O analista e comentador Tomás da Cunha fala da importância da boa prospeção, que muitas vezes permite que se façam pequenos milagres com escassos recursos na hora de construir um plantel. E que serve tanto no estrangeiro como no mercado interno
Não há limites na descoberta futebolística. Só não chegamos onde não quisermos, com a oferta de jogos existente e as tecnologias ao dispor. Durante muitos anos, a criatividade dos clubes portugueses na abordagem ao mercado – também por limitações estruturais, mas não só – foi uma raridade. Além da dependência de agentes, havia uma tendência inegável para limitar possibilidades. Isso está a mudar.
Ouvimos recentemente, na primeira pessoa, Petit e Vasco Seabra – entrevistas no Canal 11 – a admitirem a importância do processo de scouting na constituição do plantel. O técnico dos insulares resumiu a questão: “Há determinadas coisas que têm de ser construídas para que não seja um ganhar aleatório. Queremos estruturar e que o Marítimo não esteja dependente daquele jogador ou treinador”, explicou. É fundamental que o treinador tenha um papel activo na organização do clube e na interligação das diferentes áreas de trabalho. Nos emblemas de pequena e média dimensão, sobretudo, o treinador que só treina não dará a contribuição necessária para que haja uma segmentação eficaz e uma evolução constante.
Isto é a teoria. Na prática, temos visto exemplos de que dá para fazer “milagres” com recursos escassos. O que está a mudar é a percepção de que o scouting não é um gasto, mas um investimento indispensável para comprar barato, obter rendimento desportivo e valorizar activos. Encontrar um processo sustentável e repeti-lo. Sabemos que grande parte dos emblemas portugueses não tem meios para segurar os jogadores que chegam e brilham. Se isso acontecer repetidamente, o sucesso do trabalho feito nos escritórios é indesmentível. Deve existir a consciência de um clube de 2022, que não está parado no tempo e que sabe renovar-se.
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