Obrigado, Marega. Levanto contigo os meus dedos médios
Pedro Cruz escreve uma carta a Marega. E agradece-lhe por ter destapado aquilo que "há anos e anos todos vemos mas que fazemos de conta que não acontece"
Subdiretor de informação da SIC
Pedro Cruz escreve uma carta a Marega. E agradece-lhe por ter destapado aquilo que "há anos e anos todos vemos mas que fazemos de conta que não acontece"
Já nos vieram lembrar que Marega é “emocional”.
Pois é.
Os jogadores de futebol não são cientistas nem académicos, são pessoas - repito, pessoas - que gostam e sabem jogar à bola.
Marega destapou o que há anos e anos todos vemos mas que fazemos de conta que não acontece.
Marega lembra-nos que os gestos são mais importantes que as palavras, os comunicados que se sucedem, as intenções anunciadas de “averiguações” e “punições”.
Marega recorda-nos que todos temos o direto à indignação, mesmo que ela se manifeste com o levantar dos dois dedos médios depois de 70 minutos, mais os do aquecimento, de insultos, provocações e ódio.
Marega fez qualquer coisa - e não foi uma coisa qualquer.
Marega chama a atenção para o que deve ser a sociedade e, por consequencia, o desporto: um espaço de respeito mútuo, tolerância, convivência sadia e compreensão pelas diferenças entre todos.
Numa sociedade perfeita, os outros 21 jogadores que estavam em campo deviam ter saído com Marega, para que o gesto não fosse isolado, para que o ónus não ficasse apenas num mas num coletivo de jogadores profissionais que, amanhã, podem ser vítimas do mesmo.
Vítimas da sociedade. Desta. Desequilibrada, radical, intolerante e violenta.
Na próxima jornada, todos os jogos da Primeira Liga deviam ser à porta fechada.
Todos.
E, assim, Marega não estava sozinho.
Obrigado, Marega.
Levanto contigo os meus dedos médios.
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