O meu jogo

Os Belenenses: o título de campeão, os quatro secos ao Benfica e a desilusão no Jamor (por Patrick Morais de Carvalho)

Patrick Morais de Carvalho, presidente do Belenenses, no Restelo

Patrick Morais de Carvalho

Presidente do Belenenses

Patrick Morais de Carvalho, presidente do CF Os Belenenses, já viu largas centenas de jogos, pelo que não conseguiu apontar apenas um: são quatro os encontros que lhe marcaram a vida, com a maioria deles a ser disputada, claro está, pelo Belenenses. A rubrica "O Meu Jogo" convida o cronista, jornalista, ex-jogador, seja o que for, a relembrar-se dos eventos desportivos que mais o marcaram, como adepto ou interveniente

Se estamos a falar de jogos ao vivo, há vários que me marcaram. Mas o jogo que mais marcou é recente:

15/6/2019 - Estádio 1º de Maio, Lisboa
Final Campeonato Distrital da 3ª Divisão da AFL
Belenenses, 3 – Bocal, 2 após prolongamento

A equipa do dia da final ainda esta na cabeça: Foles; Evandro, Alex, Serra e Jójó; Sénica, Castro e Trabulo; Varela, Santos e Viegas. Entraram também Ilmo, Alcario, Jorginho e Rivaldo.

Num Estádio 1º de Maio lotado e com um forte apoio dos sócios e adeptos do Belenenses, foram os cerca de meio milhar de adeptos do brioso e digno Bocal que começaram por fazer a festa, pois adiantaram-se no marcador logo no primeiro minuto de jogo.

Por isso, começámos o jogo praticamente a perder, mas logo chegámos ao empate, pelo goleador Santos, num lance fantástico que motivou e galvanizou a nossa equipa. Continuámos por cima mas sem conseguir marcar.

Intervalo.

Entrámos de novo intranquilos na 2ª parte e o adversário adiantou-se no marcador. O jogo aproximava-se perigosamente do fim e os nervos e a ansiedade dos adeptos do Belenenses estavam no auge. Até que a dois minutos do fim é assinalado um penálti indiscutível a nosso favor, transformado pelo Castro.

O prolongamento foi todo nosso mas a bola teimava em não entrar, foi já perto do fim que se deu uma explosão de alegria que jamais esquecerei: o jovem Alcario, de cabeça, deu-nos o título que tanto desejávamos.

Antes deste, tenho de destacar também outros jogos que marcaram a minha vida, por diferentes razões.

12/12/2004 Estádio do Restelo
Belenenses, 4 – Benfica, 1

Corria o dia do meu aniversário, no ano de 2004, quando o BELENENSES, do Imperador Marco Aurélio, do Zé Pedro, do Juninho Petrolina e do Mister Carlos Carvalhal, resolveu brindar-me, em pleno Estádio do Restelo, com um autêntico banquete de bom futebol, reduzindo o Benfica de Trapattoni a cinzas.

O ano de 2004 foi para mim um ano muito rico de grandes acontecimentos, um ano fantástico do ponto de vista pessoal e profissional, mas aquele dia de dezembro ficou-me marcado, não só por ser o meu dia de anos, mas também porque o Belenenses estreou um equipamento com camisola azul celeste e calções pretos, que ainda hoje considero o mais bonito que já vi.

FRANCISCO LEONG

Para além disso, demos quatro secos ao Benfica, o que penso já não acontecia há umas boas décadas.

Foi uma tarde memorável, que começou com um golo de classe do Antchouet e terminou com duas bombas do Zé Pedro, tudo sob a superior batuta do pequeno-grande Juninho Petrolina.

No fim deixámos um tal de Sokota fazer um golo fácil e fechámos as contas num excelente 4-1, num jogo dirigido pelo falecido Paulo Paraty.

A equipa do Belenenses que começou a final da Taça de Portugal de 2007, frente ao Sporting
CityFiles

22/5/2007 Estádio Nacional
Final da Taça de Portugal
Belenenses, 0 – Sporting, 1

Foi o primeiro jogo ao vivo em que levei o meu filho Martim, que, com a chuvada que se abateu durante o jogo, acabou por ver grande parte do encontro ao meu colo, ambos embrulhados nas faixas da Fúria Azul.

Antes do jogo estivemos no “porco assado” do Vítor Domingos e lembro-me do Martim, pequenito, passar parte da tarde a jogar futebol com os filhos do Rui Gregório. Esse foi o dia em que vi mais gente do Belenenses junta, nas matas do Jamor: para onde quer que se olhasse, apareciam cachecóis azuis.

Eram adeptos do Belenenses, aos milhares, por todo o lado.

Aquele dia tinha tudo para ser “o dia do Belenenses” e parecia que ia ser, quando logo nos primeiros minutos o Amaral “coveiro”, primeiro, e o Dady, depois, tiraram as medidas à baliza do Ricardo e deixaram os leões em sentido.

Do outro lado, o Costinha correspondia muito bem e foi quando as coisas se encontravam controladas e caminhávamos para prolongamento que o Jesus se lembrou inexplicavelmente de deixar o Amaral, o nosso lateral direito, fora do campo a receber assistência por uns bons pares de minutos que, naquele momento, pareceram horas.

Ainda com uma substituição para fazer, aqueles foram minutos a mais para estarmos com menos um e o Sporting, a dois minutos do fim, justamente pelo lado direito da nossa defesa, constrói a jogada que lhes dá a Taça de Portugal mais amarga da nossa história.

O regresso a casa foi penoso.

30/6/1991 Estádio da Luz
Portugal, 0 – Brasil, 0 – Final Mundial de Sub-20

Jogo fantástico, de sensações incríveis, onde depois de 120 minutos de jogo, 120 mil portugueses na bancada viram Portugal marcar quatro penáltis e o Brasil falhar dois. Resultado: Portugal foi Campeão do Mundo, em Portugal.

Lembro-me de ter ido ver o jogo com os meus colegas todos da faculdade e de termos ficado na rua até de madrugada, a beijar e a abraçar toda a gente que nos aparecia pela frente.

Foi na altura uma grande alegria para todos e penso, até hoje, que foi esse jogo e essa geração de jogadores e treinadores que, na senda do que já vinha de Riade, revolucionaram para sempre o futebol português, não ao nível do talento, porque esse sempre existiu por cá, mas ao nível do mix talento e mentalidade.

Era o Portugal de Carlos Queiroz, Jorge Costa, Figo, João Pinto, Peixe, Rui Costa e companhia e foram eles, depois também à boleia de um tal Cristiano Ronaldo, que lançaram o país futebolístico para os grandes feitos que se vivenciaram nas duas primeiras décadas do século XXI.

Além dos que já referi, muitos outros jogos podia destacar: no Santiago Bernabéu, no Camp Nou, no Parque dos Princípes, em Wembley... Destaco, só de cabeça, mais três, pelo ambiente que os envolveram:

19/4/2007
No Estádio do Restelo
Belenenses, 2 – Braga, 1 (após prolongamento) ½ Final da Taça 2006/07

13/2/2005
Na La Bombonera
Boca, 2 – Lanús, 2
1ª jornada Clausura

14/2/2010
No Vicente Calderón
At. Madrid, 2 – Barcelona, 1

E depois disto... Falta-me assistir a um jogo em Anfield Road.

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