Mourinho e Guardiola, mais do que um duelo
Rui Lança explica as diferenças entre as lideranças do treinador português, que lidera o Manchester United, e do treinador espanhol, que lidera o Manchester City
O possível impacto desportivo de ter Mourinho e Guardiola ao mesmo tempo na Premier League ficou um pouco aquém na época passada no que diz respeito à luta pela competição principal. Mas este ano parece que não foge e o título deverá ficar mesmo em Manchester, faltando saber se para os reds ou citizens. A época transata reservou-nos um United mais cinzento na Liga, embora vitorioso em tudo aquilo que foram os restantes títulos em jogo, enquanto o City, apesar da consolação de ter ficado à frente do seu grande rival, não conseguiu contribuir com nenhum título para o palmarés de Guardiola, que assim viu fugir novamente Mourinho relativamente ao número de títulos que cada um possui.
Esta época permite-nos observar duas equipas mais soltas e com isto, também temos a oportunidade de assistir a dois treinadores que parecem estar mais próximo daquilo que pode ser a sua identidade. O que quer dizer, para os mais céticos, que nem todos os treinadores têm os comportamentos e assumem um perfil como previamente gostariam de ser, dado que o ambiente e o contexto competitivo que encontram os obrigam ou incentivam a ser aquilo que cada um dos treinadores considera ser o mais correto para alcançar os objetivos. E as várias investigações afirmam que quanto mais distante fica o perfil real do perfil que o contexto ‘solicita’, pior é o desempenho pessoal e a equipa acaba por ser contagiada por essa distância pouco eficiente.
Voltando a Manchester, parece ser mais consensual que o United deste ano se aproxima mais das ideias de Mourinho. Não apenas os modelos ou sistemas de jogo, mas a postura e comportamento coletivo. Uma equipa mais agressiva, com maior capacidade de estar unida em maiores distâncias, predisposta para a interajuda constante. Não deixa de ter a imagem de marca de José Mourinho ainda dos seus tempos do Porto, a coesão e a solidez do compromisso coletivo. Mas por outro lado, a rigidez dos princípios de disciplina individual e dos processos de jogo. Isso traduz-se no perfil de liderança do treinador português. Alguém que é obsessivo pela organização e pela segurança, tal como o próprio afirmou em algumas entrevistas. Pelo respeito que tem de existir com o líder, com o colega e com o todo.
Do outro lado, um catalão – pode ser mais seguro escrever espanhol? -, que é também obsessivo pela organização, mas mais arrojado e que joga mais pelo risco. Isto traduz-se num discurso também ele diferente de José Mourinho. Em que um controla mais as conferências de imprensa e outro que se deixa ir mais pela conversa. Isto também gera que Mourinho perca menos o controlo das suas emoções e das conferências, e o treinador do City que vai mais atrás das conversas e por vezes, passa-se literalmente e abandona as conversas.
Encontramo-nos provavelmente nos momentos mais próximos com os comportamentos de Mourinho dos tempos fantásticos do Porto até Milão, e do Guardiola de Barcelona. A última época de Pep em Munique mostrou-nos um treinador muito alterado, ressentido com a organização bávara, mais controlado, mais estratégico, menos transparente e muito pragmático. Quase tudo o que neste momento não assistimos nesta época em Inglaterra. Mourinho voltou a sorrir com aquilo que genuinamente o faz sorrir. Com as coisas a serem feitas à maneira dele. Como poderia dizer Zé Pedro dos Xutos, dá sempre prazer ganhar, mas se for “à minha maneira”, melhor.
Domingo, dez de dezembro (16h30, SportTV3). Uma prenda de natal antecipada. Provavelmente encontrar-se-á um United que ‘precisa’ de ganhar, mas que não pode perder com o risco de ver o City fugir ainda mais. Isto terá impacto num Mourinho mais estratégico, mas sendo mais controlador e de segurança, terá de acertar no equilíbrio certo entre o risco não natural e a segurança onde é perito.
Guardiola, mesmo considerando que o empate é um bom resultado, sentir-se-á mais perto daquilo que têm sido as suas ideias nos últimos jogos. Risco e faz com que produzindo um futebol de muita posse e muita oportunidade, esteja com alguma regularidade a vencer por um golo de diferença.
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