Opinião

Continuem a dar-nos a mão... porque este Portugal bem precisa!

Continuem a dar-nos a mão... porque este Portugal bem precisa!

Ana Bispo Ramires

Psicóloga de desporto e performance

Após ver a prestação da seleção feminina no Mundial e ouvir as palavras das jogadoras na partida contra os EUA, a psicóloga desportiva Ana Bispo Ramires pergunta: “Como é possível que os atletas que representam Portugal nos maiores palcos mundiais de uma das economias mais “galáticas” (a do desporto), evidenciando desempenhos de excelência e uma combatividade sem fim, terminem o seu trajeto a pedirem para que Portugal não se esqueça deles?”

Vergonha alheia, profunda tristeza e mais vergonha...

São as únicas palavras que me ocorrem depois de ouvir (novamente) uma das atletas da seleção nacional A dizer na flash interview, após o empate histórico com a seleção dos EUA (bicampeã mundial):

“... por favor não se esqueçam de nós continuem a dar-nos a mão porque este grupo é incrível...”

Continuem a dar-nos a mão???

Como é possível que os atletas que representam Portugal nos maiores palcos mundiais de uma das economias mais “galáticas” (a do desporto), evidenciando desempenhos de excelência e uma combatividade sem fim, terminem o seu trajeto quase que envergonhados dos seus resultados e a pedirem para que Portugal não se esqueça deles??

Este é um fenómeno que se repete demasiadas vezes não só no futebol feminino, mas em tantas outras modalidades olímpicas e não olímpicas cujos atletas levam o nome de Portugal sempre e cada vez mais longe.

Como é possível que PESSOAS que entregam o seu desempenho máximo e que são, para todos os que se contentam com a suficiência nos seus postos de trabalho, um enorme exemplo de coragem, sacrifício e persistência na adversidade, possam terminar as suas competições com a dúvida, sequer, de que não foram suficientes?


Como é possível assistirmos ainda a políticas desportivas de tostões quando, no país imediatamente ao nosso lado se investe quase 50 vezes mais no deporto (e isto, apenas nas modalidades olímpicas).

Como é possível assistirmos ainda a políticas de patrocínio empresarial esmagadoramente direcionadas para o sucesso instalado (aproveitando-se do mesmo, claro está) ao invés do arrojo em apostar na criação e consolidação de talento (como é o caso do futebol feminino)?

Vergonha, de facto, é o que devemos sentir ao constatar que, enquanto país, não somos “suficientes” para estes atletas.

Sabes Jéssica? Quem precisa de uma “mãozinha” é Portugal... para passar a merecer as pessoas que tão bem o representam, seja em que contexto for.

Muito orgulho no vosso trajeto!

Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: ana@anabisporamires.com