada, portistas, que este texto vos lembre como somos do melhor clube do mundo.
Resultado: FC Porto 4-1 Lazio, a 10 de abril de 2003, primeira-mão das meias-finais da Taça UEFA.
Golos: Maniche (10'), Derlei (28' e 50') e Postiga (56'); Claudio López (6')
FC Porto: Vítor Baía, Ricardo Carvalho, Jorge Costa, Ricardo Carvalho e Nuno Valente; Costinha, Deco, Maniche e Alenichev (Tiago, 67'); Hélder Postiga (Marco Ferreira, 60') e Derlei (Jankauskas, 87')
Lazio: Peruzzi; Pancaro, Mihaijlovic, Couto, Favalli (Castromán, 69'); Stankovic, César, Diego Simeone (Giannichedda, 72'); Fiore, Claudio Lopez e Chiesa (Simone Inzaghi, 57').
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