Ainda tudo vai no adro. Duas jornadas, seis pontos para cada uma das equipas e apenas uma certeza: vai existir perda de pontos para uma ou para as duas equipas. Mas, se excetuarmos a última Liga, os clássicos e os pontos conquistados nos jogos entre os chamados grandes têm um peso importante para ser campeão.
A única razão pela qual o Sporting não é totalmente favorito é o resultado conquistado em Roma pelo Porto. E isto não invalida que um Porto derrotado em Roma não viesse a Alvalade vencer ou que este Porto não saia derrotado de modo conclusivo de Lisboa. Porque se fala de cenários e avaliações de potenciais de atletas, treinadores e culturas coletivas, o que se passa em campo durante os 90 minutos e mais alguns pozinhos é bastante volátil. E cabe ao treinador tentar mais uma vez controlar e potenciar as mais-valias e minimizar as desvantagens.
E o que esperar destes dois treinadores?
Para Jorge Jesus só existe um resultado positivo: vencer. Nem lhe interessa a exibição: é importante aproveitar o fator casa, deixar um dos adversários diretos já a três pontos, com a certeza que a vitória também deixará o Benfica a dois ou mais pontos de distância.
Jorge Jesus quer aproveitar o último jogo onde teoricamente pode contar com todos os campeões europeus, mais Slimani. E até podem ficar todos, mas, na dúvida, é jogar pelo seguro. Jorge Jesus tem uma base mais sólida, porque este Sporting pode apresentar um onze titular com muita sinergia e sintonia dos processos do ano anterior. Se o vai fazer ou não... é aí que entra a mente de Jesus. Não nos parece que seja necessário recorrer àquilo que foi sendo uma das imagens de marca do treinador português nos últimos anos: apresentar sempre uma ou mais surpresas nestes jogos.
O seu adversário ainda está num processo mais recuado de construir processos e dinâmicas mais sólidas e isto dá alguma superioridade a Jorge Jesus. Resta saber se a crença da surpresa vencerá um diagnóstico mais racional ou um diagnóstico mais favorável fará com que Jesus deixe a sua veia criativa de fora.
Até ver, o Sporting apresenta uma enorme vantagem relativamente aos outros adversários: para lá de manter a estrutura da modalidade, os jogadores essenciais da época estão lá todos. E as saídas aconteceram num contexto totalmente consensual com a estrutura diretiva do clube.
Assim, Jorge Jesus apresenta uma clara vantagem frente a um Nuno Espírito Santo inexperiente nestes jogos nacionais: uma estabilidade estrutural que apenas pode ser alterada face à exigência constante do treinador do Sporting em melhorar os desempenhos das suas equipas através das tarefas executadas. Este jogo e o resultado permitirão perceber se existiu algum amadurecimento comunicacional em Jorge Jesus e que ilação retirou do que se passou na época anterior.
E o treinador do Porto? Para Nuno, e após uma vitória por 3-0 em Roma e independentemente dos episódios que ocorreram durante o jogo, Alvalade aparece numa altura quase que bipolar: dinâmicas ainda por ganhar e com isso as lacunas naturais numa equipa que está em fase de construção, mas, por outro lado, com uma bagagem motivacional elevada.
Nuno Espírito Santo sabe que se vencer em Alvalade será idolatrado de modo quase imediato pelos adeptos do Porto face a dois resultados fantásticos. A questão pode ser esta: se puder vencer, claro que sim, mas os riscos de querer vencer podem ou não colocar mais a nu os fatores do plantel ainda por fechar e alinhar?
Tal como tinha sido referido neste espaço, Nuno tem apostado muito num discurso no plural, sempre a referenciar todas as figuras à volta do clube do Porto para junto da equipa. Mesmo em momentos que parecem mais delicados, não tem demonstrado perda do controlo do seu comportamento e comunicação. E isso é claramente um ponto positivo para o treinador português. O clássico proporcionará situações novas para o treinador em Portugal, pelo que temos de esperar para ver quais as suas respostas, ações e reações.
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