Os números da qualificação histórica de Portugal: muitos golos e autoridade ofensiva inédita, mas mantendo a omnipresença de Ronaldo
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Pela primeira vez, a equipa nacional conseguiu um pleno de triunfos numa fase de apuramento para um Europeu. Recorrendo aos dados da Driblab, atestamos que Portugal marcou mais que ninguém e dominou os adversários como poucos, com protagonismo óbvio para Cristiano mas, também, para Bruno Fernandes ou Cancelo
Esqueçam as calculadoras e o sofrimento. Olvidem o play-off, necessário para estar em 2010, 2012, 2014 ou 2022, ou os sustos que a Albânia (rumo a 2016), a Suíça (no caminho para 2018) ou a Sérvia (antes de 2022) provocaram. A qualificação para o Euro 2024 colocou Portugal num cenário raramente visto. Adeus dificuldades e sustos, olá tranquilidade e apuramento obtido a três jornadas do final.
Nunca a seleção conseguira uma qualificação para um Europeu desta maneira. 10 jogos, 10 vitórias, 36 golos marcados, dois sofridos, nove balizas invioladas. Jamais lograra, também, uma dezena de partidas seguidas a vencer.
Vencer todos os compromissos da qualificação só foi conseguido, até agora, por Portugal e França (sete vitórias em sete rondas). Aliás, as equipas de Martínez e Deschamps partilham os primeiros lugares de muitos dos rankings de prestações ao longo desta caminhada rumo à competição que acontecerá, de 14 de junho a 14 de julho, na Alemanha.
Pela 13.ª fase final, seguida, Portugal estará num grande torneio e, recorrendo aos números da Driblab, empresa especializada em estatística, podemos entender a essência atacante desta equipa que chegou ao Euro pela via rápida.
Com 36 golos, a seleção é a que mais vezes festejou, à frente da França, com 27 — mais de metade deles nos 14-0 a Gibraltar —, e da Espanha, com 25. Para esta produtividade, muito contribuiu Ronaldo, que marcou em duas mãos-cheias de ocasiões, quantidade só inferior às 13 de Romelu Lukaku. E até poderia ter havido mais golos portugueses, já que, com seis remates aos ferros, só a Sérvia e a Suíça acertaram mais vezes no poste e na barra (sete) do que os homens do treinador catalão.
MIGUEL RIOPA
No capítulo ofensivo, todos os caminhos vão dar a Cristiano Ronaldo. O melhor marcador da história do futebol de seleções foi, ainda, o futebolista da fase de qualificação que mais remates fez, em média, por partida, com 5,1 por encontro, os quais contribuem para que Portugal seja a segunda equipa com mais tiros por jogo, com 19, atrás da França (21).
Além do madeirense, outro destaque óbvio é Bruno Fernandes. O craque do Manchester United, que nalguns períodos pareceu mais apagado na seleção, tem vivido os seus melhores meses na equipa nacional.
Recorrendo aos dados da Driblab, vemos que o médio foi o jogador de toda a qualificação com mais assistências (sete), o sétimo melhor marcador (seis golos), o segundo com mais passes em lances de bola corrida para a área adversária (3,3 por compromisso, superado pelos 4,6 de Shaqiri). O outro cérebro português, Bernardo Silva, marcou em três ocasiões e assistiu em quatro, a última delas no golo de Bruno que abriu caminho para o triunfo que fechou a qualificação.
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No capítulo atacante, houve também um defesa em evidência. João Cancelo marcou três golos, chegando aos 10 com a seleção.
Etiquetar o camaleónico lateral do Barcelona como mero defesa é redutor, mas a verdade é que o homem do Barreiro parte da linha recuada e, entre os ocupantes desse terço defensivo, é já o segundo que mais vezes colocou a bola nas redes adversárias da histórica centenária da seleção. À sua frente só Bruno Alves, com 11 golos.
Além de marcar, Cancelo também demonstrou a sua faceta de desequilibrador, lateral que arranca de trás para abrir buracos na organização adversária. Logrou, em média, 3,4 dribles com êxito por partidas, só atrás, em toda a qualificação, do israelita — com passaporte português — Manor Solomon (3,7) e do georgiano Khvicha Kvaratskhelia (4,2).
Mais posse, mais passes, menos golos sofridos
Na qualificação para o Europeu de 2020, disputado no verão de 2021, Portugal fez, em média, 580 passes precisos por partida (8.º valor mais elevado do apuramento), tendo a bola em 62,9% dos encontros (11.º melhor registo); rumo ao Mundial 2022, a ainda equipa de Fernando Santos teve 59,1% de média de posse e fez 464,7 passes por duelo (13.ª em ambas as listas).
Desta feita, a valorização nacional pela bola disparou. Portugal fez, segundo os dados da Driblab, em média, 614 passes precisos por encontro, registo só superado pelos 657 da Espanha. Os 68,4% de média de posse de bola só são inferiores aos 72,7% da Suíça e aos 73,1% da Espanha.
Portugal foi, ainda, a terceira equipa que fez mais passes por cada vez que teve a bola (6,9, atrás dos 7,0 de Inglaterra e dos 7,8 de Espanha) e a segunda seleção que teve a linha defensiva mais subida. Os futebolistas de Martínez estiveram, em média, a 51,7 metros da sua baliza, só atrás dos 53,2 metros de Inglaterra.
Este domínio teve impacto direto na proteção da baliza que foi divida entre Diogo Costa, titular em sete jogos, Rui Patrício, utilizado em dois, e José Sá, que se estreou frente ao Liechtenstein. Portugal só sofreu dois golos, quantidade apenas batida pela França, com um golo encaixado.
No entanto, a seleção lidera no capítulo dos encontros com a baliza inviolada, com nove jogos sem encaixar. A França não sofreu golos em seis dos sete encontros realizados.